Você é uma pessoa que
compra apenas o que precisa? Sem se encantar por belas embalagens,
ofertas e propagandas de novidades? Pois bem, esse é
o perfil de um consumidor consciente. Ele evita o desperdício
em todos os sentidos – da peça de roupa que só
é usada uma vez e fica no armário até
o alimento que estraga por não ser consumido no prazo
de validade.
No que se refere aos alimentos, o consumo consciente é
mais importante do que em qualquer outra área. No Brasil,
70 mil toneladas de comida são jogadas fora todos os
dias, de acordo com o estudo A Nutrição e o
Consumo Consciente, do Instituto Akatu. O instituto é
uma organização não governamental (ONG)
que atua na formação de consumidores conscientes.
O Movimento Cuide, lançado em 2004 pelo Akatu, pretende
mostrar que o ato do consumo pode ser um ato de cidadania.
A campanha dissemina informações sobre os impactos
ambientais e sociais dos atos de consumo e tem como símbolo
uma sacola confeccionada por artesãos da Paraíba
utilizando algodão naturalmente colorido, produzido
por cooperativas de agricultores da região.
Esta preocupação sobre quem são os produtores
também deve estar presente. O mundo ideal de consumo
tem, além do consumidor consciente, um comércio
solidário, que prevê relações mais
justas entre consumidores, comerciantes e produtores. Estas
relações garantem que as condições
de trabalho sejam seguras, com salários justos, e que
a produção seja baseada em práticas de
desenvolvimento sustentável e preservação
do meio ambiente.
Nos últimos anos, os consumidores passaram a ver as
empresas como agentes sociais com responsabilidades maiores
do que a geração de empregos e o pagamento de
impostos. O consumidor consciente cobra o bem-estar social
e valoriza selos que identifiquem empresas atentas aos direitos
da criança ou ao meio ambiente, por exemplo.
Onde encontrar
Para contribuir para a geração de renda de instituições
do terceiro setor, o consumidor consciente e solidário
não precisa mais sair de casa. Sites na internet promovem
a venda de produtos de várias entidades ao mesmo tempo.
No Social Web (www.socialweb.com.br)
são vendidos produtos de oito entidades, como a Associação
para Desenvolvimento, Educação e Recuperação
do Excepcional (ADERE) e o Grupo de Apoio ao Adolescente e
à Criança com Câncer (GRAAC).
“A expectativa é chegar até o final do
ano com pelo menos dez ONGs parceiras e aumentar ainda mais
o número de produtos oferecidos”, programa Alexandre
Moraes, o administrador do site. Ele observa que, hoje, os
produtos mais vendidos são camisetas que são
feitas a partir de garrafas PET recicladas e custam R$ 10.
Lançado em novembro de 2002, o Shopping Cidadão
também é um portal da internet em que são
vendidos produtos criados e desenvolvidos por instituições
sociais. Seu objetivo é contribuir para a auto-sustentabilidade
das organizações sociais e a divulgação
da filosofia e do trabalho realizado no terceiro setor.
“Eu observei que muitas instituições
levavam seus produtos para congressos, feiras, exposições
e outros eventos, na tentativa de arrecadar recursos e divulgar
o trabalho da instituição. Então, pensei
em criar um espaço onde esses produtos pudessem ser
vistos e adquiridos durante todo o ano. Assim nasceu o Shopping
Cidadão”, conta Mário Gurjão, autor
do projeto.
A iniciativa está cadastrada no Banco de Tecnologias
Sociais da Fundação Banco do Brasil e começou
a ser desenvolvida em 2000, quando participou do Prêmio
Empreendedor Social, promovido pela Ashoka Empreendedores
Sociais. Na ocasião, a tecnologia recebeu menção
honrosa de idéia inovadora.
Por sua capacidade de mobilização de recursos
para instituições do terceiro setor, a tecnologia
do Shopping Cidadão foi considerada uma das melhores
idéias no mundo pelo programa Iniciativas de Base para
a Cidadania, também da Ashoka, em Washington, nos Estados
Unidos.
“Uma das características que fazem do Shopping
Cidadão um projeto inovador é ter exatamente
o mesmo conceito de um shopping tradicional: você pode
ter diferentes experiências de compras, escolher, passar
de uma loja a outra”, argumenta Gurjão, lembrando
que, sem um projeto como este, se uma pessoa quiser ajudar
a várias instituições, terá que
entrar e sair de vários sites.
O Shopping tem parceiros como o Serviço de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas no Ceará (SEBRAE-CE) e a
Ashoka. Entretanto, Gurjão observa que esses apoios
não são suficientes para o projeto alcançar
sua auto-sustentabilidade. “O Shopping precisa de parceiros
públicos, privados e do apoio da sociedade civil para
não morrer por falta de recursos”, apela.
De forma indireta, o Shopping Cidadão se tornou um
instrumento de geração de trabalho e renda nas
regiões onde atuam as instituições sociais
que comercializam seus produtos no site. Atualmente, 17 entidades
vendem por meio do portal www.shoppingcidadao.com.br.
Entre elas estão a Associação Caatinga,
o Instituto de Prevenção à Desnutrição
e à Excepcionalidade (IPREDE), o Lar Torres de Melo
e o Grupo de Apoio à Prevenção à
Aids do Ceará (GAPA-CE).
O Shopping Cidadão é administrado pela Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Grupo
de Apoio ao Investimento Social (GAIS), que também
tem arcado com os custos administrativos. No final deste ano,
o GAIS irá divulgar um balanço com os resultados
das vendas do shopping virtual. “O objetivo do projeto
é participar com cerca de 15% do custeio de entidades
de pequeno porte, mas ainda não é possível
aferir esta contribuição”, explica Gurjão.
Nos dois shoppings virtuais são vendidos produtos
como bonecos de pano, camisetas, toalhas, caminhos de mesa,
redes, bijuterias, artesanato, bolsas, cestos de vime, brinquedos
e material de papelaria. Os produtos são entregues
em todo o Brasil, pelos Correios, e não existe quantidade
mínima para a compra.
Alexandre Moraes, do Social Web, observa ainda que o impacto
do trabalho para as ONGs não está só
no aspecto financeiro: “Um jovem que vive em situação
de risco social ou um índio tupinambá, por exemplo,
podem ver seu trabalho à venda na internet. Isso os
motiva.”
As informações são
da Fundação Banco do Brasil.
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