Tráfico
internacional de mão-de-obra gera até US$ 10 bi
Uma indústria
criminosa está crescendo no mundo: o tráfico de trabalhadores.
O negócio, que movimenta até US$ 10 bilhões
por ano, é impulsionado pela rigidez nas leis de migração
dos países desenvolvidos, segundo relatório da International
Organization for Migration (IOM).
"O tráfico
humano é lucrativo e menos arriscado do que o de drogas",
diz Roy Penrose, policial britânico especializado em crime
organizado. Quem foge da pobreza paga às quadrilhas entre
US$ 30 mil e US$ 50 mil para viajar e uma taxa se chegar com vida
ao destino. Quem não paga suas dívidas acaba vítima
de trabalho escravo
O relatório
da OIM aponta que na África a emigração é
uma estratégia de sobrevivência, mas causa a "saída
de cérebros": 23 mil pessoas com qualificação
acadêmica saem todo ano de Gana, Nigéria, Senegal,
Uganda, Zâmbia e Zimbábue.
O tráfico
humano para exploração sexual também aumentou.
Em 1997, 175 mil mulheres e crianças estavam envolvidas numa
rede de prostituição nos países desenvolvidos.
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Tráfico
humano gera até US$ 10 bi
Uma indústria
rentável e relativamente segura, ainda que criminosa, está
se expandindo no mundo: o tráfico de seres humanos, que chega
a movimentar entre US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões
por ano, segundo estimativas de diferentes organizações
envolvidas no combate a esse crime.
A migração
- legal e ilegal - é um fenômeno antigo, mas com a
globalização da economia e o fim da Guerra Fria aumentaram
os fluxos de pessoas. Entre 1991 e 1998, o número de imigrantes
ilegais vivendo na Europa cresceu 50%, chegando a 3 milhões
de pessoas, segundo o último relatório da International
Organization for Migration (IOM), que tem sede em Genebra.
"O tráfico
humano é lucrativo e menos arriscado do que o de drogas",
compara Roy Penrose, diretor da National Crime Squad (NCS), divisão
policial britânica especializada em crime organizado. Entre
os imigrantes ilegais mais comuns nos países ricos da Europa
estão os da Ásia - especialmente da China e Ásia
Central - e da África subsaariana.
Na maior parte
das vezes fugindo da pobreza, para chegar ao que imaginam ser o
moderno Eldorado, as pessoas pagam entre US$ 30 mil e US$ 50 mil
para as quadrilhas, dependendo da origem e do destino. "Uma
pessoa da província de Fujian, na China, por exemplo, paga
15 mil libras (US$ 22.500) antes de viajar e uma alta soma depois,
se chegar sã e salva ao destino, em prestações
e juros exorbitantes", disse Penrose. Por isso, muitas acabam
vítimas de trabalho escravo.
Um dos fatores
que contribuíram para a expansão do tráfico
organizado de seres humanos e das quadrilhas especializadas, de
acordo com a OIM, é a maior rigidez nas leis de migração
dos países desenvolvidos. Os Estados Unidos recebem cerca
de 300 mil imigrantes ilegais por ano e o Canadá, 200 mil,
segundo o relatório. Em 1998, havia 2,5 milhões de
imigrantes ilegais mexicanos nos EUA, que também é
polo de atração para pessoas de toda a América
Latina, especialmente dos países centro-americanos.
Tradicionais
exportadores de mão-de-obra, como Espanha e Itália,
passaram a atrair imigrantes, legais ou não, na medida em
que suas economias foram se expandindo. Segundo a OIM, só
os ilegais chegam a 150 mil na Espanha e 235 mil na Itália.
São, na maioria, africanos que procuram trabalho, principalmente
na florescente economia informal da Itália e na indústria
de frutas da Espanha.
Em boa parte
dos países da África, a emigração passou
a ser "uma estratégia de sobrevivência",
diz o relatório. A contrapartida é a "saída
de cérebros" dos países africanos: 23 mil pessoas
com qualificação acadêmica emigram, por ano,
de Gana, Nigéria, Senegal, Uganda, Zâmbia e Zimbábue
para Europa, América do Norte e Oriente Médio.
As remessas
de dinheiro que os imigrantes (legais ou não) fazem para
suas regiões de origem, além de fonte de renda para
suas famílias, passam a ser importantes fontes de divisas
para países como Bangladesh, Sri Lanka e El Salvador, segundo
o relatório.
Durante a guerra civil salvadorenha, mais de 1 milhão dos
6 milhões de habitantes do país emigraram para os
EUA. Hoje, remetem US$ 1 bilhão por ano, o que equivale a
três vezes as exportações de café de
El Salvador.
Os fluxos migratórios
na Coréia do Sul são mais um exemplo da ligação
com o desempenho econômico. Segundo dados do relatório,
no final dos anos 80, mas de 30 mil coreanos eram admitidos legalmente,
por ano, nos EUA.
Nos anos 90,
com a economia crescendo aceleradamente, um amplo programa de educação
e de redução da pobreza, a Coréia começou
se tornar destino importante para migrantes, principalmente de outros
países da Ásia. O número de trabalhadores estrangeiros
no país chegou a 267 mil em 1997, mas a crise financeira
reduziu esse número e, de acordo com a OIM, havia apenas
160 mil, em julho de 1998.
Os países
exportadores de petróleo, no Oriente Médio, atraem
1 milhão de imigrantes temporários por ano - a maioria
de Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka. Parte
expressiva entra de forma ilegal, mas não existem estatísticas.
Uma idéia desse número pode ser obtida pela expulsão
de trabalhadores não autorizados, quase 350 mil por ano só
na Arábia Saudita, segundo a OIM.
A maior parte
desses empregos não exige qualificação. Um
trabalhador ganha em um dos países produtores de petróleo,
em média, oito vezes mais do que receberia em Sri Lanka e
13 vezes mais do que em Bangladesh. Os governos desses dois países,
diz o relatório, confiam nesse tipo de emigração
para diminuir as pressões sobre o desemprego.
O tráfico
de mulheres e crianças para exploração sexual
para os países desenvolvidos também tem aumentado.
A maior parte delas sai do Leste Europeu e da antiga URSS. Um estudo
do governo dos EUA indica que, em 1997, 175 mil mulheres e crianças
dessas regiões estavam envolvidas numa rede de prostituição,
muitas vezes como escravas.
Estatísticas
do governo alemão mostram que 40% delas são da ex-URSS
e 30% de Polônia, República Tcheca e Eslováquia.
Esse tipo de crime vem crescendo, segundo o OIM, porque além
de lucrativo, as penas não são severas e as condenações
são raras.
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