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15/07/2004
Desembargador: abrigos são escolas de crimes

O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Miguel Pachá, disse que os pais que levam os filhos para visitar instituições de menores infratores, a fim de ensiná-los a não cometer crimes, estão coagindo os adolescentes. Na opinião de Pachá, ameaçar não educa. O presidente do TJ disse ainda, anteontem, que a internação não vai resolver os problemas dos menores, pois, sem acompanhamento psicológico, as instituições se transformam em escola de crimes.

" O importante seria internar para recuperar e não internar por internar, sem dar condições psicológicas ao menor e à sua família. É o mesmo que fazer uma escola de crimes. Será que essas instituições estão preparadas para recuperar esses jovens?", perguntou.

No último domingo, uma reportagem do GLOBO revelou que famílias de classe média estão levando os filhos para visitar abrigos com o objetivo de mostrar a rígida disciplina a que o menor infrator é submetido. O presidente do TJ acredita que a solução seria os pais imporem limites e ensinarem valores aos filhos. Segundo Pachá, psicólogos devem avaliar a importância desse tipo de visita.

"Os pais precisam dar atenção aos filhos. O abandono não é só de quem não tem pais. O TJ até vem tendo uma posição bastante dura nos processos que envolvem menores, mas o Superior Tribunal de Justiça tem concedido, com freqüência, hábeas-corpus nesses casos", disse.

O diretor de Tratamento do Projeto de Justiça Terapêutica, psiquiatra Jairo Werner, acredita que a prática de levar o filho para visitar instituições, assim como clínicas para dependentes químicos, não ajuda.

" Existem mecanismos de defesa do adolescente, do tipo negação e minimização, que o fazem pensar: “Comigo não vai acontecer” ou “ Isso é para pobre bandido”. Os adolescentes pensam que, no final, papai vai dar um jeitinho para ele não ficar internado", disse ele.

Para o caso de dependentes químicos, o psiquiatra sugere a Justiça Terapêutica:

"Nos casos em que existe risco real de processo e de internação, a visita a essas instituições pode contribuir para o adolescente optar por tratamento sócio-familiar e psicológico. E, no caso de ser também usuário de drogas, ele poderá optar por participar de programas voltados para esse tipo de problema".

O psiquiatra disse ainda que os pais que costumam ser tolerantes com as faltas dos filhos estão provocando o próprio mal deles:

"Às vezes, o pai só vai acordar quando a polícia bate na sua porta".

O consultor em dependência química Wanderley Belchior acha que as instituições para menores infratores não estão preparadas para tratar o menor que usa drogas.

"Quem cuida desses menores tem que fazer com que a recuperação seja atraente. Na cabeça do adolescente, o glamour das drogas é muito forte", disse Wanderley.

Na sua opinião, a metodologia das unidades do estado para menores é arcaica.

" Se o jovem gosta de escalada e rock, o tratamento tem que oferecer essas opções de lazer. É preciso motivá-lo. Essa garotada está pedindo ajuda. Não dá para atrair o jovem de classe média com um curso para fazer vassouras", afirmou o consultor.



VERA ARAÚJO
do jornal O Globo

   
 
 
 

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