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Vegetais podem ser mais nutritivos e usados como matéria-prima para remédios

Pesquisa biotecnológica brasileira chega à segunda geração de plantas alteradas

ISABEL GERHARDT
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Pesquisadores brasileiros já estão trabalhando no que é conhecido como a segunda geração de plantas transgênicas. Iniciada na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e encampada pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, essa geração procura aumentar a qualidade nutricional das plantas ou transformá-las em fábricas produtoras de interesses farmacêuticos.
A primeira geração se caracterizou por plantas resistentes a insetos e herbicidas. Essas plantas, aparentemente, beneficiam apenas o produtor. Porém, se o número de aplicações de agrotóxicos for reduzido como dizem as empresas, o ambiente e todos que vivem nele serão beneficiados.
As novas pesquisas reforçam a idéia de que a tecnologia dos OGMs (organismos geneticamente modificados) não foi desenvolvida apenas como uma nova alternativa de lucro para as empresas multinacionais, como ressaltam as críticas feitas por entidades que se manifestam contrariamente à produção de plantas transgênicas.
O principal objetivo desses estudos de órgãos públicos é buscar soluções e alternativas para os problemas da agricultura que o melhoramento convencional de plantas não consegue resolver.
A Embrapa, juntamente com a Unicamp, está desenvolvendo plantas de soja capazes de produzir o hormônio de crescimento humano (hGH). O hormônio é usado no tratamento de crianças com problemas de crescimento. Isso não significa que ao comer a planta o organismo poderá fazer uso do hormônio. O objetivo é baratear os custos de isolamento e purificação da substância, que atualmente é produzida em bactérias. “Além do hGH, estamos produzindo insulina com o mesmo objetivo”, diz Elíbio Rech, pesquisador da Embrapa.

Alvo errado
Um exemplo de busca, via engenharia genética, para a solução de problemas que o melhoramento convencional de plantas não consegue resolver é a pesquisa que visa reduzir o teor de lignina em eucaliptos destinados à produção de celulose (para fazer papel). No processo de extração de celulose, a lignina (substância que dá sustentação à planta, endurecendo a parede das células) precisa ser retirada. Esse é um processo caro e poluente, que usa uma série de produtos químicos cujos rejeitos precisam ser tratados antes de ser liberados no ambiente.
“Um dos principais objetivos da indústria de celulose no Brasil é trabalhar com plantas que tenham um teor mais baixo de lignina. Isso não pode ser obtido por meio do melhoramento convencional”, afirma Ana Cristina Miranda Brasileiro, pesquisadora da Embrapa.
O que Ana Brasileiro vem buscando em cooperação com o professor Giancarlo Pasquali, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), é a produção de eucaliptos que tenham a composição de lignina alterada, de forma que sua extração seja facilitada e se torne menos poluente.
Esse tipo de alteração já foi bem-sucedido em outra espécie lenhosa, o álamo, objeto de uma ação de protesto do Greenpeace há alguns anos.
“O Greenpeace colocou fogo, na Inglaterra, em um plantio experimental de cinco anos de álamos transformados com um gene que tornava a extração da lignina mais fácil”, afirma Ana Brasileiro. “Se havia um local menos apropriado para o Greenpeace destruir era esse, pois o objetivo final do experimento era justamente reduzir a poluição ambiental”, diz a pesquisadora.

Pequenos produtores
Muitos projetos da Embrapa que envolvem plantas transgênicas procuram atender à necessidade de pequenos produtores e trabalhadores rurais.
Um dos projetos mais adiantados é o do feijão resistente ao vírus do mosaico dourado, que deve beneficiar pequenos e médios produtores. Outra pesquisa de apelo social é a que envolve a produção de cacau resistente à vassoura-de-bruxa, fungo responsável pela destruição de plantações.


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