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Masculino/feminino

O jogo de androginia entra em cena mais uma vez; para a Gucci, o estilista Tom Ford propõe nova silhueta com proporções e volumes dos anos 80


DA ENVIADA ESPECIAL A MILÃO

Reuters
A modelo brasileira Caroline Ribeiro

O perfume dos anos 80 já se fazia sentir na moda havia duas estações, isso é verdade. Mas há um elemento absolutamente novo, algo que pode ser associado especificamente a esta temporada de primavera-verão 2001: o retorno triunfal da androginia da década de 80, do jogo do masculino/feminino com que sobreviveram por tanto tempo muitos estilistas da época. Dentro dessa tendência, nenhum desfile foi mais emblemático que o da Gucci, em Milão, na semana de 28 de setembro a 6 de outubro. A apresentação serviu não só como prenúncio do que o estilista da marca, Tom Ford, faria duas semanas depois em Paris com a maison Yves Saint Laurent (leia à pág. Especial 16), mas se prestou também a propor uma nova silhueta e uma outra maneira de ver a figura feminina neste início de século. Se deu certo ou não, isso já são outros quinhentos.

A mídia internacional caiu de pau. Disseram que a imagem de Gucci é feia, que a grife sofre de crise de identidade. E até o próprio Ford foi acusado de misoginia _justamente ele, um amante da beleza e das formas femininas, até então tratadas com volúpia e sexualização_ pela casa italiana. O estilista se disse cansado da maneira linear com que a silhueta estava sendo tratada e quis propor um novo trabalho de volumes (sempre lembrando que, nesta estação, volumes, proporções e silhuetas viraram verdadeiros objetos de credo).

O que a Gucci propõe agora se baseia em alguns pontos principais. Um deles é a apropriação dos tamanhos exagerados de capas, casacas e calças cargo dos 80 (cetim azul cobalto, verde-oliva, pink, em preto ou em branco). Ainda que Ford tenha negado a influência explícita dos 80, quem se esforçou pôde ver uma sugestão do que seria um look militar de Grace Jones, com seus bustiês de couro, trench-coats misteriosos e óculos futuristas (outros, jocosamente, viram as calças de outro ícone daquela década, MC Hammer).

Feminilidade importada
Como síntese dessa imagem, a nova modelo espanhola sensação da temporada, Eleonora _tatuada, grandona, de cabelo curtíssimo raspado na nuca e com topete para o lado. Uma nova tendência apareceu: o butch-chic, algo que poderia ser traduzido rudemente como “sapata-chic”.

Do lado oposto, Ford encheu sua passarela de vestidos-corselet em seus forros e barbatanas, ou mesmo macaquinhos tipo underwear, cor de pele ou preto. Uma feminilidade importada não dos melhores momentos da Gucci, mas de um passado que a memória dos fashionistas sussurrou: Dolce & Gabbana, Gaultier, Mugler, Montana...
Ford sugere um tipo de top/sutiã aparente que desenha um novo busto, que nada tem a ver com o momento ou mesmo com as consumidoras Gucci. Tudo bem que muitas vezes é missão do estilista criar não para os desejos do agora, mas sugerir imagens para o futuro (leia sobre a Prada à pág. Especial 11). Estariam as clientes prontas para isso?

Numa entrevista coletiva, Ford se dizia cansado do retrô, e essa nova androginia pode traduzir seu atual momento. Ao final, vestidos sobrepostos como segunda pele sintetizavam a coleção, principalmente quando vistos no corpo de outro ícone da moda, a modelo Kate Moss.

David Bowie
Também em Milão, como contraponto, Alber Elbaz, ex-estilista da linha Rive Gauche, de Yves Saint Laurent, obteve efeito superior em termos de hype. Demitido em fevereiro, ele cria agora para a nova marca Krizia Top, 30% mais cara e exclusiva que a grife principal, a Krizia. Mestre das proporções e do preto-e-branco, Elbaz agradou muito e deu, a seu modo, o que se pode chamar de tapa de luva de pelica.

Na mesma tendência da androginia, o herói fashion David Bowie é a próxima inspiração, em marcas como a Lanvin da espanhola Cristina Ortiz, que desfilou ótimos terninhos brancos, pink e azuis com pantalona, bem rock star, na modelo Kirsten Owen, e nos mesmos looks em pink de Ungaro. Ambas as marcas tinham Bowie também na trilha sonora. Pode funcionar como uma pista.(ERIKA PALOMINO)


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