Livraria da Folha

 
08/10/2010 - 11h21

Escritora inclui ingredientes de bruxaria na recriação de clássico de José de Alencar

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

Escrita por Angélica Lopes, a recriação "Senhora, A Bruxa" mantém de 60 a 70% do original, o clássico "Senhora" (1875), de José de Alencar (1829-1877). A obra integra a coleção "Clássicos Fantásticos", publicado pelo selo Lua de Papel, da editora LeYa.

Divulgação
Angélica Lopes se utilizou de bruxaria para descrever vingança feminina na recriação
Angélica Lopes se utilizou de bruxaria para descrever vingança feminina na recriação

"Tive a preocupação de manter os diálogos-chave, de briga entre os dois [Aurélia Camargo e Fernando Seixas] e de reconciliação, mas criei uma trama nova com as três irmãs Blair, bruxas que viveram no início do século 19 em busca de três ingredientes", explicou Angélica em entrevista à Livraria da Folha, por telefone.

Os componentes citados são quatro lágrimas de desilusão instantes após o abandono, duas gotas de sangue feitas na intenção de matar e duas juras de ódio feitas por alguém que já jurou amor eterno.

As feiticeiras celtas manipulam o casal para que eles se apaixonem, se amem, se abandonem, jurem ódio e depois cheguem a um ponto de querer se matar.

"Na verdade, é uma estrutura que o Alencar já tinha criado, de vingança, paixão e tristeza. Eu aproveitei essa estrutura dramática para criar as bruxas."

O perfil psicológico dos personagens centrais é preservado. Aurélia Camargo é poderosa, rica, linda e solteira. Consegue enfeitiçar todos os homens à sua volta. No entanto, ela planeja se vingar de seu ex-namorado, Fernando Seixas, que a abandonou.

A situação, já amaldiçoada por si só por envolver ressentimento e vingança, desperta o interesse das três bruxas, as irmãs Blair que, em busca de vida eterna, semeiam a discórdia entre casais apaixonados há mais de 300 anos.

"Achei que tinha muito de poder feminino na história, de reconquistar alguém, e tinha a ver com bruxaria, feitiço, de trazer amor em três dias [risos]. Toda essa vingança da Aurélia é ajudada pelas bruxas", explica Angélica.

A autora afirmou que faria o processo inverso --extrair os elementos fantásticos e deixar somente os originais-- em "A Metamorfose", do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924). No entanto, ela reconhece que retirar a fantasia de um romance fantástico parece menos sedutor.

"A ousadia seria tirar a ousadia, o que, convenhamos, não soa como muito ousado. Mas, nessa linha, eu imagino um "A Metamorfose", em que Gregor não acordaria como barata, mas sem dinheiro, morador de rua, daí, a rejeição que ele sofreria da sociedade."

 
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