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exposição
23/03/2005
"Brasil índio" leva multidões a Galeries Nationales du Grand Palais, em Paris

Manoel Francisco Pires da Costa, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, sorria sem parar anteontem, de alívio, ao ver a multidão que compareceu ao grande evento de abertura do ano cultural do Brasil na França: a exposição “Brasil índio: As artes dos ameríndios”, nas majestosas Galeries Nationales du Grand Palais, em Paris.
Inicialmente financiada pelo Banco Santos, por um triz ela não saiu: o banco foi interditado em novembro, pelo Banco Central, deixando os organizadores sem dinheiro suficiente para bancar a exposição. Na última hora, o próprio Grand Palais teve que entrar com uma parte do orçamento, mas fez os brasileiros assinarem um contrato dizendo que o primeiro retorno dos lucros vai para o museu.

Em meio a comentários de admiração dos convidados, Costa um dos patrocinadores do evento, confessava que há um mês era um homem desesperado:

Nossa participação só foi garantida em fevereiro, depois do carnaval. Se não tivéssemos tido um pouco de agilidade, teria sido difícil. O risco de não acontecer existiu, de fato. Felizmente, deu tudo certo.

Quatro ministros e Jorge Benjor
A abertura foi em grande estilo: dois ministros franceses, o da Cultura, Renaud Donnedieu de Vabres, e o das Relações Exteriores, Michel Barnier, além do ministro da Cultura brasileiro, Gilberto Gil, e da ministra da Cultura da Espanha, Carmen Calvo, compareceram. Uma parte da exposição é dedicada ao antropólogo Claude Lévi-Strauss, famoso por seu trabalho com os índios brasileiros e por recusar a idéia de que a civilização ocidental é “privilegiada” ou “única”. A lojinha do Grand Palais, que vende livros e artesanato indígenas, parecia uma feira: as pessoas compravam de tudo, brincos, colares, cartões-postais. Até o cantor Jorge Benjor, que desembarcou em Paris com Gilberto Gil depois de tocar com o ministro e a cantora Maria Rita num baile da princesa Caroline, em Mônaco, estava comprando bolsas. O cantor percorreu a exposição maravilhado, como se estivesse descobrindo a arte indígena brasileira:

Tem coisas aqui que parecem de costureiro francês. Estou vendo ali, ó, parece uma bolsa de Cartier. Os índios já faziam isso antes. E os cocares são tão elaborados... eu não sabia. É tudo muito bonito.

A “última hora” dos brasileiros, para surpresa dos franceses, deu certo. E muito. Com 350 peças que vão de magníficos cocares e vasos funerários a filmes mostrando os índios na época de hoje, a mostra é visualmente grandiosa e desperta fascínio na imprensa francesa. Ela traça o trajeto dos índios brasileiros, da Pré-História até os dias de hoje. O jornal “Le Figaro” a chamou de “deslumbrante”, ressaltando o “esplendor” dos objetos escolhidos. Gilberto Gil aposta no sucesso de público. Numa das últimas exposições do Grand Palais, dos pintores Turner, Monet e Whistler, o público chegou a seis mil pessoas por dia.

Tenho a impressão de que vai ser um momento magnífico da presença histórica do Brasil junto à França avalia o ministro Gil. A dimensão indígena da vida brasileira é uma das dimensões mais importantes. Os indígenas são o povo local, histórico. Nesta exposição há um panorama muito interessante sobre o que foram os índios no passado, o que são hoje e o que nos prometem ainda como contribuição importante à civilização brasileira no futuro.

A exposição começa com grandes fotos coloridas do artista Arthur Omar, em que troncos de árvores parecem esculturas, fruto de uma série de viagens que ele fez ao Amazonas, e que gerou a série Esplendor dos Contrários, publicada num livro, há pouco mais de um ano.

É uma percepção contemporânea, radical, sobre as formas. Quis olhar a forma não só no sentido documental, turístico, mas procurar renovar o olhar sobre a Amazônia, que está muito estereotipada, explicou Omar.

Depois, numa enorme sala, estão expostos vasos de cerâmica e grandes urnas funerárias, além de peças valiosas como uma tanga feita pelos índios marajoaras. A exposição traça a civilização dos marajoaras, dos maracas e dos aruas. A decoração sóbria da exposição feita por dois designers brasileiros, Daniela Thomas e Felipe Tassara, agradou ao público: cada peça tem destaque, como se fosse peça única. Cristina Barreto, arqueóloga e uma das organizadoras da exposição, explicava o significado das urnas funerárias aos jornalistas estrangeiros:

Os maracas deixavam os mortos ao ar livre. E, quando os corpos se decompunham, pegavam os ossos, pintavam-nos ou esculpiam-nos, e os depositavam, seguindo uma ordem rigorosa, dentro de vasos com a cabeça em cima. As urnas ficavam na aldeia, e eles conversavam com elas, pediam conselhos. Os ancestrais continuavam a fazer parte da vida da tribo.

Numa outra sala, dentro de enormes cilindros iluminados, destacam-se máscaras. Descobre-se ainda uma impressionante cabeça mumificada pelos munduruku (1880), lembrando que este povo guerreiro mumificava as cabeças de seus inimigos, acreditando que elas tinham um poder mágico. Depois do passado, filmes apresentam ao público os índios de hoje, com seus ritos e danças. Mas é a sala dos cocares que mais chama atenção. Diademas monumentais com plumas multicoloridas de araras fizeram os franceses sonhar. A mostra é um dos 400 eventos sobre o Brasil planejados para acontecer na França até o fim do ano.

DEBORAH BERLINK
do jornal O Globo

   
 
 
 

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