|
Políticas
de combate fome fracassaram, aponta ONU
Uma em cada
sete pessoas no mundo não tem o que comer. Atualmente, o
número de famintos é estimado em 815 milhões.
Dessas, mais de 95% estão em países em desenvolvimento,
a maioria na Ásia e na África subsaariana. Guerras,
desastres naturais e políticas públicas insuficientes
são os maiores responsáveis pelo fracasso do combate
à fome no mundo.
Em 1996, representantes
de 186 países reunidos em Roma (Itália) declararam
que a fome, no mundo moderno, era inaceitável. No encerramento
da Cúpula Mundial sobre Alimentação, eles se
comprometeram a reduzir à metade o número de pessoas
famintas no mundo até 2015. Cinco anos e meio depois, houve
progressos - mas em nenhum lugar a meta foi atingida.
Para reduzir
o número de famintos em 50% até 2015, estima-se que
sejam necessários investimentos de US$ 180 bilhões
por ano nas áreas rurais. Para atingir essa meta, os governos
deveriam investir US$ 30 milhões a mais por ano. As razões
para se lutar contra a fome, segundo o diretor de Alimentos e Agricultura
da ONU, Charles Riemenschneider, são tanto altruístas
quanto egoístas. "A fome pode levar a guerras e à
instabilidade social . É interesse de todos bani-la do mundo",
disse.
Leia
mais:
- Cúpula
contra fome inicia com pouca esperança
Leia
também:
- Mundo fracassa contra a fome
|
|
|
Subir
|
|
Mundo
fracassa contra a fome
Um enorme fracasso.
Essa é a forma como a ONU define a luta contra a fome no
mundo hoje. Embora sejam produzidos mais alimentos que o necessário
para atender as necessidades do planeta, ao menos 800 milhões
de pessoas -mais de 1 em cada 7- passam fome ou não podem
se alimentar devidamente. Dessas, mais de 95% estão em países
em desenvolvimento, a maioria na Ásia e na África
subsaariana.
Líderes
e representantes de mais de 180 países, entre eles chefes
de Estado da América Latina, participam a partir de amanhã,
em Roma, da Cúpula Mundial da Alimentação:
Cinco Anos Depois para reiterar seu compromisso com o objetivo de
salvar cerca de 400 milhões de pessoas da fome até
o final de 2015.
Se a intenção
sair do papel, a redução anual necessária será
de 28,5 milhões de pessoas desnutridas. O problema é
que, desde a última cúpula, em 1996, só 6 milhões,
em média, deixaram de enfrentar anualmente a desnutrição;
o déficit entre a redução conseguida e a necessária
está crescendo. A manter-se o ritmo atual, serão necessários
mais de 65 anos para cumprir a meta.
"Nós
sabemos muito bem o que fazer, só falta vontade política",
disse à Folha, de Roma, Andrew MacMillan, diretor de operações
da Organização das Nações Unidas para
a Agricultura e a Alimentação, a FAO, que está
organizando o encontro (leia texto abaixo).
Jacques Diouf,
diretor-geral da FAO, convidou o mundo a formar "uma coalizão
contra a fome semelhante à antiterrorismo" que surgiu
após os ataques em Nova York e nos arredores de Washington,
em 11 de setembro. A cúpula estava programada para o início
de novembro de 2001, mas foi adiada por causa dos atentados.
"Com as
telecomunicações, transportes, internet e TV, é
inconcebível que, em algumas partes do mundo, haja pessoas
tão ricas e, em outras, pessoas morrendo de fome", disse
Diouf.
Entre os locais onde o problema é mais grave, estão
o sul da África (em seis países, quase 13 milhões
estão ameaçados pela fome no curto prazo), o Afeganistão,
o Zimbábue, a Coréia, a Cisjordânia e a faixa
de Gaza, segundo a FAO.
Há quem
defenda que a resolução final do encontro, que vai
até quinta-feira, inclua um apelo para a criação
de um código de conduta sobre o "o direito à
alimentação adequada para todos".
Para Diouf, "um código de conduta daria aos pobres e
desamparados condições de exigir responsabilidades
aos governos e outros protagonistas desses temas".
A União
Européia, o Vaticano e países em desenvolvimento endossaram
o conceito, mas os EUA ainda se opõem a ele. A medida dificultaria
a manutenção de embargos econômicos, como os
atuais contra Cuba e o Iraque.
Organizações
não-governamentais, que celebrarão um fórum
paralelo, prometem protestos contra a fome, ao qual devem se juntar
movimentos antiglobalização. Mais de 5.000 policiais
estão mobilizados para garantir a segurança dos chefes
de Estado e de governo, além de ministros, incluindo o brasileiro
Marcus Vinicius Pratini de Moraes (Agricultura), que confirmaram
presença.
Seis anos atrás,
autoridades de mais de 180 países expressaram a vontade política
e o compromisso de assumir como uma obrigação moral
e política a redução para a metade, até
2015, do número de pessoas para as quais o direito à
alimentação não é mais que uma utopia.
Resta esperar que a cúpula dê um impulso à mobilização
de recursos econômicos (a ONU pede pelo menos US$ 24 bilhões
em investimentos adicionais) e ao compromisso político fundamentais
para atingir a meta almejada.
(Folha de
S. Paulo)
|
|
|
Subir
|
|
|
|