Gladiadoras urbanas
Passarelas
internacionais para a primavera-verão 2001 apontam o caminho em direção
a uma mulher forte e poderosa; NY dá a partida
ERIKA
PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL
A NOVA YORK
Reuters
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Mini
Anden com vestido de tiras de couro trançadas do desfile
do austríaco Helmut Lang |
A
temporada de lançamentos para a primavera-verão 2001 do
hemisfério norte aconteceu de 14 de setembro a 15 de outubro,
em quatro cidades: Nova York, Londres, Milão e Paris. As roupas
que vão chegar às lojas constituem não uma revolução,
mas uma transição. É a primeira estação
do século 21, do terceiro milênio, dos novos tempos etc.
E, por isso mesmo, talvez imaginássemos uma gigantesca mudança,
formas inéditas e sensações únicas relacionadas
à moda. Mas se não veio uma alteração drástica
no gosto fashion do mundo, caminhamos agora em direção
a uma mulher forte, poderosa, segura, que usa elementos do universo
masculino para se afirmar _e isso inclui desde androginia, calças
retas e proporções mais avantajadas de casacos e ombros,
até o retorno do militarismo.
É uma estação de paradoxos também. O sexo
combina com o verão, e as minissaias voltam para, mais uma vez,
devastar o mundo. Vêm das vestes gregas a fluidez e o drapeado
do jérsei, dos anos 50 a femininilidade mais explícita,
em saias rodadas, e dos 80 o sex appeal ostensivo sintetizado no revival
das formas lançadas naquela década por nomes como Azzedine
Alaïa, Giorgio di SantAngelo e mesmo por Thierry Mugler e
Claude Montana. Em tempo de revisionismo fashion, é fundamental
conhecer as referências e inspirações para
compreender as chaves do sistema do vestir.
Ao recuperar e atualizar a imagem de Alaïa, neste seu desfile de
verão em Nova York, o austríaco Helmut Lang dá
as cartas para o jogo das quatro cidades da estação internacional.
Afinal, quando a megalópole passou à frente de Londres
como primeira parada dos fashionistas no prêt-à-porter,
há três temporadas (antes a ordem era Londres, Milão,
Paris e NY), foi exatamente por causa de Lang. Copiado até por
grandes nomes da moda americana, ele trocou Paris por NY para desfilar
antes de todos. Foi seguido por Donna Karan e Ralph Lauren.
O que Nova York faz de melhor é adaptar as tendências instaladas
na Europa para versões mais usáveis e comerciais (naturalmente,
o varejo é o que importa, nos EUA). Então, mostrar primeiro
um caldo da temporada anterior não chega a ser de tirar o fôlego,
e um movimento de jornalistas e estilistas sugere a mudança de
Nova York para a última parada do prêt-à-porter,
em novembro de 2001.
Insetos
De toda forma, Lang é o culpado. Culpado de inspirar e de posicionar
a mulher de 2001, ao menos. Basta de romance; sua mulher é firme
como uma rocha, segura por sandálias de tiras de estilo grego.
Gladiadoras modernas, as novas amazonas de Lang partem de Alaïa
para dali tirar sua força, com um leve perfume de universo sadomasoquista
e no fetiche. A silhueta é contida, mantendo a feminilidade nos
vestidinhos pretos evasês, curtos, às vezes com as tiras
trançadas atrás, e mesmo nos looks minimalistas característicos
de Lang, com camisetas e os mais incríveis
casacos 7/8, em preto ou em branco.
Ainda que Lang remeta as formas embrulhadas aos livros de
biologia e de insetos que ele diz gostar de ler e consultar, o estilista
batiza esta coleção de When Love Comes To Town
(gravada pelo U2 com B.B. King) e afirma que seu verão é
um libelo contra a tendência lady, que ele ironicamente chama
de madame, que tentou fazer as mulheres se vestirem
como velhas senhoras (alusão ao retrô 40 lançado
pela Prada e seguido pelo mundo há um ano).
A estampa dálmata em preto e cru do final do desfile se completa
com os casacos em couro brilhante, nesse verão que não
teme materiais quentes, considerados até de meia estação
(além do couro, a camurça, por exemplo, e até a
pele, como usada pelo norte-americano Michael Kors).
Se a história é toda sobre mulheres fortes, a Callaghan
desenhada por Nicolas Ghesquière entra aqui também nessa
tendência, com seus vestidos de jérsei com inspiração
grega, nesse que foi um dos melhores desfiles da estação
norte-americana. É a primeira apresentação da marca
em Nova York em 35 anos e também a estréia do estilista
na marca _o mesmo da maison Balenciaga. Os vestidos drapeados marcam
a influência do trabalho de SantAngelo, usados com cintos
de couro ou cordinhas coloridas finas.
A atenção principal vai para a parte de cima do look,
característica também do estilo de Ghesquière.
Tem havido de fato essa recuperação da linguagem do estilista
nascido em Florença que se formou como arquiteto, lidando também
com escultura até ser descoberto pela editora Diana Vreeland
nos anos 60. Ao longo dos 70 até os 80, Giorgio SantAngelo
misturou cores e mexeu na silhueta, explorando materiais e volumes.
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