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RESUMÃO/PORTUGUÊS
O realismo de Machado de Assis

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, é leitura exigida pelos exames da Fuvest e da Fatec. Nesse romance, verdadeiro convite ao prazer de ler, longe dos volteios descritivos dos escritores românticos e dos extensos parágrafos de Eça de Queirós, você vai encontrar prosa das mais enxutas, carregada de ironia e sarcasmo.

Marco do realismo no Brasil, a obra, de 1881, inverte os valores do romantismo, configurando verdadeira revolução no plano das idéias e no da forma. O idealismo cede espaço ao cinismo, os heróis desaparecem e dão vez a pessoas comuns. O tema do triângulo amoroso, mote de tantas novelas românticas, ocupa muitas das páginas destas memórias, agora, porém, tratado de forma quase parodística.

Distante dos heróis e heroínas que tudo sacrificavam pelo amor, vamos encontrar um casal de amantes que submete a paixão à conveniência e um marido traído que, ao que tudo indica, aceita a situação para não prejudicar seus interesses (posição, prestígio, dinheiro). Tudo é lícito desde que se mantenham as aparências.

Obra de um defunto autor, não de um autor defunto, como explica o narrador-personagem, os fatos surgem, entremeados de digressões, ao sabor da memória e da rabugice do finado, que já dedicara suas reminiscências ao verme que primeiro lhe roera as frias carnes do cadáver.

A narrativa assume, por vezes, o tom de conversa, tantas são as interrupções em seu curso para interpelar o leitor. Esse recurso, chamado metalinguagem, tornou-se muito comum entre os escritores modernos. Em Machado, é mais um dos artifícios de seu gênio mordaz, sempre a alfinetar o leitor médio, que se enfada diante da filosofia e se entusiasma com o desenrolar do enredo.

A quebra da linearidade da narrativa chega à criação de inusitados efeitos gráficos. "De Como Não Fui Ministro d’Estado", por exemplo, é capítulo que se esgota no título a encabeçar uma página em branco ("Há coisas que melhor se dizem calando", explicará um cioso narrador). Representante do realismo psicológico, Machado de Assis, pouco interessado em descrever mazelas sociais, substituiu os estereótipos cunhados pelo naturalismo por personagens psicologicamente complexos, humanos o suficiente para alternar hesitação ou fraqueza com dignidade. Verdade é, entretanto, que o autor parece ter assumido a tarefa de revelar a mesquinhez que se oculta sob o manto das aparências.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura.

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