Mapa
revela onde é mais fácil ser assassinado
Um mapa
produzido pela Secretaria de Segurança mostra, em números,
onde é mais provável alguém morrer assassinado
na cidade de São Paulo.
As estatísticas
desenham uma cidade recortada por regiões com menos
assassinatos do que as nações mais desenvolvidas,
espécies de ilhas de segurança, misturadas a
centros deflagrados que não dariam inveja a qualquer
guerra civil.
É
o próprio mapa do apartheid social, marcado pela má
distribuição de renda e miséria, produzindo
o valor, para cima ou para baixo, de cada vida.
*
Na cidade
de São Paulo, no ano passado, foram assassinadas 5.705
pessoas, 448 a mais do que no ano anterior.
A tradução
do recorde diz o seguinte: a cada 100 mil pessoas, cerca de
55 foram assassinadas.
Esse altíssimo
número ajuda a transmitir a sensação
de que poderemos ser assassinados, a qualquer momento, em
qualquer lugar.
O mapa
informa: essa percepção é errada, marcada
por um clima de histeria.
*
Florianópolis
ganhou fama da capital mais segura do Brasil porque registrou,
em 1998, 29 homicídios, para uma população
de 300 mil pessoas.
Ou seja,
ostentou 5 mortes por 100 mil habitantes, o que a coloca,
exatamente, no padrão de um país desenvolvido.
E, assim,
vê-se o que significa os tais 55 por 100 mil encontrados
em São Paulo.
O mapa
indica a localização de regiões que superam
Florianópolis. É o caso da Vila Mariana, onde,
em 1999, houve 4 assassinatos.
A região
da Vila Carrão, o primeiro da lista, teve apenas 2,
para uma para uma população de 62 mil pessoas.
*
Os bairros de maior poder aquisitivo estão muito abaixo
da média paulistana -- embora, ali, trafeguem os indivíduos
mais apetitosos para os delinquentes.
Os badalados
Jardins tem uma relação de 10 por 100 mil. No
ano passado, foram assassinadas 7 pessoas; população,
68 mil.
Leva-se
em conta, aqui, residentes e não a população
flutuante que, obviamente, é bem maior.
Reduto
da classe média intelectualizada paulistana, o distrito
de Pinheiros ( e, aqui, entram, entram, Vila Madalena e Alto
de Pinheiros) é de 19 por 100 mil; 16 assassinatos,
numa população de 101 mil habitantes.
*
Morumbi,
o bairro das mansões, está pior, pouco abaixo
da média da cidade: ali, no passado, ocorreram 46 assassinatos.
Mas os
milionários não se preocupem. As mortes ocorreram
nas favelas das redondezas.
Até
porque as casas dos milionários não são
casas, mas fortalezas.
Um dos
cartões postais da cidade, a região do Ibirapuera,
também não está bem: 58 por 100 mil.
Se fôssemos
medir partes daquela região como o Jardim Lusitânia,
onde está incrustado o parque, a taxa baixaria para
os padrões de primeiro mundo.
*
O quadro
vai-se tornando assustador, de fato, à medida em que
o ranking avança nas regiões mais pobres ou
abandonadas pelos moradores.
A região
da Sé, atacada pelo crack, é a grande campeã
estatísticas: 218 por 100 mil, o que dá para
assustar qualquer Serra Leoa.
Mas o
dado deve ser visto com cautela: são poucos os moradores
da região ( 26 mil), deturpando o resultado final.
No ano passado, registraram-se 59 assassinatos.
Dos 103
distritos policiais, 10 registraram a metade das mortes de
toda a cidade.
Nos distritos
de Perdizes, Paulista, Vila Mariana, Jardins, Pinheiros e
Cambuci moram cerca de meio milhão de habitantes.
Ali se
deram 82 assassinatos em todo o ano de 1999.
Comparemos:
no distrito do Parque Santo Antônio existe uma população
de 134 mil, onde ocorreram 206 assassinatos.
Traduzindo:
se piorássemos em 500% o que acontece naqueles bairros
de classe média chegaríamos ao distrito de Parque
de Santo Antônio.
*
Quem mais
protesta é a classe média, que, como se vê,
está mais protegida -- se é que alguém
pode se considerar, em São Paulo, protegido.
Chegamos
a tal ponto de sensação de orfandade e histeria
que, mesmo morando nos bairros mais protegidos (ou menos desprotegidos)
nos sentimos como se estivéssemos na periferia.
O medo
da delinqüência acabou se tornando o elo de ligação
cultural entre rico e pobres.
A própria
separação entre ricos e pobres, nas fronteiras
geográficas invisíveis, ajudam a entender porque
vivemos tão próximos e tão distantes
-- e, em especial, por que tanta violência.
PS- O
leitor pode saber como está a situação
de sua região, através de tabela de roubos
e homicídios em cada
região de São Paulo.
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