Candidatos
realizam maratonas de palestras sobre economia e trabalho
Com o nervosismo
do mercado, o dólar em alta recorde, o consumo em baixa,
e o desemprego alcançando patamares impensáveis, não
há como os candidatos à presidência relegarem
economia e mercado de trabalho para segundo plano. Por isso, promovem
uma verdadeira maratona de reuniões e palestras para acalmar
o empresariado.
Em encontro
de mais de duas horas com empresários na sede da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), candidato
do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, cobrou dos
empresários uma atitude menos passiva na política
nacional. O presidente da Federação, Horacio Lafer
Piva, chegou a afirmar que sentia "uma vibração
positiva no ar". No entanto, o petista não convenceu
seus ouvintes. Grande parte por não apresentar soluções
concretas para os problemas que tanto critica no atual governo.
Enquanto isso,
alguns dos principais empresários do país se reuniram,
em São Paulo, num jantar reservado em torno de José
Serra, candidato tucano. A reunião foi organizada para que
os empresários, preocupados com a possibilidade de vitória
de Ciro Gomes (PPS) ou de Lula (PT), dessem sugestões ao
candidato. Entre os conselhos estavam: mudança radical em
sua postura, que deverá se opor ao atual governo. Exatamente
o contrário do que está fazendo, quando, por exemplo,
participou de um almoço com Malan e de outro com FHC, numa
estratégia de "colar" sua imagem à do governo.
Já Ciro
Gomes, PPS, em discurso para cerca de 300 empresários da
construção civil, prometeu a criação
de um ministério da habitação e desenvolvimento
urbano e previu que o país passará, em 2004, por um
"colapso certo" de energia. Agradou os participantes,
mas alega-se que falta uma substancial base para a elaboração
dos projetos então apresentados.
Embora tenham
sobrado críticas para todos os lados, nada se compara à
visita do candidato Anthony Garotinho à Bolsa de Valores
de São Paulo (Bovespa). Provocando risos em muitas ocasiões,
seu discurso foi repleto de críticas ao governo, FMI e ao
Banco Central. O presidente da Bovespa, que esteve ao lado de Garotinho
durante a palestra, saiu sem comentar as declarações
do candidato do PSB, classificado como "folclórico,
cômico e sem conteúdo" por representantes de corretoras
que participaram do encontro.
Leia
mais:
- Ciro fala em mudar envio de dinheiro ao exterior
e recua
- Em jantar, PIB dá apoio a Serra, mas pede
mudanças
- Garotinho
provoca risos na Bovespa
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Ciro
fala em mudar envio de dinheiro ao exterior e recua
O candidato
do PPS à Presidência, Ciro Gomes, afirmou ontem, em
São Paulo, que, em seu eventual governo, as contas CC-5 receberão
tratamento diferenciado em relação ao que chamou de
""fluxo de financiamento regular".
""Um
governo que eu presida não vai tratar fluxo de financiamento
regular com a mesma regra que trata de [financiamento" narcotráfico,
contrabando de armas, dinheiro de superfaturamento de obra pública
roubada por político. Passa tudo pelo Banco Central. Pode
um negócio desses?", disse em palestra para entidades
ligadas à construção civil.
Mas ele se negou
a explicar sobre as alterações e depois recuou. Demonstrando
muita irritação, recusou-se a responder sobre o assunto.
""Faça a intriga que quiser. Toque fogo no país,
mas não com a minha colaboração."
Criadas em 1969,
as contas CC-5 permitem que empresas multinacionais, firmas brasileiras
e pessoas físicas com interesses no exterior transfiram dinheiro
para fora do país. São utilizadas ainda para o envio
de recursos a brasileiros que vivem no exterior. Com o tempo, acabaram
também sendo usadas para remessas ilegais.
Segundo Ciro,
o tema está sendo manipulado com o objetivo de atribuir a
ele a crise no sistema financeiro nacional. ""Vão
levantar o negócio de que estou causando a crise cambial
porque disse que não vou aceitar que narcotráfico
mande dinheiro para fora pelo Banco Central. Então elejam
outro. Democracia é bom por isso. Medo não vão
fazer. Não vão me enquadrar porque não aceito
ser enquadrado", afirmou, exaltado.
Pouco mais tarde,
tentando demonstrar tranquilidade, voltou a tratar do tema em outro
evento.
"Não
tenho nenhuma opinião sobre nada que se refira à CC-5.
A não ser no contexto da segurança pública.
E, nessa ambiência, a única hora em que eu mencionei,
foi na de que, no meu governo, entre os crimes federais, haverá
uma atenção especial com o crime financeiro, a lavagem
de dinheiro do narcotráfico e do contrabando de armas",
explicou.
"E mais
não disse. Por favor, cuidem de não espalhar boatos
porque isso arrebenta o nosso país."
O recuo no comportamento
do presidenciável demonstra sua preocupação
com declarações que desestabilizem ainda mais o mercado
e que possam ser vinculadas à sua candidatura.
De acordo com
Ciro, ao tratar das CC-5, a imprensa pode estar à serviço
da ""máquina de boatos e de intrigas" do tucano
José Serra. O tema, entretanto, foi sugerido a ele, da platéia,
por um de seus correligionários, o deputado Emerson Kapaz
(PPS).
Antes da palestra,
o presidenciável se disse ""muito preocupado"
com o dólar e, embora tenha repetido que "em nenhuma
hipótese" assinaria um novo acordo com o FMI, declarou
estar disposto a ""cooperar" para que o país
supere a atual crise.
"Sou oposição,
mas, tendo a responsabilidade que tenho, quero dizer que nós
precisamos achar uma fórmula de cooperar, todos nós,
para que o país tome controle dessa questão. Porque
uma crise cambial agora, que saia do controle, vai prejudicar e
machucar muito o povo."
Em discurso
para cerca de 300 empresários da construção
civil, prometeu a criação de um ministério
da habitação e desenvolvimento urbano e previu que
o país passará, em 2004, por um ""colapso
certo" de energia.
Também
referiu-se de modo elogioso ao tucano Tasso Jereissati, seu padrinho
político e desafeto de Serra, ao falar sobre o aumento da
renda per capita no Ceará. ""Nós a dobramos,
eu e Tasso. Dei minha modesta colaboração."
Na platéia,
a presença ainda de dois malufistas, o vereador Erasmo Dias
e o deputado estadual Wadih Helu, fundador da Arena. ""Vim
conhecê-lo e ele me impressionou bem. Vou votar nele. O Erasmo
também", disse Helu.
(Folha de
S. Paulo - 31/07/02)
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Em
jantar, PIB dá apoio a Serra, mas pede mudanças
Alguns dos principais
empresários do país se reuniram anteontem, em São
Paulo, num jantar reservado em torno de José Serra, candidato
tucano à Presidência. O encontro foi organizado por
Luiz Felipe D'Ávila, diretor-superintendente da Editora Abril,
e por sua mulher, Ana Diniz, do grupo Pão de Açúcar.
O empresário Abílio Diniz, pai de Ana e dono da empresa,
estava presente.
Entre os convidados
estavam Pedro Moreira Salles (Unibanco), Márcio Cypriano
(Bradesco), Carlos Ermírio de Moraes (Votorantim), Milú
Villela (Itaú), Ivan Zurita (Nestlé), Horacio Lafer
Piva, presidente da Fiesp, o publicitário Luiz Salles, o
ex-presidente do BNDES André Lara Resende e o ex-ministro
das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros.
A reunião
foi organizada para que os empresários, preocupados com a
possibilidade de vitória de Ciro Gomes (PPS) ou de Lula (PT),
dessem sugestões ao candidato. Foi uma reunião de
eleitores de Serra preocupados com o tom da campanha e achando que
as coisas têm que mudar, segundo definiu à Folha um
dos presentes.
D'Ávila
abriu o jantar (peito de pato, camarão, vinho Borgonha, champanhe
e, de sobremesa, sorvete de nata) afirmando que, se a eleição
se decidisse apenas pela trajetória e currículo dos
candidatos, Serra seria aclamado. "Mas não é
só isso. É preciso vender a imagem de um futuro melhor."
André
Lara Resende foi ainda mais realista. Fez duras críticas
à política econômica e responsabilizou o governo
de Fernando Henrique Cardoso pela atual crise. Conclamou Serra a
explicitar as mudanças que pretende fazer e a mostrar que
é "o mais hábil" para gerir a grave situação
do país.
Mendonça
de Barros seguiu na mesma linha, afirmando que, se Serra não
explicitar as diferenças em relação a FHC e
ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, dificilmente ganhará
as eleições.
Nas últimas
semanas, o candidato fez o contrário: participou de um almoço
com Malan e de outro com FHC, numa estratégia de "colar"
sua imagem à do governo.
"O que
eu e o André falamos é que as pessoas têm que
acordar pois a situação econômica é muito
complicada. Alertei que o PIB vai ser negativo no último
trimestre. O Malan sempre defendeu que o crescimento seria consequência
da estabilidade, mas o Brasil não cresceu nada nos últimos
anos", diz Mendonça.
"Dissemos
que o Serra tem que deixar muito claro para a população
que vai mudar a política econômica. Se não,
vai ficar numa situação muito difícil. Ele
tem que oferecer a utopia de que nós vamos retomar o crescimento."
Para o ex-ministro, "não só a era FHC acabou"
como "a lembrança dos últimos anos é muito
ruim".
Para Mendonça,
"Serra não está conseguindo passar a imagem de
que vai conseguir liderar esse processo. Em resumo, ele tem que
mostrar a alma".
Coube ao publicitário
Nelson Biondi, coordenador do marketing da campanha tucana, defender
a estratégia adotada e tentar convencer os presentes de que
a má situação de Serra nas pesquisas pode ser
revertida.
"Vocês
estão criticando a campanha antes de ela começar",
afirmou. O publicitário explicou que a campanha não
tem hoje "o controle da comunicação", pois
não há horário eleitoral gratuito, e a imagem
que aparece do candidato é a que a mídia transmite.
"E as notícias,
nos últimos meses, foram quase todas negativas", disse.
Como exemplo, ele citou o caso de Roseana Sarney, em que Serra apareceu
como suspeito de "armação" contra a pré-candidata,
e as denúncias envolvendo Ricardo Sérgio de Oliveira,
ex-tesoureiro de campanhas tucanas.
"Quando
tivemos o controle da comunicação, com o horário
do partido, em março, ele subiu. A partir de agosto, vamos
ter o controle novamente", afirmou Biondi. Ele afirmou ainda
que 46% dos eleitores ainda não definiram o voto. E que a
metade dos 54% que declaram a preferência ainda pode mudar
de candidato.
Ao falar, Serra
mostrou, com números, que a exposição de Ciro
foi quase duas vezes maior do que a dele. Disse que Ciro teve direito
a 4 mil GRPs (unidade que mede a exposição na mídia)
em 23 dias, enquanto ele teve cerca de 2 mil GRPs em três
meses. Reafirmou ainda seu compromisso com mudanças e afirmou
que elas devem ficar claras nos programas gratuitos de TV, em agosto.
(Folha S.
Paulo - 31/07/02)
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