|
Interior
do Nordeste precisa lutar para manter prosperidade
De acordo com
dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
a economia do Nordeste é a que mais cresce no país.
O PIB (Produto Interno Bruto) da região aumentou e a taxa de desemprego
caiu em relação ao resto do Brasil. Foram 777 novas indústrias no
último ano e meio, com 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos,
aquecendo principalmente o interior nordestino.
A instalação de indústrias no sertão causou impacto na economia
das pequenas cidades e fez com que shopping centers, academias de
ginástica, boates, restaurantes e carros importados fossem incorporados
à paisagem.
Mas tal prosperidade corre riscos. Primeiro, porque muito do que
foi investido até agora chegou por meio da guerra fiscal. Quando
for regulamentada a Lei de Responsabilidade Fiscal, já aprovada
no Congresso, os governos estaduais ficarão praticamente proibidos
de conceder incentivos às empresas.
Outro problema grave está no ensino. Como as indústrias só contratam
quem possui, no mínimo, o ensino fundamental completo, a porcentagem
de crianças nas escolas passou de 70% para 100% em determinados
municípios. Porém, os dados do Censo Escolar do MEC 1999 apontam
deficiências preocupantes.
Cerca de 44% das escolas de ensino fundamental do Nordeste não possuem
nem mesmo energia elétrica e 10% não têm abastecimento de água.
Só 10,5% das instituições possuem bibliotecas e menos de 2% possuem
laboratório de ciências. Laboratórios de informática são uma realidade
para pouco mais de 3% delas e somente 1% possui acesso à Internet.
Por fim, apesar do crescimento do PIB, a taxa de pobreza no Nordeste
continua sendo a mais alta do país, atingindo 52% de seus habitantes,
contra 16% no Sudeste. Concentração de renda e mortalidade infantil
são dramas ainda sem solução na região, cujos índices são piores
do que a média nacional em ambos os casos.
(Veja)
Leia
mais:
- Retrato da miséria digital
no Brasil
|
|
Subir
|
|
Mudança
no sertão
Numa pesquisa
divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
sobre o crescimento industrial brasileiro, o Ceará despontou como
o Estado que mais está crescendo. Com base nos dados do IBGE, verifica-se
ainda que o produto interno bruto (PIB) da Região Nordeste aumentou
mais do que o do restante do país. Mais: no Nordeste, a taxa de
desemprego vem caindo nos últimos anos, ficando abaixo da média
nacional. Os números mostram que, nos últimos dois anos, a região
recebeu novas empresas ao ritmo de uma por dia. No total, elas geraram
mais de 1 milhão de empregos diretos e indiretos. Calcula-se que
a entrada de recursos tenha ultrapassado a casa dos 15 bilhões de
reais.
A conseqüência dessa injeção de dinheiro pode ser conferida nas
capitais, mas, pela primeira vez, é o interior que chama a atenção
dos estudiosos. Em Campina Grande, na Paraíba, foi construído o
primeiro McDonald's de todo o interior do Norte e Nordeste. Desde
que foi inaugurada, no final do ano passado, a casa atrai excursões
das cidades vizinhas. Os levantamentos feitos pelas secretarias
estaduais de Indústria e Comércio mostram que algumas localidades
semiletárgicas do sertão estão levando um choque de insulina com
a chegada dos novos empreendimentos. O resultado é que em algumas
cidades surgiram shopping centers, academias de ginástica, boates,
restaurantes, carros importados.
O processo de desenvolvimento é feito em ondas. Quando uma empresa
chega a uma cidade, ela emprega mão-de-obra. Também contrata uma
empresa menor para fornecer a comida dos funcionários, outra para
servir café e uma pequena transportadora, para ficar em alguns exemplos
clássicos. Essa gente toda passa a receber salário e começa a consumir
volumes que seriam considerados insignificantes numa grande cidade.
Por lá, faz diferença. Veja-se o caso particular do arquiteto Expedito
Pontes, de 41 anos, que mora na cidade de Sobral, a 238 quilômetros
de Fortaleza. Para ele, a mudança em sua vida foi trazida pela chegada
da fábrica de calçados Grendene, que se instalou no município há
seis anos. Pontes não trabalha para a Grendene nem para as outras
seis fábricas de calçados que também foram atraídas para Sobral.
O que ele faz é construir casas destinadas em parte a funcionários
das novas empresas. Recebe 25 encomendas por semana. Chega a faturar
assombrosos 500.000 reais em um bom mês com o crescimento da cidade.
Para o caixa dos municípios, as empresas acabam operando milagres.
A cidade de Araripina, no interior de Pernambuco, atravessava uma
fase de decadência. Até a década de 70, vivia da colheita de mandioca.
Com as secas, precisou encontrar uma nova fonte de renda. Hoje,
a região conta com 320 indústrias gesseiras, responsáveis pela produção
de 95% do gesso consumido no país. Em poucas cidades nordestinas
a industrialização produziu tanto impacto quanto em Maracanaú, a
18 quilômetros de Fortaleza. A maioria das noventa indústrias que
se instalaram no município só contrata quem tenha o diploma de 1º
grau, no mínimo. O resultado foi imediato. Até 1997, 70% das crianças
iam à escola regularmente. O índice subiu para 100%.
Se o país sertanejo tivesse uma capital, ela seria Petrolina, em
Pernambuco. Enquanto no resto do Brasil o número de celulares cresceu
25 vezes de 1994 até hoje, em Petrolina sua presença aumentou quarenta
vezes. Prédios de luxo, até outro dia uma novidade no lugar, passaram
a fazer parte do cenário. Quem quiser morar em imóvel alugado na
orla do São Francisco, hoje toda urbanizada, precisará desembolsar
850 reais por mês, pouco menos que um apartamento de três quartos
num bairro nobre de São Paulo. Petrolina tem hoje duas faculdades,
425 indústrias e shopping com duas salas de cinema, inaugurado em
1995. O crescimento da cidade é conseqüência da fruticultura. Um
dos beneficiados indiretos do progresso local é Eurico de Sá Cavalcanti,
de 65 anos. Na década de 70, ele comprou um ônibus para fazer transporte
de passageiros. Em meados dos anos 90, a frota era de 75 unidades
e duplicou nos últimos cinco anos. Seu patrimônio está avaliado
em 10 milhões de reais.
O ciclo de prosperidade não alterou o panorama geral do Nordeste.
A taxa de pobreza, a mais alta do país, atinge 52% de seus habitantes
contra 16% no Sudeste. Com índices recordes de concentração de renda,
o quadro nordestino é tenebroso no geral. A cada 100 nascimentos,
seis crianças morrem, praticamente o dobro da média nacional. Para
reverter esse quadro, as administrações estaduais estão lançando
mão dos artifícios que estejam a seu alcance, inclusive a guerra
fiscal. O Piauí, por exemplo, isenta o empresário do pagamento de
impostos por até quinze anos. Em Alagoas, os incentivos fiscais
trouxeram 200 novas indústrias e um salto de 50% no PIB industrial.
Para as pessoas diretamente atingidas pela mudança, essas novidades
são bem-vindas.
O Nordeste já passou por ciclos de desenvolvimento. O principal
deles foi ligado à produção de cana-de-açúcar, que fez a região
experimentar o apogeu nos séculos XVI e XVII. Depois da cana veio
o algodão, que também entrou em decadência. Há décadas o Nordeste
não consegue desenvolver uma nova vocação econômica. Além disso,
vem sendo castigado por secas que engrossam a migração de nordestinos
para o restante do país. Esse novo ciclo de desenvolvimento é um
alento, mas pode estar com os dias contados. Em uma tentativa de
impor limites à guerra fiscal, foi aprovada pelo Congresso a Lei
de Responsabilidade Fiscal. Quando for regulamentada, os governos
estaduais ficam praticamente proibidos de conceder incentivos às
empresas que se instalam na região. Vão ter de encontrar outra forma
para manter a adrenalina do crescimento em ação.
(Gisela Sekeff e Luiz Claudio Ferreira/ Veja - 24/05/00)
|
|
Subir
|
|
|
|