Pesquisas
comparam economia atual à década perdida
Os últimos
dados divulgados pela Fundação Seade e pelo Departamento
Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) mostram que o Brasil passa pela mesma situação
econômica da década perdida, os malfadados anos 80
- pelo menos no mercado de trabalho. Enquanto a economia patina,
com o pífio crescimento de 2% ao ano, a taxa de desemprego
chega a números recordes em São Paulo. No mês
passado, o desemprego avançou para 20,4% da população
economicamente ativa (PEA), ante os 19,9% registrados em março.
É a maior marca desde 1985.
A renda média
insistiu na trajetória de queda. O rendimento médio
dos ocupados na Grande São Paulo diminuiu 2,8% em março
em relação ao mês anterior. No acumulado anual,
a renda média dos ocupados caiu 11,2% e dos assalariados
8,7%. Já o salário médio apresentou retração
de 2%. Com este comportamento, o rendimento dos ocupados passou
a R$ 807 e o dos assalariados, a R$ 860. Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), a queda dos rendimentos
é resultado direto do aumento da população
desempregada do país. Isso porque, no mesmo período,
identificou-se crescimento ainda maior da população
economicamente ativa e da taxa de desocupação do país.
Com isso, afirmam economistas, a tendência é que os
rendimentos continuem a cair no curto e médio prazos.
O recrudescimento
do desemprego nos últimos quatro anos deverá deixar
sequelas para o próximo governo, segundo especialistas, mesmo
que a futura política econômica seja comprometida com
o crescimento econômico, a geração de empregos
e a distribuição de renda. As condições
macroeconômicas atuais indicam a necessidade mínima
de quatro anos para reverter o atual processo de desvalorização
da renda do trabalhador. Somente após esse período
seria possível ampliar o número de trabalhadores ocupados
no país e gerar um número de vagas capaz de absorver
o contingente anual de novos trabalhadores incorporados à
população economicamente ativa - as precondições
para a valorização da renda do trabalho.
Leia
mais
- Em
nível recorde, desemprego chega a 20,4 % em SP
Leia
também:
- Renda tem a maior queda trimestral dos anos FHC
- Em
metade dos lares de São Paulo há pelo menos um desempregado
- Só educação não reduz
desigualdade
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Renda
tem a maior queda trimestral dos anos FHC
O rendimento
dos trabalhadores brasileiros teve, no primeiro trimestre deste
ano, a maior queda desde o início do Plano Real. Dados da
PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE indicam redução
de 5,7% da renda do total de pessoas ocupadas entre janeiro e março
deste ano. O percentual é maior do que o pior resultado registrado
até 1999, quando houve queda de 4,8%.
O recrudescimento
do desemprego nos últimos quatro anos deverá deixar
sequelas para o próximo governo, segundo especialistas, mesmo
que a futura política econômica seja comprometida com
o crescimento econômico, a geração de empregos
e a distribuição de renda.
Economista do
Departamento de Estudos Sindicais da Unicamp (Universidade de Campinas),
Antônio Luís dos Santos afirma que as condições
macroeconômicas atuais indicam a necessidade mínima
de quatro anos para reverter o atual processo de desvalorização
da renda do trabalhador.
Somente após
esse período, segundo Santos, seria possível ampliar
o número de trabalhadores ocupados no país e gerar
um número de vagas capaz de absorver o contingente anual
de novos trabalhadores incorporados à população
economicamente ativa -as precondições para a valorização
da renda do trabalho.
Segundo o IBGE,
a queda dos rendimentos é resultado direto do aumento da
população desempregada do país. Embora tenha
sido verificado, entre abril de 2001 e abril deste ano, crescimento
de 1,8% na taxa de ocupação, o aumento tem sido insuficiente
para reduzir os índices de desemprego.
Isso porque,
no mesmo período, identificou-se crescimento ainda maior
da população economicamente ativa e da taxa de desocupação
do país. Com isso, afirmam economistas, a tendência
é que os rendimentos continuem a cair no curto e médio
prazos.
"Com tanta
gente desempregada, a tendência é que os empregadores
demitam para recontratar, depois, alguém que exerça
as mesmas funções do demitido por um salário
menor. Essa tem sido uma tendência do mercado de trabalho
em geral", diz Santos.
A economista
Shyrlene Ramos de Souza, do Departamento de Emprego e Renda do IBGE,
acredita, no entanto, ser possível reverter o atual processo
de queda dos rendimentos do trabalhador.
Para ela, qualquer
movimento em favor do crescimento econômico já deverá
se refletir na melhoria do emprego e, consequentemente, da renda
do trabalhador.
Já o
economista da Unicamp afirma que há necessidade de uma taxa
de crescimento anual de 4% para pelo menos diminuir a tendência
de queda da renda do brasileiro.
No entanto dadas
as atuais restrições ao crescimento (como a alta taxa
de juros e os déficits da balança de conta corrente
e da balança comercial), Santos acredita que somente após
quatro anos será possível voltar aos níveis
de meados da década de 90.
Menos pessimista,
o professor da USP José Paulo Chahad identifica no aumento
das exportações a precondição para a
reversão da queda dos rendimentos do trabalhador brasileiro.
"As exportações movimentam toda uma cadeia produtiva
geradora de empregos", afirmou.
(Folha de
S. Paulo)
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Só
educação não reduz desigualdade
O progresso
educacional do Brasil têm sido muito lento em comparação
com outros países e inclusive com relação a
vizinhos pobres da América Latina. Por isso, o país
não pode esperar pela educação para reduzir
a extrema desigualdade que hoje faz com que 10% da população
detenha 50% da renda no Brasil. Essa foi a tese defendida, ontem,
pelo professor Naércio Aquino Menezes-Filho, da Universidade
de São Paulo (USP).
Menezes-Filho
sustenta a avaliação de que - ainda que a educação
explique 50% da desigualdade da renda no país - o Brasil
precisa de medidas alternativas para reduzir a extrema disparidade
entre ricos e pobres na economia brasileira e também precisa
acelerar a escolaridade da população. No ritmo em
que a escolaridade média da população brasileira
vem evoluindo, a educação só ajudaria a reduzir
a desigualdade a partir de 2027, avaliou Menezes-Filho, em seminário
organizado pelo Instituto Futuro Brasil (IFB) com apoio do Valor.
Menezes-Filho
mostrou que a geração nascida no Brasil em 1930 alcançou,
em média, três anos de estudo. Quem nasceu em 1970,
tem hoje 6,5 anos de estudo. Até El Salvador teve um desempenho
melhor que o brasileiro. A geração que nasceu em 1930
naquele país passou, em média, apenas dois anos na
escola. Quem nasceu em 1970, alcançou uma escolaridade média
de 7 anos, superior, portanto, a do Brasil.
Para o professor
da USP, os dois principais problemas educacionais do país
são manter jovens pobres na escola e aumentar o ingresso
de pessoas no ensino superior. "Mas se 40% da população
ganha menos que dois salários-mínimos, como pagar
uma faculdade privada?", questionou Menezes-Filho.
No debate provocado
pela exposição de Menezes, duas posições
mostraram-se antagônicas. De um lado, o deputado federal Aloizio
Mercadante (PT-SP). Do outro, José Márcio Camargo,
professor da PUC-RJ e Cláudio Haddad, presidente do IFB e
do Ibmec Educacional. A principal divergência foi com relação
ao futuro do ensino superior público. Todos concordaram que
programas do tipo bolsa-escola estão entre os melhores instrumentos
para garantir o acesso e a permanência da população
infantil carente na escola.
Camargo defendeu
enfaticamente que "o governo deve usar todo dinheiro da educação
para manter crianças pobres na escola". O alvo, disse,
é o ensino básico. "O país não
tem dinheiro para investir na educação dos adultos.
É cruel, mas é assim. Devemos esquecer ensino público
de nível superior", defendeu.
Para Mercadante,
o Brasil precisa aumentar os gastos nos programas de bolsa-escola
e também "manter políticas públicas que
garantam o acesso da população mais pobre à
universidade". Uma grande maioria dos jovens que trabalha,
argumentou, não possui renda suficiente pagar uma faculdade.
Haddad reforçou
a tese de camargo. Para ele, o ensino superior gratuito precisa
acabar. Ele defende um mecanismo eficiente de financiamento da educação
de nível superior. "Mas o programa não pode ser
igual ao do passado, quando o nível de inadimplência
chegou a 70%", disse ele. "O financiamento precisa ser
um programa sério, com nome no SPC de quem não pagar",
argumentou.
Mercadante defendeu
um aumento das vagas de ensino superior e mostrou que o acesso da
população mais pobre à universidade diminuiu
nos anos 90. Em 1990, disse ele, 8,5% das vagas no ensino superior
eram ocupadas por alunos oriundos da parcela 50% mais pobre da população.
"Hoje, esse percentual caiu para 6,9%, enquanto 48% das vagas
são ocupadas pelos 10% mais ricos", lembrou o deputado
petista.
Os números
apresentados por Menezes-Filho mostram que os trabalhadores com
ensino fundamental completo ganham em média três vezes
mais que os analfabetos. E àqueles com superior completo
(15 a 16 anos de estudo) apresentam um rendimento salarial médio
12 vezes superior àqueles sem escolaridade.
Esses diferenciais,
contudo, diminuíram entre 1977 e 1997. "A diferença
salarial entre os mais e os menos educados está se reduzindo",
explicou. Segundo ele, em 1977, um ano de estudo permitia, em média,
um diferencial de salário de 17%. Em 1997 esse ganho caiu
para 14%.
Haddad mostrou
que o Brasil gasta 6% do PIB em educação (incluindo
gastos familiares e do setor público). É muito próximo
ao gasto médio de 6,5% do PIB dos países da Organização
de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O gasto per capita, contudo, é de US$ 350 no Brasil e de
US$ 1,4 mil nos países da OCDE.
(Valor Econômico)
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