UOL
       
 
Opinião

Pesquisa

Saúde e ambiente

Mercado

Mundo

Fronteira
 
Transgênicos: um risco desnecessário

MARIANA PAOLI

Ao exigir de seis ministérios o apoio aos transgênicos num manifesto divulgado no início deste mês, o governo brasileiro tem mostrado uma pressa injustificável em liberar o plantio de transgênicos no país. O assunto é muito novo e o governo ainda não permitiu que a sociedade o debatesse devidamente. É preciso chegar a um julgamento equilibrado e razoável sobre esta tecnologia que criou organismos ainda tão pouco conhecidos e que podem trazer consequências negativas para o ambiente, a saúde humana e a competitividade da agricultura brasileira.
O Ministro da Agricultura defende que a liberação dos transgênicos é de interesse nacional. Que interesse nacional é esse? O de quatro ou cinco multinacionais que detêm o monopólio dessa tecnologia ou o da pequena agricultura brasileira, que é responsável por mais de 50% dos alimentos que consumimos?
De fato, será que o mundo precisa dos transgênicos para solucionar o problema da fome? Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o mundo já produz alimento suficiente para toda a população, numa proporção de uma vez e meia para cada pessoa. Nem por isso há menos fome. Pelo contrário, hoje são 800 milhões de seres humanos que sofrem desse mal, gerado principalmente pela desigualdade social e pela má distribuição de renda, como tão bem ilustrou o Prêmio Nobel de economia Amartya Sen. Os especialistas são unânimes em afirmar que a melhor maneira de garantir a segurança alimentar é proteger e desenvolver a diversidade da agricultura, combater práticas agrícolas que causem o empobrecimento do solo, poluição química e desequilíbrio de ecossistemas. Mas os transgênicos só agravarão esses problemas. Por isso, o estimulo à agricultura ecológica e familiar é comprovadamente a melhor alternativa.
Por outro lado, o recente anúncio da Monsanto, de que foi surpreendida por dois novos segmentos de gene na soja transgênica, que ela já vende há mais de cinco anos, mostra o quanto essa tecnologia nova ainda é pouco conhecida e segura.
Por isso cresce a oposição de consumidores aos alimentos transgênicos em todo o mundo. Daí a agricultura brasileira possuir uma grande vantagem comercial sobre seus concorrentes, como Argentina e EUA, por ser a única capaz de suprir a demanda crescente de grãos convencionais no mercado internacional.
Em face dos riscos causados ao ambiente, à saúde pública e à economia do país que os transgênicos representam comparados com os duvidosos benefícios propagandeados pelas empresas multinacionais, o Greenpeace propõe uma atitude de precaução, ou seja, que não se libere o plantio de transgênicos enquanto não se tenha segurança de que não haverá danos sérios e irreversíveis para o Brasil.
Mariana Paoli, bacharel em Relações Internacionais, é coordenadora da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace


Leia mais
A ciência das plantas alteradas