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Negras
ganham até 55% menos do que brancos
As mulheres
negras são o grupo mais discriminado quanto aos salários
pagos no Brasil, revelou estudo do Instituo de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). Para ganhar o mesmo que um homem branco da mesma
idade e nível de escolaridade, elas teriam que receber aumentos
de até 55%.
A defasagem
salarial também atinge as mulheres brancas, que ganham 35%
menos que os homens. O estudo mostrou uma suavização
na diferença salarial entre os sexos: em 1987, ela era de
71% para as mulheres negras e de 46% para as brancas.
Na média,
os negros recebem 22% a menos que os brancos, mas o estudo mostrou
que a discriminação salarial aumenta quanto mais alta
for a posição social do trabalhador negro.
(Valor)
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Negras
chegam a ganhar 55% menos
As mulheres negras formam o grupo mais discriminado quanto aos salários
pagos no mercado de trabalho brasileiro. Com um hipotético
fim da discriminação salarial, elas teriam ganhos
de até 55%, chegando ao nível dos rendimentos recebidos
pelos homens brancos com a mesma idade e nível de escolaridade.
Nessa escala de prejuízos salariais motivados pelo sexo e
cor dos trabalhadores, depois das mulheres negras vêm as brancas,
seguidas pelos homens negros. A diferença salarial delas
é de 35%, e deles é de 22%.
Essas são
algumas conclusões de um estudo do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) que tentou isolar os efeitos, nos
salários, do preconceito puro e simples. O trabalho, feito
por Sergei Soares, da Diretoria de Estudos Sociais do Ipea, demonstra
o efeito perverso da discriminação a trabalhadores
que fogem do padrão do homem branco, em especial às
mulheres negras. "É um preço muito alto a pagar
pela cor da pele e a posse de um útero", chega a dizer
Soares no texto.
O estudo, entretanto,
revela uma suavização do preconceito salarial para
as mulheres ao longo dos últimos anos. Em 1987, ano em que
o IBGE começou a perguntar a cor dos trabalhadores na Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), a diferença
salarial motivada pela discriminação era de 71% para
as mulheres negras e de 46% para as brancas. As negras sofrem reduções
nos salários por uma conjunção de fatores:
a discriminação racial, a dificuldade na inserção
no mercado de trabalho e a baixa qualificação.
Por tudo isso,
de acordo com os dados da PNAD, a média salarial do grupo
para 40 horas de trabalho era de R$ 289,22 mensais em setembro de
1998. Isso corresponde a 39,8% dos rendimentos médios do
grupo padrão - os homens brancos, que ganhavam R$ 726,89.
"As mulheres negras arcam com todo o ônus da discriminação
de cor e de gênero e ainda mais um pouco, sofrendo a discriminação
setorial- regional-ocupacional mais que os homens da mesma cor.
Sua situação dispensa comentários".
Mantido o atual
ritmo de redução do preconceito às mulheres
brancas, Soares projeta o fim da discriminação salarial
contra o grupo em 30 anos. Atualmente, a renda média das
brancas é de R$ 572,89, correspondente a 78,8% dos salários
recebidos pelos homens brancos. "A minha interpretação
do perfil da discriminação contra as mulheres é
que existe um acordo tácito no mercado de trabalho de que
elas, mesmo exercendo tanto quanto os homens atividades que exigem
qualificação, precisam ou merecem ganhar menos",
diz.
A diferença
salarial dos homens negros vem se mostrando estável ao longo
dos anos, o que mostra a manutenção dos mesmos níveis
de preconceito desde pelo menos meados da década passada.
Na média, os rendimentos do grupo são de R$ 337,13,
ou 46,4% da renda dos homens brancos. Um fato curioso percebido
pelo estudo é a progressividade da discriminação
ao negro em relação à renda. Quanto mais bem
posicionado está o trabalhador negro na escala social, maior
a discriminação salarial em comparação
com o branco.
Os homens negros
mais pobres teriam menos a ganhar com o fim do preconceito, enquanto
as vantagens dos mais ricos seriam maiores. Os rendimentos dos mais
pobres subiriam entre 5% e 7%, e os dos mais ricos, em torno de
27%. "É evidência, para a tese, que a sociedade
não aceita que negros ocupem posições favoráveis
na estrutura de rendimentos e que quanto mais os negros avançam,
mais são discriminados", diz Soares. "Se o negro
ficar no lugar a ele alocado, sofre pouca discriminação."
A discriminação
contra o homem negro é pesadamente sentida nos anos de formação
escolar. Além disso, eles perdem algo em torno de 10% dos
salários por trabalharem, muitas vezes, em setores "inferiores"
ao dos homens brancos, principalmente em empregos "manuais",
avalia Soares. As mulheres brancas sofrem apenas na etapa de definição
dos salários - hoje, elas já têm um bom nível
de aceitação no mercado.
O autor defende
a adoção, pelo governo, de políticas compensatórias
para reduzir as desvantagens dos negros. A proposta é de
algo semelhante à "ação afirmativa"
adotada pelo governo americano, que estipula cotas para negros nas
vagas escolares, universitárias e aos postos de trabalho.
Essa política sofreu resistência nos Estados Unidos
por ser considerada um preconceito às avessas, beneficiando,
às vezes, a cor e o sexo das pessoas em detrimento de seus
méritos.
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