PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha
Escrita por Angélica Lopes, a recriação "Senhora, A Bruxa" mantém de 60 a 70% do original, o clássico "Senhora" (1875), de José de Alencar (1829-1877). A obra integra a coleção "Clássicos Fantásticos", publicado pelo selo Lua de Papel, da editora LeYa.
Divulgação |
Angélica Lopes se utilizou de bruxaria para descrever vingança feminina na recriação |
"Tive a preocupação de manter os diálogos-chave, de briga entre os dois [Aurélia Camargo e Fernando Seixas] e de reconciliação, mas criei uma trama nova com as três irmãs Blair, bruxas que viveram no início do século 19 em busca de três ingredientes", explicou Angélica em entrevista à Livraria da Folha, por telefone.
Os componentes citados são quatro lágrimas de desilusão instantes após o abandono, duas gotas de sangue feitas na intenção de matar e duas juras de ódio feitas por alguém que já jurou amor eterno.
As feiticeiras celtas manipulam o casal para que eles se apaixonem, se amem, se abandonem, jurem ódio e depois cheguem a um ponto de querer se matar.
"Na verdade, é uma estrutura que o Alencar já tinha criado, de vingança, paixão e tristeza. Eu aproveitei essa estrutura dramática para criar as bruxas."
O perfil psicológico dos personagens centrais é preservado. Aurélia Camargo é poderosa, rica, linda e solteira. Consegue enfeitiçar todos os homens à sua volta. No entanto, ela planeja se vingar de seu ex-namorado, Fernando Seixas, que a abandonou.
A situação, já amaldiçoada por si só por envolver ressentimento e vingança, desperta o interesse das três bruxas, as irmãs Blair que, em busca de vida eterna, semeiam a discórdia entre casais apaixonados há mais de 300 anos.
"Achei que tinha muito de poder feminino na história, de reconquistar alguém, e tinha a ver com bruxaria, feitiço, de trazer amor em três dias [risos]. Toda essa vingança da Aurélia é ajudada pelas bruxas", explica Angélica.
A autora afirmou que faria o processo inverso --extrair os elementos fantásticos e deixar somente os originais-- em "A Metamorfose", do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924). No entanto, ela reconhece que retirar a fantasia de um romance fantástico parece menos sedutor.
"A ousadia seria tirar a ousadia, o que, convenhamos, não soa como muito ousado. Mas, nessa linha, eu imagino um "A Metamorfose", em que Gregor não acordaria como barata, mas sem dinheiro, morador de rua, daí, a rejeição que ele sofreria da sociedade."
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