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Semana de 29.10.01 a 04.11.01

 

Oportunidades de trabalho melhoram doentes mentais

Aos poucos, ganham força no Brasil iniciativas que pretendem tirar os doentes mentais da rotina casa-clínica. São programas que criam oportunidades de trabalho e de convívio com outras pessoas. Trabalhos como esses são fruto de 13 anos de luta do movimento antimanicomial, integrado por profissionais de saúde. O grupo defende estratégias de tratamento nas quais o paciente possa ser atendido em ambulatórios, preservando sua vida em sociedade.

Quem for ao Bar do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (SP) vai testemunhar uma iniciativa de vanguarda nesta área. Há um ano, pacientes do serviço do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), da Secretaria Estadual de Saúde, servem, cozinham e cuidam das finanças do bar. A Cia Ueinzz é um grupo de teatro formado por pacientes psiquiátricos do hospital-dia A Casa, instituição pública de São Paulo que oferece atendimento ambulatorial, sem internação. Na semana passada, o grupo comemorou cinco anos.

Não são todos os doentes que podem participar de projetos que aumentam a participação social de pacientes psiquiátricos. Em geral, são pacientes em recuperação e mais abertos ao convívio. A prática tem mostrado que projetos do gênero são fundamentais para esses doentes. O resultado é que os pacientes adquirem maior independência e segurança. Aos poucos, eles voltam a acreditar no próprio potencial, e a sociedade também.


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- Mente viva
- Olimpíadas muito especiais
- Chance de contato

 
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Mente viva

Você entra no teatro e a peça começa. Tem alguma coisa diferente, mas você não sabe o que é. Um dos atores nitidamente esquece a fala, mas alguém sopra o trecho esquecido num ato tão natural que você se pergunta se aquilo já fazia parte do roteiro. No caso da Cia Ueinzz, faz. Esse é um grupo de teatro formado por pacientes psiquiátricos do hospital-dia A Casa, instituição pública de São Paulo que oferece atendimento ambulatorial, sem internação.

Na semana passada, o grupo comemorou cinco anos de estrada com a apresentação da peça Gothan SP, no Teatro Oficina, também em São Paulo. Dirigidos por Sérgio Penna e Renato Cohen, ali são todos atores. "Sair da clínica, da forma tradicional de terapia, era uma meta para A Casa. Com a nossa chegada formou-se um braço nesse trabalho. E o que acontece aqui é profissional", conta Penna, que dirige o grupo desde o início. Felizmente, o exemplo da trupe não é o único do gênero.

Aos poucos, ganham força no Brasil iniciativas que pretendem tirar os doentes da rotina casa-clínica e oferecer-lhes oportunidades de trabalho e de convívio com outras pessoas. Quem for ao Bar do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, na capital paulista, por exemplo, vai testemunhar outra iniciativa de vanguarda nesta área. Ali, há um ano, pacientes do serviço do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), da Secretaria Estadual de Saúde, servem, cozinham e cuidam das finanças do bar.

Trabalhos como esses são fruto de 13 anos de luta do movimento antimanicomial, integrado por profissionais de saúde e que defende, entre outras coisas, estratégias de tratamento nas quais o paciente possa ser atendido em ambulatórios, preservando sua vida em sociedade. "O projeto do bar prova que há espaço para iniciativas desse tipo. Lá, eles aprendem e quem frequenta também", conta Jonal Melmam, psiquiatra e coordenador do programa DiverCidade, que organiza eventos e administra o bar.

"Acho muito legal que as pessoas venham aqui e se perguntem quem é louco e quem não é. Essa é uma forma de mostrar para quem não sabe nada sobre a loucura como é possível conviver sem problemas com os pacientes", diz Cristina Filizzola, 22 anos, estudante do quarto ano de psicologia que trabalha no bar. Mas é na voz dos próprios doentes que a importância desse trabalho fica clara. Quase todos já estiveram internados, mas agora garantem que nunca estiveram tão bem.

Carlos Augusto de Oliveira, conhecido como Carlão, tem 38 anos e trabalha como garçom. Ele já foi internado 18 vezes (a mais longa internação durou três anos). "É muito sofrimento, é um castigo. Hospitais psiquiátricos fazem mal para a saúde", garante. "Agora, adoro esse trabalho. Faz bem para a mente", conta.

No entanto, não são todos os doentes que podem participar de projetos como esses. Em geral, integram essas iniciativas pacientes - os médicos preferem chamá-los de usuários do serviço ou cooperados - em recuperação e mais abertos ao convívio. A prática tem mostrado que projetos do gênero são fundamentais para esses doentes.

"Essas pessoas precisam trabalhar, ganhar dinheiro e ter onde morar. Relacionamento, contato com pessoas diferentes e ser produtivo fazem parte do tratamento. Aqui temos uma face voltada para a saúde mental e outra para o mercado, para o mundo", explica o psiquiatra Melam. O resultado é que os pacientes adquirem maior independência e segurança. Aos poucos, eles voltam a acreditar no próprio potencial, e a sociedade também.

No grupo teatral, os progressos são evidentes. "No começo, tive um impacto, mas logo me acostumei. Aqui são todos atores. A única diferença desse grupo para outros é que o trabalho é mais dramático", garante o diretor Cohen. "O importante é discutir as noções de sanidade, mostrar que essas pessoas são vivas. Eles, inclusive, demonstram uma originalidade que muitos artistas penam para achar", conta Peter Pelbart, coordenador do projeto teatral. Gothan SP é o terceiro espetáculo da trupe e tem como ponto de partida o livro Cidades invisíveis, de Ítalo Calvino, inserções de poemas de Paulo Leminsky, Chacal e Ana Cristina César.

(IstoÉ)

 
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Olimpíadas muito especiais

Quando se pensa em competição esportiva, logo vêm à cabeça os atletas de primeira linha e os recordistas mundiais, mas existem outros competidores superando limites. São os participantes das Olimpíadas Especiais, um programa de treinamento e competição para deficientes mentais realizado há 13 anos no Brasil. De 6 a 12 de novembro, acontecem as disputas entre os atletas de São Paulo. As competições usam as regras oficiais, mas os critérios são outros.

"Todos podem participar, não há exclusão e mais importante do que ganhar é ultrapassar seus próprios limites", conta Vanilton Senatore, diretor nacional das Olimpíadas e um dos criadores do programa no Brasil. Nas competições, o desafio não é selecionar os melhores, mas fazer com que todos participem de forma justa. Para isso há sempre oito finalistas e todos sobem no pódio. A seleção de quem vai para as competições nacionais e internacionais é feita por sorteio entre os primeiros lugares das várias categorias. Tudo para tornar a competição acessível para todos.

Daniel Martins, 21 anos, já participou de uma Olimpíada e treina toda semana como goleiro do time de futebol da escola Indianópolis, de São Paulo, especializada no atendimento a deficientes mentais. Bem-humorado, ele se entusiasma com as oportunidades que os jogos proporcionam. "Participei de uma competição em Itanhaém, no litoral de São Paulo, fui à praia e ao baile, mas a casa caiu na hora do karaokê. Eu canto mal. Prefiro futebol", lembra.

O Brasil já participou de seis mundiais. Mas os esportistas não têm nenhum gasto. O dinheiro é obtido por meio de patrocínios e verba pública. Para participar, basta ser um atleta especial e procurar um comitê de organização na cidade. "E, se não tivermos um centro lá, damos jeito de montar um", garante Senatore.

(IstoÉ)

 
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Chance de contato

Outro trabalho chama a atenção na luta pela ruptura dos antigos modelos dos tratamentos psiquiátricos. Dessa vez na esfera privada. Coordenado pelo psiquiatra Moyses Rodrigues da Silva Junior, de São Paulo, o Projetos Terapêuticos tem o objetivo de facilitar o contato social de pessoas que passaram por crises - desde os que necessitaram ser internados até vítimas de depressão, por exemplo - e apresentam dificuldades para se relacionarem. "Trabalhamos em grupo e cada um traz um amigo, namorada, professor ou alguém que goste para participar das sessões", conta Moyses.

Nas reuniões, os pacientes narram suas histórias e trocam idéias, numa espécie de reaprendizado de como conviver. O primeiro grupo reuniu-se de dezembro a julho e o segundo está em formação. Os encontros no consultório são feitos duas vezes por semana, mas há uma rede de contato virtual que conta com mural para recados, avisos e convites, sala de conversa e terapeutas online duas horas por dia. "Mostramos que dá para fazer algo em oposição aos modelos tradicionais de tratamento e que funciona melhor", defende o psiquiatra.

(IstoÉ)

 
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