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células-tronco
16/02/2004
Bancos de cordões umbilicais geram discórdia

Anunciados como promessa de cura para diversas doenças graves, os bancos privados de cordão umbilical proliferam no país ao mesmo tempo em que dividem a categoria médica. Para pais que possam pagar cerca de R$ 4 mil mais anuidade em torno de R$ 500, as empresas guardam sangue dos cordões umbilicais de recém-nascidos. Essas células imaturas (células-tronco) seriam uma fonte, com 0% de chance de rejeição, de sangue saudável para a criança que, porventura, venha a ter leucemia, por exemplo. Médicos ligados a bancos privados brasileiros afirmam que o progresso da medicina dará outras infinitas utilidades aos cordões. Pesquisador-chefe do Hospital Saint Louis, em Paris, onde foi feito o primeiro transplante usando sangue de cordão, Vanderson Rocha afirma, no entanto, que os bancos privados vendem uma ilusão.

O especialista, que é professor da Universidade de Paris e coordenador clínico do Eurocord (registro mundial público de bancos de células de cordão umbilical), explica que menos de uma em cada 20 mil pessoas pode vir a precisar de suas próprias células, ''mesmo assim, sem saber os resultados''.

"Os bancos privados aproveitam pesquisas para incentivar as mães a guardarem sangue do cordão para um uso futuro, porém existe mais interesse econômico do que científico", afirma Rocha, contando que na Europa, a legislação é rigorosa com os bancos privados. Na França são proibidos.

A única forma de combater os interesses econômicos, diz o especialista, é ''informar as mães da inutilidade, à luz dos conhecimentos atuais, de congelar o sangue de cordão para o futuro''. Para Rocha, se em alguns anos de pesquisas ficar comprovada a eficácia do uso do sangue de cordão autólogo - do próprio doente -, os governos terão que assumir a responsabilidade de oferecer às pessoas essa possibilidade terapêutica. Hoje, o serviço é feito gratuitamente no Brasil pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) só a famílias com casos conhecidos de leucemia.

O diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea (Cemo), do Inca, responsável também pela administração do único banco público de cordão umbilical do Brasil, Luiz Fernando Bouzas, defende a iniciativa de pais que usam os bancos privados. Bouzas também é consultor técnico do banco privado CordVida, em São Paulo, a 30 dias de ser inaugurado.

O diretor do Cemo afirma que o governo não teria como bancar o armazenamento de células-tronco de toda a população, senão, iria à falência. Adverte, no entanto: ''As pessoas que se preocupam com o futuro devem guardar''.

"O banco público não deve guardar o cordão de todo mundo. Não acho justo, porque levaria o país à falência. Não faz sentido fazer isso com recursos públicos", acredita.

Bouzas reconhece que é importante não fazer ''propaganda enganosa'', como dizer que as células de cordão poderão curar qualquer doença. Calcula, no entanto, que de 1% a 3% das crianças podem, no futuro, vir a precisar de suas próprias células-tronco.

Fundador da unidade de transplantes de medula óssea da Associação de Combate ao Câncer de Goiás, o hematologista Cesar Santana estranhou, em visita ao CordVida, o cargo de Bouzas no banco.

"Foi dito a mim que ele era diretor. Pelo menos é uma pessoa de gabarito, tecnicamente bem formada. Mostraram-me a sua sala. Tinha até retrato dele. Achei estranho porque Bouzas também tem cargo no Inca. Ele é um grande conhecedor do assunto, mas acho que o público não deve se misturar com o privado".

Tomando como base o Estatuto do Funcionário Público, a assessoria de comunicação do Inca informa que Bouzas não é sócio do banco, mas consultor técnico, função que não traria impedimento legal para seu cargo no Centro de Transplante de Medula Óssea, do Inca. A lei 8112 (a do Estatuto) diz que é proibido ''participar de gerência ou administração de empresa privada, sociedade civil, salvo a participação nos conselhos de administração e fiscal de empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou indiretamente, participação do capital social, sendo-lhe vedado exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário''.

Independentemente do cargo ocupado por Bouzas no CordVida, o médico Cesar Santana afirma que as indicações para o congelamento privado de células de cordão umbilical são ainda muito restritas.

"A ciência médica está evoluindo. Então, se vende muita esperança", acredita.

O banco privado Cryopraxis, com sede em São Paulo e Rio de Janeiro, aposta no ''progresso científico''. Já tem 2 mil unidades de cordão umbilical armazenadas desde 2001, quando foi inaugurado, vinculado à UFRJ. A Cryopraxis tem uma estrutura técnica que permite estocar 20 mil amostras.

As células-tronco, informa o grupo, ''possuem excepcional potencial de tratamento para várias doenças, com capacidade regenerativa e reconstrutiva. É importante lembrar que esta é a única oportunidade de realizar a coleta de um material que, normalmente, é descartado após o nascimento do bebê''.

As células-tronco presentes no cordão podem apenas ser utilizadas para doenças ligadas ao sangue: leucemias, anemias graves, algumas doenças genéticas, erros inatos do metabolismo, imunodeficiências congênicas e linfomas ou neuroblastomas. Pesquisas em andamento já conseguiram resultados positivos na transformação dessas células em neurônio, músculo cardíaco e célula hepática. O estímulo para a transformação das células, no entanto, é uma técnica ainda não dominada.




As informações são do Jornal do Brasil.

   
 
 
 

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