.
              
 
HOME | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
 

esperança
17/01/2005
Organização oferece apoio e qualificação a desempregados

Depois de um ano desempregado, Eber Evaristo Alencar, pode recuperar a esperança. Ele acaba de receber uma carta de encaminhamento do Centro de Apoio ao Trabalhador/ Centro Brasil Trabalho (CEAT/CBT), uma organização sem fins lucrativos, vinculada à Igreja Católica, cujo objetivo é resgatar a cidadania de pessoas que se encontram sem trabalho.

A carta não é sinônimo de emprego; está longe disso. É apenas um documento afirmando que o candidato cumpre os requisitos necessários para concorrer a uma vaga de empacotador de supermercado. Mas já é motivo para que o homem se encha de expectativa em retornar ao mercado de trabalho. Ele confia que aconteça como em uma das outras três ou quatro vezes em que esteve no CEAT, quando foi encaminhado para a seleção de uma vaga em uma cooperativa e conseguiu um emprego por seis meses. Aos trinta anos, Eber conta que há um ano vive de bicos. Quem sabe não é desta vez?

A mesma sorte não teve Marieta de Jesus Rosa, 62 anos. A última vez que ela conseguiu um emprego foi em 1998, como diarista. Provavelmente sejam seus cabelos brancos que dificultam a volta ao mercado de trabalho. Mas ela não desiste. Espalha currículos, consulta o jornal e, para pararem de reclamar que ela não tem o Ensino Fundamental completo, voltou a estudar. Está fazendo supletivo e pretende completar o Ensino Médio em breve. "Assim, ninguém pode mais dar a desculpa da falta de estudos".

É a primeira vez que a senhora recorre ao CEAT. Como Eber, ela tem a esperança de começar 2005 com a carteira assinada. Responde a todas as questões da atendente da organização: nome, telefone, estado civil, PIS, CPF, RG, experiência profissional comprovada na carteira, endereço, habilidades... As cartas de recomendação, comprovando a experiência como costureira, auxiliar de limpeza, copeira e diarista estão bem conservadas.

Cadastro pronto, é hora de cruzar seu perfil com as vagas disponíveis. Infelizmente, não é dessa vez. Acostumada aos "nãos", vai embora resignada. "Pelo menos agora, vocês já têm meu contato. Se aparecer uma vaga vocês me ligam, né?". "Claro!", conforta a atendente Mônica Garcia Rosas. Ela explica que um dos diferenciais do CEAT é justamente captar vagas junto a empresas e não esperar que elas cheguem ao sistema.

O CEAT/CBT trabalha com um software que cadastra o perfil dos trabalhadores e todas as vagas. Trata-se de um programa do Ministério do Trabalho, também utilizado por órgãos governamentais de apoio ao trabalhador desempregado, além de centrais sindicais. O programa cruza as informações do perfil da população cadastrada com as vagas oferecidas, encontrando as pessoas adequadas a cada posto de trabalho.

Quando a organização consegue captar vagas extras, provenientes de empresas que já conhecem seu trabalho, as oportunidades não entram no sistema. Senão, elas são imediatamente preenchidas porque o sistema é único. Nesses casos, o CEAT/CBT convoca, por telefone, as pessoas que já estão inscritas em seu sistema e preenchem os requisitos.

Mônica esclarece que, a unidade em que trabalha recebe, diariamente, entre 200 e 300 pessoas. A maioria é de homens, com escolaridade variada, mas com idade entre 30 e 42 anos. Ultimamente, o número de jovens que buscam o primeiro emprego aumentou, em função do Programa Jovem Cidadão, do governo do Estado de São Paulo.

Desemprego atinge 2,3 milhões de brasileiros
A última Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de São Paulo, divulgada em dezembro de 2004 pela da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) e referente a novembro de 2004, mostra que, na grande São Paulo, o número de desempregados estimado era de 1 milhão e 749 mil. A taxa de desemprego caiu pelo sétimo mês seguido e hoje atinge os 17,4% da população economicamente ativa (PEA). Segundo a pesquisa, o tempo médio de busca de emprego na região é de 53 semanas.

Em dezembro de 2004, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou a Pesquisa Mensal de Emprego, realizada em seis regiões metropolitanas (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). O estudo revelou que, em novembro do ano passado, estimava-se que 2,3 milhões de pessoas estivessem procurando trabalho nessas regiões. Em relação a novembro de 2003, houve uma redução de 11% nas taxas de desemprego. Isso significa que, este ano teve cerca de 289 mil trabalhadores desocupados a menos que o ano anterior.

Essa pesquisa mostrou ainda que existem cerca de 19,5 milhões de "pessoas ocupadas", isto é, trabalhando em postos de trabalho formais ou informais, também nas seis regiões. Desse número, 39,6% correspondem a empregados com carteira assinada no setor privado, 15,9% a empregados sem carteira assinada no setor privado e 20,1% a trabalhadores por conta própria. A renda média das pessoas ocupadas é de R$ 904,70.

Dos números ao ser humano
O CEAT e o CBT, conforme explica o padre Licio de Araújo Vale, são dois projetos diferentes apenas porque o primeiro fica sob a responsabilidade da arquidiocese de São Paulo e o segundo sob a diocese de Santo Amaro. Fora isso, eles têm a mesma gestão e metodologia.

A idéia do projeto começou a ser desenvolvida em 2001. O objetivo era criar um programa da sociedade civil organizada, que oferecesse atendimento integral ao trabalhador. Apesar de fazer um trabalho semelhante ao de órgãos como o Poupa Tempo ou as centrais sindicais, que ajudam o trabalhador a procurarem emprego, o CEAT/CBT tem uma preocupação social um pouco maior com a pessoa que está fragilizada, em função da perda do emprego.

O padre explica que a organização vê o desempregado "não como um número, mas uma pessoa, um ser humano, que tem que ser entendido em relação à sua família, comunidade, bairro".

Assim, o atendimento oferecido pelo CEAT/CBT é psicossocial. Quando o cadastro do desempregado é feito, são colhidas informações como número de filhos, se algum deles está em liberdade assistida (LA), se algum dos membros da família tem problemas com drogas, é alcoólatra etc. Conforme o caso, eles são encaminhados para as pastorais sociais correspondentes. Há também uma preocupação com a valorização da auto-estima do trabalhador.

A organização oferece ainda um programa de qualificação profissional, o Sala de Talentos, com cursos de auxiliar administrativo, informática e operador de telemarketing. De acordo com Marcela Porcelli, coordenadora do CEAT do Belém, a maior dificuldade para recolocar os profissionais no mercado é a falta de qualificação. Ela explica que, como as vagas são escassas, os empresários, cada vez mais, fazem maiores exigências. Para um auxiliar de limpeza, querem que ele tenha o Ensino Médio completo. O que acontece é que nem sempre eles conseguem preencher todos os postos de trabalho disponíveis. O jeito é tentar convencer o empregador de que vale a pena contratar uma pessoa que tenha Ensino Médio incompleto, por exemplo. Padre Licio concorda. Ele acha que a qualificação profissional é o principal desafio do país. E acredita que seria interessante investir no ensino técnico.

Além do Sala de Talentos, o CEAT/CBT oferece mais dois projetos: o Time do Emprego e a Oficina de Negócios, em convênio com o Sebrae. O Time do Emprego caracteriza-se por ser um grupo de 30 pessoas que se reúnem, semanalmente, durante 16 semanas. Por meio de dinâmicas, eles trabalham questões como auto-estima, elaboração de currículo, como se comportar em entrevistas e CEAT Belém de Atendimento ao Trabalhador conta que o mais interessante da experiência é que os próprios trabalhadores passam a cooperar entre si na busca por emprego. "Sempre que um trabalhador encontra uma vaga, mostra-a para os outros", diz. O resultado é que, normalmente, o curso nem chega às 16 semanas previstas, pois as pessoas são empregadas antes. Marcela afirma que o índice de recolocação das pessoas que participam do Time do Emprego no mercado de trabalho é de 80%. A Oficina de Negócios é um curso de empreendedorismo, que oferece dicas de como abrir seu próprio negócio.

Existem seis unidades do CEAT/CBT em São Paulo. De acordo com padre Licio, a opção da entidade foi trabalhar com a população mais excluída. Por isso, as unidades estão localizadas na periferia da capital paulista.

Prioridade: população excluída
Em 2005, o foco da unidade do CEAT que fica no Arsenal da Esperança (uma casa de acolhida de moradores de rua, no bairro do Belém, zona Leste de São Paulo) é o atendimento a pessoas em situação de rua. Esse trabalho deve ser estendido para as demais unidades da ONG no decorrer do ano. Padre Licio ainda explica que, em 2006, a organização deve passar a atender a população egressa do sistema penitenciário e da Febem, pois recebeu um pedido do Ministério da Justiça para trabalhar nessa perspectiva.

Atualmente, os recursos da organização vêm do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do convênio com o Sebrae (Oficina de Negócios). Em 2004, eles começaram a trabalhar também a possibilidade de captar outras fontes recursos. Anualmente, devem realizar uma feira comercial para levantar recursos, realizar outros eventos, além de procurar novos parceiros financiadores, para não ficar dependendo exclusivamente do FAT. No segundo semestre de 2005, mais duas unidades devem ser abertas, uma na zona Leste e outra no bairro de Brasilândia, na zona Noroeste.

Rita de Cássia Costa e Silva, coordenadora do CBT da Vila Mascote, conta que, em 2004, as seis unidades do CEAT/CBTO realizaram, juntas, 154.269 atendimentos. Cerca de 50 mil encaminhamentos foram feitos. Desses, 9 mil pessoas foram colocadas no mercado de trabalho (quase 20% dos encaminhados).

Grandes peripécias
José Edivaldo Alexandrino, 31 anos, foi um desses casos vitoriosos. Nascido em alguma cidade de Pernambuco (nem ele mesmo sabe com certeza qual), Val, como é chamado, teve uma vida bastante atribulada até o ano passado.

Aos cinco anos, foi dado para uma família de Recife. Com eles, permaneceu até os 15 ou 16 anos, quando resolveu fugir porque era maltratado. Para isso, trabalhou como office boy durante alguns meses. Juntou alguns trocados, comprou uma passagem e veio para São Paulo.

Ao chegar na maior cidade da América do Sul, ficou apavorado. Ainda na rodoviária, notou que aquele não era seu lugar e resolveu tomar um ônibus para alguma cidade do interior. Aconselhado por um desconhecido, foi para São José dos Campos, no interior do Estado. Lá, conseguiu um bico e ficou trabalhando durante um ano.

De lá para cá, não sossegou. Viajou o Brasil inteiro. Teve várias ocupações... O primeiro registro na carteira foi como operador de usina de concreto, em São José dos Campos. Depois, tornou-se vendedor de roupas em uma loja de departamentos.

Viajou atrás de uma namorada em Jacareí. Foi atendente de uma casa de massas em um shopping de luxo, vendedor de cachorro quente e dono de carrinho de cachorro-quente, na cidade de Porto Alegre. Eletricista, em Santos. Trabalhador em uma fábrica de borracha em Mateus Leme, cidade próxima de Belo Horizonte. Voltou para Porto Alegre; trabalhou como eletricista. Em seguida, virou separador de peças em São José dos Pinhais, no Paraná...

Bastante inquieto, José Edivaldo voltou para Campinas, onde ficou sabendo do Arsenal da Esperança. Era hora de ele sossegar. Como a entidade acolhia pessoas em situação de rua, resolveu enfrentar a cidade que, anos antes, o tinha assustado. O dinheiro da passagem ele conseguiu trabalhando em alguns dias, desmontando um parque de diversões. Trinta reais no bolso era tudo o que tinha para comprar o bilhete e começar a vida em São Paulo.

Val deu entrada no Arsenal da Esperança no dia 19 de abril de 2004. Conta que foi bem-recebido e logo procurou arrumar um emprego fixo. "Eu nunca tinha assentado raízes. Precisava sossegar", conta. Começou fazendo uns bicos, entregando folhetos na avenida Paulista. Em seguida, trabalhou alguns meses em empresa de financiamento.

Então, resolveu fazer seu cadastro no CEAT. "Era dentro do Arsenal. Por que não?". Ele lembra que numa segunda-feira fez a inscrição e não conseguiu emprego. Voltou na sexta seguinte. Não queriam que ele entrasse de novo, pois fazia pouco tempo que ele tinha ido. Mas acabou convencendo o responsável.

Foi nesse dia que a sorte chegou. A atendente procurou uma vaga no sistema e lá havia um posto para auxiliar de produção. A exigência, "até trinta anos", quase o desanimou. Ele havia acabado de completar 31. Mas o CEAT cumpriu seu papel de negociação junto ao empregador e perguntou se não poderia enviar alguém que tivesse acabado de fazer 31. A empresa aceitou e José Edivaldo se arrumou para a entrevista. Entre outros convocados, José Edivaldo foi o selecionado. Passou a operar uma máquina computadorizada, que produzia peças para aviões.

O novo funcionário se deu tão bem, que acabou sendo contratado pela empresa. Vendo sua dedicação, o empregador resolveu investir em seu potencial. Atualmente de férias coletivas, ele diz que, no dia 22 de janeiro, vai fazer um curso em Santa Bárbara do Oeste. E no dia 2 de fevereiro, começa um outro curso de fresador ferramenteiro no Senai.

Na véspera de Natal, mais uma nova surpresa: ele saiu do albergue e está conseguindo alugar um quarto. Para 2005, ele pretende encontrar uma mulher que o ame, casar e constituir família. Também quer guardar dinheiro para, aos poucos, comprar uma casinha. Além disso, quer continuar atuando como voluntário no Arsenal da Esperança. "É uma forma que eu tenho de ajudar quem me ajudou", conclui.


As informações são do site setor3.

   
 
 
 

NOTÍCIAS ANteriores
14/01/2005 Lula sanciona Prouni e diz que pobre incomoda quando consegue algo
14/01/2005
Governo do RJ impõe dieta light em escolas
14/01/2005
Teatro chama atenção de mulheres que sofrem violência
14/01/2005
Turma da Mônica tenta explicar o ECA em gibi
14/01/2005
Energia solar gera emprego e renda em áreas rurais
14/01/2005
Projetos mantêm jovens longe da criminalidade
13/01/2005
Fórum Social Mundial pode ter várias sedes em 2006
13/01/2005
ProUni divulga áreas das vagas restantes
13/01/2005
Projeto Sala Verde reunirá informações ambientais
13/01/2005
Projeto ensina a prevenir uso de drogas nas escolas