Crise
norte-americana atinge em cheio economia brasileira
A economia brasileira
será atingida por um verdadeiro ''arrastão'' de desemprego
e desaquecimento de várias atividades nos próximos
meses. A razão é a crise internacional acentuada pelos
atentados terroristas nos Estados Unidos.
Economistas, dirigentes empresariais e sindicalistas acreditam que
os cortes e anúncios de férias coletivas que estão
sendo feitos em fábricas, montadoras e no setor de serviços
- como nas companhias aéreas e de telefonia - prometem chegar,
em breve, a fornecedores, comércio e em diferentes pontos
da economia.
''O desemprego
vai crescer primeiro no setor industrial e nos serviços diretamente
atingidos pelo impacto dos atentados. Mas depois chegará
ao resto da economia'', prevê o economista Márcio Pochmann,
da Universidade de Campinas e secretário municipal de Trabalho
de São Paulo. Os índices de desemprego ainda não
registraram as primeiras conseqüências da crise deflagrada
pelos atentados. Mas a expectativa é de que, a partir deste
mês, o efeito começará a ser sentido. ''Não
tem jeito. O desemprego irá crescer. O quanto é que
é difícil especular'', prevê Márcio Pochman,
especialista na área de trabalho e renda da Unicamp.
Os sindicalistas
terão que lutar não só para conseguir reposição
salarial, mas, principalmente, para tentar manter postos de trabalho.
A economia brasileira, que já estava desacelerada nos últimos
meses, deve chegar ao fim do ano em clima de recessão. A
previsão da maioria das consultorias econômicas é
que, na melhor das hipóteses, o Produto Interno Bruto (PIB)
- que é a soma de todos as riquezas do país - crescerá
este ano em torno de 2%. ''Isso é muito pouco se levarmos
em consideração que a população brasileira
cresce em torno de 2% ao ano. É como se estivéssemos
patinando'', explica o economista Lauro Faria.
Leia mais
Onda
de desemprego vai se alastrar
Índices defasados
Terrorismo
poderá levar emergentes à recessão
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do real também prejudica
Crise
nos EUA terá impacto na América Latina
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Onda
de desemprego vai se alastrar
A economia brasileira
será atingida por um verdadeiro ''arrastão'' de desemprego
e desaquecimento de várias atividades nos próximos
meses por conta das demissões que foram anunciadas nas últimas
semanas diante da crise internacional, acentuada pelos atentados
terroristas nos Estados Unidos.
Economistas, dirigentes empresariais e sindicalistas acreditam que
os cortes e anúncios de férias coletivas que estão
sendo feitos em fábricas, montadoras e no setor de serviços
- como nas companhias aéreas e de telefonia - prometem chegar,
em breve, a fornecedores, comércio e em diferentes pontos
da economia.
Hoje, funcionários
da Embraer fazem uma manifestação na porta da fábrica
de aviões, em São José dos Campos (SP), para
protestar contra as 1.800 demissões que foram anunciadas
pela diretoria na última sexta-feira. Os sindicalistas farão
piquetes na entrada da Embraer para impedir a entrada de funcionários.
No fim de semana,
representantes da empresa e sindicalistas se reuniram, quando foi
apresentada a proposta de redução da jornada de trabalho,
na tentativa de poupar cortes de pessoal, mas não houve acordo.
''Percebemos que a empresa quer mesmo é fazer uma reestruturação.
A crise internacional existe, mas parece que há um certo
exagero na dimensão das conseqüências. Vamos pagar
essa conta'', lamentou o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos
de São José dos Campos, Edemir Marcolino Silva.
Procurada pelo
Jornal do Brasil, a direção da Embraer não
quis falar sobre o assunto. A assessoria de imprensa da empresa
informou apenas que a lista de demissões sairá hoje
à tarde e que as justificativas para o ajuste já foram
explicadas na sexta-feira.
Em entrevista
coletiva, a Embraer havia anunciado que, diante do novo cenário,
não é possível manter o quadro de 12,3 mil
funcionários. Segundo o presidente da companhia, Maurício
Botelho, houve reprogramação na entrega de aeronaves
por conta da crise desencadeada pelos ataques nos EUA. ''Este ano
serão entregues 160 aviões, contra previsão
anterior de 185. No próximo ano as entregas vão cair
de 220 para 135'', anunciou.
Comerciantes
de São José dos Campos, o segundo maior município
arrecadador de ICMS em São Paulo (perde apenas para a capital),
com 500 mil habitantes, estão preocupados com as conseqüências
dos cortes. ''A crise começou nas indústrias e vai
se alastrar como rastilho de pólvora por toda a cadeia produtiva'',
prevê o presidente da Associação Comercial de
São José dos Campos, Paulo Saes.
Ele calcula
que, com as demissões, cerca de R$ 15 milhões deixarão
de circular na região em contas-salário. ''É
uma perda muito significativa'', frisa Saes. O dirigente comercial
diz que o número de cheques sem fundos já vinha aumentando
e que o Dia das Crianças, na próxima semana, promete
ser o melhor termômetro da crise.
São José
dos Campos também foi afetada pelas férias coletivas
para 4 mil funcionários da General Motors e pelas demissões
de 900 empregados da Ericsson, que se mudou para Sorocaba (SP).
Outras montadoras, como a Fiat e a Volkswagen, também anunciaram
férias coletivas, totalizando cerca de 13 mil metalúrgicos
parados.
O Sindicato
dos Metalúrgicos de São José dos Campos prevê
que nos próximos dias alguns fornecedores da Embraer, como
a Aeroservice e a Resintec, começarão a dispensar
funcionários. ''Infelizmente, isso vai ser feito dominó
quando cai, um em cima do outro'', compara Marcolino da Silva, o
diretor do Sindicato, que estima demissões em torno de 1.500
empregados nos fornecedores e no comércio local.
A crise também
chegou ao setor de serviços. A Varig anunciou 1.700 dispensas
há duas semanas, na Embratel foram 630 demitidos, além
de 300 na Telemar e 250 na Brasil Telecom. A Varig justificou, durante
o anúncio dos cortes, que o setor de aviação
como um todo está atravessando fortes turbulências,
não só no Brasil como também no mundo.
O governo americano
já anunciou um pacote de ajuda às empresas aéreas
do país no valor de US$ 15 bilhões e a estimativa
é de que um megapacote para reerguer outros setores da economia
dos EUA pode chegar a US$ 100 bilhões. No Brasil, possibilidade
similar de ajuda para alguns segmentos já vem sendo discutida
por empresários e economistas. Na semana passada, o governo
anunciou que irá ajudar empresas aéreas que tiveram
problemas com o forte aumento dos custos nos seguros de aviões
após os atentados.
''O desemprego
vai crescer primeiro no setor industrial e nos serviços diretamente
atingidos pelo impacto dos atentados. Mas depois chegará
ao resto da economia'', prevê o economista Márcio Pochmann,
da Universidade de Campinas, e secretário municipal de Trabalho
de São Paulo.
O vice-presidente
da Associação Nacional de Executivos Financeiros (Anefac),
Miguel Ribeiro de Oliveira, prevê que os sindicalistas agora
terão que lutar não só para conseguir reposição
salarial, mas, principalmente, para tentar manter postos de trabalho.
''Essa deverá ser a prioridade número um'', prevê
Oliveira. Por enquanto, os índices oficiais de desemprego
divulgados ainda não refletiram o impacto da crise, por serem
anteriores aos atentados.
(Jornal do Brasil)
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Índices
defasados
Os índices
de desemprego ainda não registraram as primeiras conseqüências
da crise deflagrada pelos atentados. No entanto, a expectativa de
economistas é de que, a partir deste mês, o efeito
começará a ser sentido. ''Não tem jeito. O
desemprego irá crescer. O quanto é que é difícil
especular'', prevê Márcio Pochman, especialista na
área de trabalho e renda da Unicamp e secretário de
trabalho municipal de São Paulo.
Ele explica
que as cidades mais industriais, como São José dos
Campos e as que formam o chamado ABC paulista, vão sentir
mais rapidamente o crescimento das dispensas. No entanto, depois,
esse fenômeno deverá se refletir também em outros
pontos do país.
De acordo com
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a taxa de desemprego aberto de agosto, mês anterior aos atentados,
nas seis principais regiões metropolitanas do país
(Rio, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Salvador e Porto
Alegre) ficou estável em 6,2%, repetindo o resultado de julho
deste ano.
O economista
Lauro Vieira de Faria prevê que a economia brasileira, que
já estava desacelerada nos últimos meses, chegue ao
fim do ano em clima de recessão. ''O ciclo de demissões
era a má notícia que faltava para empurrar a economia
ladeira abaixo'', conclui.
A previsão
da maioria das consultorias econômicas é que, na melhor
das hipóteses, o Produto Interno Bruto (PIB) - que é
a soma de todos as riquezas do país - crescerá este
ano em torno de 2%. O número com que o governo trabalha,
de acordo com previsão do Instituto de Pesquisa Econômica
e Aplicada (Ipea), é ainda mais sombrio: crescimento de apenas
1,5%.
''Isso é
muito pouco se levarmos em consideração que a população
brasileira cresce em torno de 2% ao ano. É como se estivéssemos
patinando'', explica Lauro Faria. Na avaliação do
vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos
Financeiros, Miguel Ribeiro de Oliveira, o ''arrastão'' do
desaquecimento econômico promete atingir em cheio o Natal.
E qual será
a solução para amortecer o impacto da crise? Há
quem defenda redução dos juros básicos da economia,
enquanto outros consideram aceitável a ajuda do governo para
setores mais prejudicados.
''Não
precisamos de benesses. Só de juros mais baixos'', defende
o presidente da Associação Comercial de São
José dos Campos, Paulo Saes. ''É aceitável
que, dependendo do setor, o governo use parte de seu superávit
para evitar uma recessão forte'', avalia o economista Márcio
Pochmann. Impostos - Lauro Vieira de Faria adverte que a ajuda direta
para empresas seria temerária porque poderia levar à
uma fuga de capitais e a uma pressão maior do dólar.
''Esse é um xadrez muito complicado para mexer'', alerta.
Miguel Oliveira
defende a redução dos juros e adverte que a ajuda
para empresas poderá bater no bolso de todos os brasileiros.
''Como o governo não tem mais de onde tirar dinheiro, é
possível que resolva aumentar impostos. Isso seria péssimo'',
diz.
(Jornal do Brasil)
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