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crítica
11 /05/2004
Alencar vê "maior crise social da história"

O vice-presidente José Alencar fez ontem sua mais contundente crítica à gestão econômica e social do governo do qual faz parte.

Dizendo que o país pratica uma política fiscal "irresponsável", que só interessa ao mercado financeiro internacional, o vice reclamou não só dos juros altos, mas do superávit primário "exagerado", da reforma agrária, e avaliou a atual crise social como "talvez a maior de nossa história" e que pode se transformar em crise política.

O PL, partido de Alencar, tem patrocinado várias críticas à política econômica comandada pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda). Além dos constantes ataques do vice ao nível das taxas de juros, o presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), chegou a pedir a demissão de Palocci e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, causando indignação no Palácio do Planalto.

"A crise social que atravessamos, talvez a maior de nossa história, não nos permite uma atitude contemporizadora, sob o risco de degenerar-se e transformar-se em crise política", afirmou Alencar, que cobrou a retomada dos investimentos estatais nas áreas social e de infra-estrutura. "Não queremos o Estado nem grande nem mínimo, nós queremos o Estado necessário", disse o vice.

As declarações dele foram feitas na Câmara dos Deputados durante a abertura de um seminário nacional do seu partido para discutir projetos de desenvolvimento. Na primeira vez em que citou a questão dos juros, Alencar foi interrompido por aplausos. "Tinha prometido a mim mesmo que não falaria de juros, vejo agora que fiz muito bem em falar", afirmou, arrancando risos da platéia.

De acordo com o vice, a rendição ao mercado financeiro internacional começou na gestão FHC. "Só superaremos a profunda injustiça em que estamos mergulhados se acreditarmos em nossas próprias forças. O governo anterior nos meteu numa armadilha de política econômica alienante, transferindo ao exterior o comando sobre o nosso destino como economia e como nação", disse.

"Tudo o que se tem feito nos últimos anos tem sido no sentido de atender ao mercado financeiro internacional. Temos taxas de juros estratosféricas para atrair o capital financeiro especulativo", afirmou. E acrescentou: "Isso nos leva a uma política fiscal irresponsável na medida em que o custo da dívida pública extrapola em muito o superávit primário, não obstante os níveis exagerados deste". Esse superávit é a economia que o governo faz para o pagamento dos juros da dívida.

Para retomar os "investimentos inadiáveis", Alencar cobrou a queda dos juros básicos, hoje em 16%. "De onde virão os recursos para a retomada dos investimentos públicos? Simplesmente da queda dos juros. Pagamos, no ano passado, quase R$ 150 bilhões de juros sobre a dívida pública [R$ 145 bilhões, segundo o Banco Central]. Sobraram R$ 4 bilhões para investimentos", afirmou. "Se reduzirmos isso a um terço, ainda assim serão as mais altas taxas básicas reais do planeta", concluiu.

No programa nacional de TV do PT, que foi veiculado na semana passada, o partido deu destaque à afirmação de que a atual taxa representa o mais baixo juro real da última década no país.

"Ao contrário do que alguns propagandistas do status quo têm dito, o Estado brasileiro não está quebrado, está sim sendo depauperado pela alta taxas de juros", continuou Alencar. O Ministério da Fazenda não comentou as declarações do vice-presidente.

Reforma agrária
Ao fazer um parênteses em seu discurso, Alencar criticou também a reforma agrária do governo, afirmando que o plano "ideal", com assentamentos formados nos moldes de cooperativa e com acesso a educação, saúde, orientação tecnológica e comercial, ainda não saiu do papel.

"Essa seria a reforma agrária ideal, sem briga. O brasileiro é pacato, é ordeiro, não gosta de briga. Agora, é aquela história, nós [o governo], com toda a boa vontade que há, ainda não iniciamos um trabalho dessa natureza", disse.

A assessoria de imprensa do Ministério do Desenvolvimento Agrário afirmou que a pasta concorda com o conceito apresentado pelo vice e que isso está sendo implantado nos assentamentos.

Sobre a postura que o PL tem adotado em relação ao governo, Alencar disse: "Não somos como uma assembléia de notáveis, prévia à Revolução Francesa, convocados apenas para dizer sim".

Depois do seminário, Valdemar Costa Neto voltou a criticar a gestão econômica do governo, mas citou apenas o presidente do Banco Central. "O maior problema é o Meirelles. Como banqueiro, acho que ele não tem condições de dirigir o BC. Se o Palocci conseguir mudar o BC, daremos um grande salto", afirmou. O resultado do encontro de ontem será um manifesto a ser entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

RANIER BRAGON
da Folha de S.Paulo

   
 
 
 

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