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ação transformadora
10 /05/2005

ONG vê no jovem o principal articulador social se o instrumento é a Arte

O jovem: desenvolvimento local, cultural e humano através da arte na comunidade. O slogan do Instituto Pombas Urbanas resume o trabalho voltado para o público jovem na comunidade Cidade Tiradentes, zona sul da capital paulista. "O Lino percebeu a energia da periferia na arte, pois é um povo com uma história de vida muito tensa e um talento artístico escondido. Ele acreditava que o talento não vem do meio acadêmico e sim da vida", afirma Adriano Mauriz, integrante da organização.

Idealizado por Lino Rojas, diretor de teatro peruano, Pombas Urbanas foi criado em 1989 com um projeto de formação para adolescentes de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Diferente do ensino tradicional, o instituto elaborava um sistema auto-sustentável que valoriza o jovem como protagonista social. Ou seja, o grupo fazia apresentações em ruas, centros culturais e teatros para arrecadar dinheiro e investir em cursos e apresentações artísticas nas comunidades.

Há 15 anos, Lino capacitou jovens da comunidade de São Miguel Paulista com muita dificuldade financeira e falta de espaço para dar as aulas de teatro, já que eram poucos os que entendiam o método diferenciado do diretor peruano. No entanto, sua luta pela linguagem cênica que traz a poética do jovem contemporâneo acabou em março de 2005, pois foi assassinado após um assalto por um rapaz que, coincidentemente, era morador de São Miguel Paulista e conhecia o trabalho do grupo Pombas Urbanas. A partir deste fato, o grupo tem nove pessoas como coordenadores, sendo algumas delas oriundas das aulas de São Miguel e outras de vários locais da grande São Paulo.

Apesar da morte de Lino, os coordenadores continuam com o mesmo objetivo: continuar com o trabalho do Pombas Urbanas; consolidar o projeto "Arte em Construção", que pretende ser um centro cultural no bairro Cidade Tiradentes; e ampliar projetos culturais em cinema, fotografia e outras áreas. O que era um terreno incendiado e com riscos de demolição tornou-se um galpão asfaltado com as paredes pintadas pela arte do grafite e crianças brincando na estrutura de ferro em formato de baleia de uma peça do Pombas e o monociclo utilizado nas aulas de circo. Mas ainda sobra espaço e falta dinheiro para realizar todos os projetos idealizados pelo grupo.

O terreno foi cedido pela Companhia Metropolitana de Habitação São Paulo (Cohab São Paulo) por meio do programa "Viver Melhor", que promove a qualidade de vida dos moradores de seus conjuntos habitacionais. Desde de janeiro de 2004, o grupo impulsiona o processo artístico com crianças e jovens da comunidade por meio dos cursos de teatro (sábado e domingo) e de circo (terça e quintas-feiras) gratuitos. O público atendido também participará da gestão artística do centro cultural. Devido ao pouco recurso, as reformas no galpão ocorrem em etapas para construção de salas de aulas, área para apresentações de espetáculos, biblioteca, área de capacitação em mídia digital, espaço externo para lazer e teatro ao ar livre.

De acordo com Adriano, atualmente todos os coordenadores estão dedicados nas aulas de teatro e circo graças à ajuda do recurso do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo concedido em 2003 pelo projeto "Da Comunidade ao Teatro, do Teatro à Comunidade". "Nós temos a preocupação mais na formação orgânica e não formar atores simplesmente. Procuramos reconhecer o corpo e a voz, escrevemos texto de boa qualidade e aprendemos a fazer arte com a escola da vida. Além disso, procuramos formar multiplicadores da arte na comunidade Tiradentes, ainda mais por ser uma região que cresce a cada dia. Estamos num bairro com o maior conjunto habitacional da América Latina e presenciamos a construção de casas e mais histórias de vida", revela Adriano.

Adriano era de São Miguel Paulista e fez as aulas de Lino aos 13 anos de idade e hoje está com 29 e é um dos coordenadores do Instituto. "Isso é minha vida. Adquiri um conhecimento humano e resolvi passar o conhecimento que obtive nesses anos para outras pessoas", confessa.

Nicole de Abreu, 20 anos, faz teatro anos nos finais de semana e há um mês também participa das aulas do circo. Decidiu fazer os cursos logo quando conheceu o trabalho do grupo. Hoje está como assistente em algumas aulas e pega instrumentos (monociclo, colchões e outros). "Adoro as aulas e elas me ajudam muito na consciência corporal, já que sei mais do meu corpo e como as pessoas estão por meio da expressão corporal. A percepção de espaço e tempo me ajuda muito nas minhas aulas, como eu faço faculdade de Educação Física, a gente trabalha muito com o corpo", disse a jovem.

A jovem Jéssica Nunes, 14 anos, há um ano participa das aulas de teatro e entrou primeiro da turma das crianças e hoje está junto com os outros jovens. No começo, freqüentava as aulas para acompanhar suas amigas, mas hoje todas desistiram do curso e só ficou Jéssica. "Como faço balé, as professoras sempre incentivaram fazer teatro para desenvolver a expressão corporal. Sou também assistente dos professores nas aulas dos menores. Geralmente, cuido do som e faço a lista de presença", afirma Jéssica.

O galpão abre todos os dias e promove sessões de filmes nacionais e espetáculos teatrais de outros grupos. Já crianças e jovens aproveitam o espaço para brincarem e muitos acabam indo para as aulas de circo e teatro. Rafael Costa, 10, anos é um deles que tenta se equilibrar no monociclo e participa das aulas de teatro e circo. "Eu gosto de representar desde pequeno. Em casa, pegava as coisas e costumava ficar imitando algumas pessoas escondido porque tinha vergonha de minha mãe ver", revela.

A paixão pelo teatro foi tanta que Natali Conceição dos Santos, 18 anos, abandonou a casa de sua família para seguir o caminho do Pombas Urbanas. Ela conheceu o grupo teatral com 17 anos e participou do curso até ficar de vez. Há um ano e 3 meses faz cursos e hoje vive com outras pessoas do grupo num apartamento cedido pela Cohab. Ricardo Muniz, 28 anos, divide o apartamento com Natali e desde que conheceu o trabalho do grupo queria uma oportunidade para trabalhar com eles. De Embu das Artes foi para Cidade Tiradentes para ser uma espécie de "faz tudo" do grupo. "Conheci o trabalho deles quando fiz a maquiagem na peça Largo da Matriz e falava para Lino que quando tivesse uma oportunidade era só chamar. No começo, foi difícil sair de casa, mas minha mãe se acostumou com a idéia e já estou aqui há seis meses", conta Ricardo.

No final do ano passado até março de 2005, o instituto foi convidado para participar da pesquisa do mapeamento e diagnóstico cultural de quatro comunidades (Itaim Paulista, Curuçá, Sapopemba e Cidade Tiradentes) para ajudar no programa Fábricas de Cultura, uma iniciativa do governo do Estado de São Paulo executado pela Secretaria da Cultura em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que pretendem promover atividades culturais e artísticas para jovens e crianças entre sete a 19 anos nas regiões com altos índices de vulnerabilidade.

"Nós treinamos os jovens para fazerem a pesquisa e visitarem muitos locais. Dividimos em duas equipes de 20 pessoas, um cuidava da pesquisa enquanto o outro dedicava-se ao estudo no plano cultural. Isso impulsionou um maior conhecimento da história da comunidade, da vizinhança e os trabalhos de várias instituições. Estes jovens compreenderam melhor o papel da cultura dentro da comunidade e descobriram que existem cerca de 200 entidades ou pequenas associações que desenvolvem atividades culturais em cada bairro visitado", conta Adriano.

A partir das aulas de teatro e circo e o conhecimento de trabalhos culturais nas comunidades, alguns jovens, que costumavam conversar após as aulas de teatro, discutiam vários pontos da Cidade Tiradentes e levantaram algumas curiosidades da região. Foi assim que surgiu a idéia de escrever um fanzine. Os próprios jovens foram atrás das matérias e entrevistas. A primeira edição saiu no domingo (08/05) com matérias sobre alcoólicos anônimos, a história da Cidade de Tiradentes e as famílias que vivem nos prédios de gesso, conhecidos por não terem paredes da região.

"Cheguei lá e conversei com jovens de 12 anos. Eles me contaram várias histórias de acidente por não ter o mínimo de estrutura aquele prédio. Muitas pessoas morreram e acabavam caindo dos andares, porque esqueciam de que não tinham parede. Um jovem me falou que sua avó morreu, pois um rato mordeu o dedo de seu pé. Isso me surpreendeu, porque nem imaginava que morava muita gente nestas condições. Um menino do curso mora neste prédio e a própria habilidade com seu corpo já comprova a necessidade de percepção de espaço", conta Natalie.

SUSANA SARMIENTO
do site setor3

   
 
 
 

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