Presídios
geram empregos no interior
Cristina
Mori
Equipe GD
A reformulação
do sistema carcerário do Estado de São Paulo tem sido
comemorada em pequenas cidades do interior. Desde 1998, o suposto
risco tem trazido uma boa recompensa: empregos.
Como as unidades
são pequenas - abrigam cerca de 100 presos cada uma -, a
cidade ganha, em média, 35 novos postos de trabalho com o
presídio. Indiretamente, porém, criam-se mais empregos,
em serviços terceirizados e em negócios que atendem
ao fluxo de visitantes dos presos: pensões, comércio
e transporte.
Não por
acaso, o secretário de Administração Penitenciária,
Nagashi Furukawa, recebe todos os dias um ou dois prefeitos com
propostas para abrigar futuros presídios.
Sem tanta magnitude,
unidades da Febem (Fundação Estadual para o Bem-Estar
do Menor) também vão ganhando melhor aceitação.
Para atender
ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), estão
sendo construídos centros menores, com capacidade para 70
internos. Cada um gera, em média, 25 postos de trabalho.
O local de construção
é definido de acordo com a demanda de cada região,
para que os menores não fiquem longe de suas famílias.
A instituição tem escolhido cidades de médio
a grande porte, como Marília, Araçatuba, São
Vicente, Bauru e Araraquara, onde novas unidades serão entregues
até o final deste semestre. Mais 10 unidades estão
em processo de licitação.
A assessoria
de imprensa da Febem afirma que a instituição iniciou,
há um ano e meio, um trabalho para melhorar a aceitação
de unidades. Desde então, um prefeito, que não quer
ter seu nome divulgado, já ofereceu seu município.
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Presídio
gera emprego, dizem prefeitos
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Presídio
gera emprego, dizem prefeitos
Pequenas cidades
do interior, pressionadas pela falta de empregos, estão festejando
a possível instalação de presídios como
se fossem shopping centers.
Em Valparaíso,
cidade com 18,8 mil habitantes, localizada a 560 quilômetros
de São Paulo, a prefeita reeleita, Maria de Lurdes Marques
de Melo (PSDB), quer o presídio porque, segundo ela, uma
instituição desse tipo cria 400 empregos e estimula
a economia da cidade.
Seus cálculos
indicam que a arrecadação, de R$ 10 milhões
por ano, terá um acréscimo de R$ 8 milhões
com o presídio.
A arrecadação
cresceria com o movimento do comércio proporcionado pelos
visitantes e, principalmente, com aumento de repasses do Fundo de
Participação dos Municípios, proporcional ao
número de habitantes da cidade.
A população,
sem alternativa de emprego -o trabalho de que dispõe é
temporário, na lavoura de cana de açúcar-,
aceita com esperança de uma vida melhor, apesar do perfil
do que poderá vir a ser a "nova vizinhança".
Em Avanhandava,
8.500 habitantes, distante 475 quilômetros de São Paulo,
uma área já está pronta para receber um presídio.
Valter Teixeira Martins, assessor direto do prefeito Antônio
Calixto Portella (PDT), calcula que a instituição
criará 450 empregos diretos e indiretos.
A prefeitura
anuncia a colocação de uma linha de ônibus de
graça para os visitantes dos presos (a área reservada
fica a 12 quilômetros do centro) e a criação
de uma espécie de shopping center na entrada do presídio,
com 20 boxes de serviços.
"Somando
todo o movimento que se cria ao redor do presídio, como cartório,
fórum etc, são cerca de 900 novos empregos",
diz Martins.
O argumento
não convence o prefeito de Pacaembu, Salvador Campos (PMDB).
Ele acha que é um crescimento ilusório e que o maior
número de empregos dura o tempo da construção.
Como prefeito
que pegou o processo em andamento, porém, Campos já
reservou uma área para atender ao plano do governo.
Pacaembu tem
6.000 eleitores, 12,4 mil habitantes e um orçamento anual
de R$ 5 milhões. Já mantém um presídio
de regime fechado que abriga 700 presos. Mais 700 representariam
mais de 5% da população local. "A cidade é
tão pequena que os cachorros são conhecidos de todos",
diz o prefeito.
Pacaembu é
carente de empregos e localizada num verdadeiro corredor de presídios,
o oeste do Estado de São Paulo, região que no passado
vivia do café.
Ele calcula
que, se Pacaembu efetivamente estiver na lista do secretário
Nagashi Furukawa (Administração Penitenciária),
como acredita, a cidade ganhará 150 empregos.
Para José
de Melo Araújo (PSD), prefeito de Iaras -4.000 habitantes,
situada a 282 km da capital-, um presídio já é
muito. "Dois é demais e três é inaceitável",
diz. Iaras já tem um presídio de segurança
máxima com 450 presos.
Os donos das
pensões da cidade gostam. Aos sábados e domingos hospedam
os visitantes dos presos, gente graúda no mundo dos assaltos,
nenhum deles, porém, infrator dos artigos 213 e 214 do código
penal, que tratam, respectivamente, de estupros e crimes de atentado
ao pudor.
Esses foram
despejados na penitenciária de Itaí, cidade de 20
mil habitantes, distante cerca de 90 quilômetros de Iaras,
que só recebe "213 e 214" -criminosos que correriam
risco de morte se fossem colocados com condenados por outros crimes.
(Folha de S.Paulo)
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