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Erika Vieira
A prefeitura de São Paulo está
integrando a população de albergues na reformulação
dos passeios públicos da cidade. Essa iniciativa faz
parte do programa Passeio Livre, que tem como meta a uniformização
das calçadas com a retirada de obstáculos que
atrapalhe a circulação dos pedestres.
As novas calçadas devem obedecer às normas adotadas
no Fórum Paulista de Passeio Público. A regulamentação
prevê o asfaltamento com ladrilhos, a padronização
em 1,20m de largura para as calçadas das ruas de bairros,
e de três metros nas grandes avenidas. “A maioria
não obedecem a esse padrão”, declara o
tecnólogo que acompanha as obras do Passeio Livre,
Plautio Barbosa.
“O projeto é bom, é
sério e dá oportunidade para sair dessa situação”,
diz Douglas Bohm, 30 anos, morador de um albergue em Pinheiros.
Ele conta que é a primeira vez que atua na área
de construção civil e que pretende usar a experiência
como subsidio para realizar a criação de algum
projeto que contribua para o nosso quadro social. “Essa
oportunidade é um trampolim para eu desenvolver um
projeto na área social. Vou usá-la para crescer,
mas sem esquecer das pessoas”, fala Douglas, cidadão
que já fez parte da classe média paulista, viajou
por alguns paises e hoje exerce a profissão de professor
de inglês.
Além de Douglas, a Secretaria
Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social selecionou
64 moradores de rua com a idade ente 30 e 50 anos, para trabalharem
no Passeio Livre. Eles tiveram a capacitação
do Senai em um curso que durou quatro dias, sendo um de teoria
e os outros três de prática. A Secretaria do
Trabalho paga uma bolsa mensal de R$363,45 a cada “calceteiro”,
nome dado a esse profissional.
O programa é desenvolvido em
conjunto com a Secretaria do Trabalho, Secretaria Municipal
de Assistência e Desenvolvimento Social, Secretaria
das Subprefeituras e Secretaria do verde e do Meio Ambiente.
Inicialmente está sendo implantado em forma de um projeto
piloto na esquina das ruas Cardeal Arcoverde com a Cônego
Eugênio Leite. A previsão é de que nos
próximos três meses sejam construídas
outras calçadas nos bairros da Vila Mariana, Itaim
Paulista e Butantã, se alastrando posteriormente para
toda São Paulo.
”O trabalho serve para a gente
aprender a técnica de serviço. Ninguém
sabe fazer nada, mas a gente erra e vai aprendendo”,
explica o calceteiro Daniel Davi, 31 anos. “Não
conheço esse campo de trabalho, não sei se vai
haver um campo de trabalho para nós depois que acabar
essa experiência”, fala ele ainda um pouco inseguro
com o futuro. Porém não deixa de cultivar esperança:
“Hoje eu estou aqui, amanhã posso estar em uma
empresa especializada”, conclui.
O calceteiro Erivaldo Soares Bolfim,
também acredita na perspectiva de melhora, mas diz
ser ruim trabalhar sem carteira registrada, e que ainda não
recebeu o bilhete único. Ele conta que depende da colaboração
dos motoristas de ônibus para não pagar passagem,
pois não tem dinheiro para as duas conduções
que precisa tomar até chegar na subprefeitura de pinheiros.
Da subprefeitura sai uma Kombi que leva e traz os trabalhadores
até o local do serviço.
Outras seleções estão previstas para
capacitar mais moradores de rua, cerca de 368 pessoas devem
ser selecionadas em um ano. A intenção é
que ao término do programa os trabalhadores montem
cooperativas para continuarem desenvolvendo a profissão.
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