HOME | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
 

ibge
03/08/2004
Mulheres representam 2/3 da força de trabalho nas ONGs

Nas últimas décadas, como se sabe, as mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. No Brasil, um indicador dessa tendência é o fato de que a participação delas no universo da população que trabalha ou está ocupada com alguma atividade saltou, de 1981 até hoje, de 31,1% para 43,3%, segundo o IBGE. Existe, no entanto, um segmento em que o número de mulheres supera o de homens com uma larga vantagem: o terceiro setor.

Na mais recente pesquisa da Associação Brasileira das ONGs (Abong) sobre o perfil de suas filiadas, feita há dois anos, foi constatado o predomínio feminino. Nada menos que 65,7% dos funcionários das 248 organizações pesquisadas são mulheres. Também neste universo é evidente a sua ascensão: em uma pesquisa semelhante feita em 1994, a sua participação era de 55%. Naquele ano, apesar de serem maioria nas organizações não governamentais, as mulheres eram diretoras em apenas 33% das ONGs. Atualmente, ocupam funções de direção em 48,5%.

Mas o que explica essa supremacia feminina no trabalho no terceiro setor? Dirija esta pergunta a algumas representantes de ONGs e algo é apontado consensualmente: a identificação feminina com o trabalho social. “As ONGs trabalham com assistência social, que é um papel culturalmente reservado às mulheres”, diz a psicóloga Telma Torres, coordenadora executiva da Casa de Passagem, ONG voltada à inserção social de crianças e adolescentes marginalizados de Recife. Detalhe: há apenas dez homens entre os 45 funcionários da Casa. Segundo Telma, a diferença começa nas faculdades, onde as mulheres são maioria em cursos como psicologia, serviço social e sociologia.

Para a socióloga e advogada Leila Linhares, diretora da ONG carioca Cepia (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação), de defesa de direitos das minorias, enquanto historicamente o homem vivia o mundo do trabalho e da política, cabia à mulher o universo familiar. “Nossa preocupação com a preservação das crianças nos levou a lutar por questões concretas como a falta de transporte e de escola e a vala na rua”, diz Leila, que lembra que as associações de moradores foram os primeiros canais de atuação política delas. “A predisposição feminina ao trabalho nas ONGs é uma decorrência natural dessa experiência na sociedade civil.” Fundadora do movimento feminista no Rio de Janeiro, nos anos 1980, ela se diz atraída pelo terceiro setor pela possibilidade de exercer uma “advocacia pela cidadania”.

Baixa remuneração
A resistência masculina ao trabalho no terceiro setor também pesa nas estatísticas da Abong. “Ao assumirem a figura de provedores da família, os homens voltam sua atenção para oportunidades melhores. E a maioria esmagadora das ONGs é caracterizada pela baixa remuneração”, avalia Fabiana Gorenstein, coordenadora de programa da ONG Save the Children Suécia, que atua no país há cinco anos. Opinião semelhante tem Sérgio Baierle, coordenador-geral da ONG porto-alegrense Cidade (Centro de Assessorias e Estudos Urbanos), que é um verdadeiro clube da Luluzinha: dez funcionários, sendo nove mulheres. “Tradicionalmente, os homens foram cobrados para terem retorno financeiro e os salários em ONGs são baixos”, diz Baierle.

Essa percepção é confirmada por um recente episódio no Centro de Ação Comunitária (Cedac), no Rio de Janeiro. A ONG acaba de fazer uma seleção para uma vaga de técnico em educação popular. Dos dez currículos avaliados, só havia três de homens e o aprovado foi justamente um deles, que acabou desistindo da vaga por causa do salário oferecido. “As ONGs não costumam ter uma estabilidade financeira e isso afasta os homens, mas não as mulheres”, observa Ana Lúcia Garcia, coordenadora de projetos do Cedac. Na ONG, hoje trabalham cinco homens e 14 mulheres.

Não é só o dinheiro que faz diferença para eles. “Os homens têm uma necessidade maior de visibilidade. São mais competitivos. As mulheres têm mais coragem do que eles para abrirem mão de sua carreira para abraçar uma causa que faça seus olhos brilharem”, opina Liliane Leroux, coordenadora pedagógica do Comitê de Democratização da Infomática (CDI), no Rio de Janeiro, entidade onde atuam 14 mulheres e oito homens.

Por vezes, o trabalho em ONG não é uma opção, mas necessidade. Foi a dificuldade para encontrar um emprego em empresas ou órgãos públicos que levou a socióloga Eliana Graça, de 50 anos, a atuar como assessora parlamentar na ONG Cfemea, em Brasília. “Vim premida pelo desemprego. Estou satisfeita com o que faço, mas não foi uma escolha”, diz. “Sei que isso acontece em muitos casos.”Segundo a socióloga Maria Cristina Bruschini, coordenadora do grupo de pesquisas de gênero da Fundação Carlos Chagas, em São Paulo, as mulheres têm comprovadamente mais dificuldade que os homens para se recolocarem no mercado. Além disso, estão acostumadas a receber salários menores. “O que a mulher ganha é, na média, 77% do salário masculino”, afirma a pesquisadora.

O domínio das mulheres no terceiro setor já causou até uma história inusitada ouvida por Fabiana Gorenstein. Segundo ela, certa vez uma ONG se viu obrigada a contratar um homem para preencher seu quadro formado só por mulheres. “É fazer uma ação afirmativa ao avesso. Isso só poderia mesmo acontecer numa ONG”, conclui a coordenadora de programa da Save the Children Suécia.

As informações são da Fundação Banco do Brasil.

   
 
 
 


NOTÍCIAS ANteriores
03/08/2004 Baía de Sepetiba tem projeto de despoluição
03/08/2004 MEC propõe trocar vestibular pelo exame do ensino médio
02/08/2004 Instituto vai estudar a interação entre família e saúde da criança
02/08/2004 Artistas cearenses visam a valorização da cultura regional
02/08/2004 Estudantes são 25% das vítimas de seqüestro
02/08/2004 Crescem os empregos com salários baixos
02/08/2004 "Escola não expande valores humanos"
02/08/2004 Elite ocupa até 1/4 das vagas na rede pública
30/07/2004 TCU barra novos convênios do programa federal
30/07/2004 Projeto estimula jovens a retomarem os estudos