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Jovem
desenvolveu sensores que, aplicados no chuveiro e no vaso
sanitário, contribuem com a economia de água
Leandro Costa Santos, 18, aplicou seus conhecimentos de robótica
na invenção de um banheiro inteligente. Durante
dois meses, ele desenvolveu sensores que, aplicados no chuveiro,
na pia e no vaso sanitário, contribuem para reduzir
o gasto de água -o chuveiro é capaz de detectar
se existe alguém tomando banho e de informar por quanto
tempo a pessoa permaneceu sob a água corrente, uma
estratégia para conscientizar o perdulário ecológico.
Não é preciso fechar a torneira da pia com as
mãos.
O projeto foi premiado numa feira de ciências, mas a
grande invenção mesmo é o próprio
Leandro -um estudante de escola pública no Nordeste.
Por trás do banheiro ecologicamente correto, há
um tipo de experiência capaz de inventar Leandros.
Leandro estuda na escola estadual Cícero Dias, em
Pernambuco, onde, graças a uma parceria entre acadêmicos,
empresários e inventores de software, foi implantada
uma fábrica de jogos digitais. O projeto vem na esteira
do Porto Digital, uma iniciativa que, num bairro abandonado
do Recife, fez surgir uma imensa incubadora de tecnologias,
que atende encomendas de várias partes do mundo.
Do Recife, esse modelo migrou, neste ano, para uma escola
pública do Rio de Janeiro, batizada de Nave (Núcleo
Avançado de Educação) e instalada numa
antiga central telefônica analógica, totalmente
reformada. Se eu não soubesse onde estava entrando,
talvez imaginasse que aquelas fossem as instalações
de uma agência de publicidade, de um escritório
de design, de um laboratório de telecomunicação
ou de um museu de artes visuais -ou, quem sabe, pensasse ser
uma montagem de escritório da Casa Cor.
A movimentação dos adolescentes num imenso saguão,
repleto de televisores digitais e de telas de computadores,
dá ao visitante a pista de que, em algum lugar, pode
encontrar salas de aula, embora não se vejam sinais
de arquitetura escolar.
Foi nesse ambiente que um grupo de professores, com salário
médio de R$ 1.200 mensais, se transformou, ao mesmo
tempo, em inventores, cobaias e alunos.
O Nave é resultado, como em Pernambuco, de uma gestão
compartilhada entre o governo estadual e um instituto de uma
empresa privada (a Oi Futuro) -o desafio já nasce na
gestão, sempre dependendo dos humores oficiais ou mesmo
empresariais. Em torno dessa dobradinha, juntaram-se várias
entidades, como a Unesco e a PUC, além de empresas
produtoras de mídia e de software.
A idéia é que, além das matérias
regulares, os alunos respirem a cultura digital, isto é,
sejam treinados para trabalhar com a programação
de jogos, com a criação de conteúdos
para a TV Digital, com o desenvolvimento de roteiros interativos
e com a manipulação de som e imagem.
Um dos idealizadores da fábrica de jogos, Silvio Meira,
que é engenheiro aeronáutico formado pelo ITA
e um dos criadores também do Porto Digital, admira-se
ao ver como os jovens aprendem rapidamente noções
de física e matemática brincando ou produzindo
jogos: "Vejo jovens entendendo, sem dificuldade, as leis
de Newton. E com muita rapidez".
O que está em jogo é como preparar os jovens,
desenvolver suas habilidades e assegurar o crescimento do
país. Essa união do poder público com
a academia e as empresas vem produzindo alguns laboratórios
-isso porque sabem, por estarem conectados com a realidade,
a inutilidade dos currículos.
O Colégio Engenheiro Juarez Wanderley, criado pela
Embraer, já vinha oferecendo aos estudantes programas
de pré-engenharia e de pré-administração,
de olho no perfil dos engenheiros e administradores do futuro.
Esse tipo de perfil levou, por exemplo, a Fundação
Getúlio Vargas, de São Paulo, a permitir que
o estudante ganhasse, em menos tempo e simultaneamente, os
diplomas de administrador e de advogado.
A partir deste ano, o colégio, graças a uma
parceria com o Instituto de Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês,
vai ajudar os alunos na compreensão da vida em sua
diversidade -e, assim, eles estarão mais preparados
para seguir as carreiras de médico, biomédico,
enfermeiro, nutricionista ou fisioterapeuta.
O banheiro inventado por Leandro numa escola pública
-aliás, os banheiros das escolas públicas costumam
ser os locais onde se expressa uma espécie de síntese
da selvageria- é um sinal de como se reinventa um país
pela inteligência.
Se esses projetos sobreviverem (e temos de esperar para ver)
e se puderem sistematizar e difundir suas descobertas, estaremos
mais próximos de ser um país que desenvolve
aviões do que de ser um país que produz desempregados.
PS - Detalhei
neste link as experiências citadas nesta coluna
-a começar do inovador banheiro inteligente.
Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
editoria Cotidiano.
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