Imune à gourmetização, Bar do Luiz Fernandes é boteco preferido do júri
MELHOR BOTECO - JÚRI
Abrir um pé-sujo não tem segredo –uma portinha e um prato comercial dão conta do recado. Inaugurar um bom restaurante também não. Na maior parte dos casos, basta somar investimento, chefs estrelados e o bartender da moda. Difícil mesmo é equilibrar-se entre esses dois mundos.
Por isso, proponho nessas poucas linhas o tombamento do Bar do Luiz Fernandes como patrimônio da boemia paulistana. Aberto desde 1970 entre Santana e o Mandaqui, na zona norte, o boteco resiste bravamente à onda gourmetizadora que inunda a capital.
Para começar, ali bebe-se cerveja raiz, como Brahma (R$ 13) e Original (R$ 14), em garrafas de 600 ml -e não microlotes artesanais vindos de países bávaros que não sabemos sequer apontar no mapa. E o mais importante: sempre em copo americano.
Para comer, há porções e salgados vendidos nas mesas e no balcão, como manda o figurino. O bolinho de carne (R$ 6 a unidade) vem molhado por dentro e parece pedir pelo vinagrete da casa. A Surpresa de Dona Idalina (R$ 6) faz os clientes jurarem amor pela combinação de berinjela, carne e tomate seco.
Isso sem falar no espaço, em que mesas do lado de fora e televisões espalhadas abraçam quem aparece para torcer por seu time ou ver os jogos da Copa em um domingo qualquer.
Então tombemos já. Antes que surjam cervejas que devem ser harmonizadas, petiscos orgânicos que são manifestações culturais de famílias que colhem ingredientes com as próprias mãos e a tal taxa de serviço de 13%. Ou pior: antes que mudem a sede para o Mercado de Pinheiros.
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Bar do Luiz Fernandes
R. Augusto Tolle, 610, Santana, tel. 2976-3556