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rio de janeiro
12/07/2004
Professores de áreas de risco terão abono de 30%

Uma reunião na noite da última quarta-feira, no Colégio Estadual Gonçalves Dias, em Benfica, entre representantes da Secretaria estadual de Educação, professores e alunos, terminou de forma tensa. Presos da Casa de Custódia de Benfica, vizinha à escola, começaram um tumulto nas celas, com gritaria, que acabou ao som de cinco tiros. De onde vieram os disparos, ninguém soube dizer ao certo. A reunião servia para discutir uma proposta inédita no currículo escolar carioca: um adicional por periculosidade, de 30%, nos salários dos professores da escola, que paralisaram as aulas há mais de um mês, por falta de segurança. O estado vai estender o abono aos professores de outras escolas da rede também situadas em áreas de risco.

A Gonçalves Dias tem 401 alunos em nove turmas do ensino supletivo, mas desde o massacre do dia 29 de maio — quando 31 pessoas morreram após 62 horas de rebelião — eles não estão assistindo às aulas, com medo de nova revolta.

"Desde o motim, toda noite é assim: os presos fazendo muito barulho, gritando e todos aqui apavorados. Não temos condições de dar aulas. É uma situação insuportável para nós e para os alunos", disse um professor, preferindo não ser identificado.

Mudança
A reunião que discutia a volta das aulas foi interrompida, como várias outras realizadas após o massacre de maio, para tratar do mesmo assunto. Os representantes do governo do estado insistiam na proposta de pagar o abono, recusada pelos professores, mas naquele dia reconheceram que a situação na escola era grave:

"Considerando a gravidade do problema, a Secretaria de Educação está solicitando à Secretaria de Administração (Sare) o pagamento de um adicional de periculosidade de 30% para todos os professores que trabalhem em escolas situadas em áreas de risco", disse o subsecretário estadual de Educação, Antonio Neves.

Embora ainda não tenha uma estimativa de quantos professores devem receber o abono, o subsecretário afirmou que todos os profissionais que, comprovadamente trabalhem em escolas em áreas de conflito de traficantes, terão direito ao adicional.

"O abono é um direito dos funcionários. Quanto à escola Gonçalves Dias, podemos garantir que todas as providências necessárias já foram tomadas para que os alunos tenham as aulas com tranqüilidade", afirmou Antonio Neves.

O Colégio Gonçalves Dias é uma espécie de nômade do ensino. Até o ano passado, funcionava à noite numa escola municipal, em São Cristóvão. Acabou despejada e foi parar em Benfica. Nos planos da Secretaria de Educação deverá voltar, em breve, para São Cristóvão — para salas que o governo pretende alugar no Instituto Cylleno, um colégio particular. A situação na Gonçalves Dias era de normalidade até a rebelião na Casa de Custódia de Benfica.

"No dia da rebelião, os policiais civis e militares ocuparam a escola, que serviu de base para as operações da Secretaria de Segurança. Eles chegaram a arrombar uma porta da escola para ter acesso ao telhado", contou um funcionário.

O professor Alex Trentino, diretor do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), que acompanhou a reunião na Gonçalves Dias, diz que os professores da unidade não são os únicos a correr risco:

"No Colégio estadual Ayrton Senna, em São Conrado, existe a mesma preocupação. A unidade funciona em frente à Favela da Rocinha e ficou paralisada vários dias durante a guerra do tráfico."

Para Marcelo Freixo, membro do Conselho da Comunidade e que tem acompanhado a situação dos presos da Casa de Custódia, a situação da Gonçalves Dias mostra a falta de estrutura do governo.

"Não é a escola que está no lugar errado. É a casa de custódia que está. As escolas têm que existir dentro das favelas, sim. Têm que ficar perto de seu público-alvo. O problema hoje é que nas favelas há insegurança dos dois lados. A polícia que não dá segurança, é corrupta e violenta. E há o próprio tráfico de drogas. E no caso específico de Benfica, representa insegurança quando deveria ser o contrário. É simplesmente um depósito de presos", disse Freixo.

A guerra travada por traficantes pela soberania em presídios e favelas da cidade tem atingido em cheio a educação. Em vários bairros há escolas fechadas em conseqüência dessa violência.

"Constatamos que, nos primeiros meses deste ano, a violência externa atingiu 219 escolas e creches públicas situadas em todas as regiões da cidade, com paralisações totais e parciais, prejudicando 121.175 alunos", informou a professora Sonia Mograbi, secretária municipal de Educação.

Apenas na última sexta-feira, de acordo com levantamento da Secretaria municipal de Educação, 5. 617 alunos não chegaram sequer a sair de casa, porque as aulas haviam sido suspensas em conseqüência da violência promovida pelo tráfico. E outros 263 alunos estavam nas escolas quando foram obrigados a sair às pressas.


As informações são do jornal O Globo.

   
 
 
 

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