O
paradisíaco Carandiru
Se as promessas eleitorais
fossem cumpridas, a paisagem do Carandiru seria hoje bem diferente e produziria
um dos melhores exemplos de revigoramento da cidade de São Paulo.
No lugar das cenas de irados
presos seminus amotinados, uma reserva de mata atlântica integrada a um
parque de 427 mil m2 - cerca de 60 campos de futebol ou de um terço do
Ibirapuera - estaria prestes a ser concluída.
Em torno do parque, repleto
de crianças e casais de namorados, trabalhadores substituiriam marginais
em prédios reformados, arejados, livres das grades, onde passariam por
programas de reciclagem profissional. Em vez de cadeias, salas de aula, auditórios
e centros de exposição.
Quando disputava a reeleição,
o governador licenciado Mário Covas prometeu desativar o Carandiru, anunciando
um presente à degradada zona norte. Em parceria com o Instituto dos Arquitetos
do Brasil (IAB), o governo estadual promoveu concurso e escolheu o projeto que
convertia aquela área na Universidade do Trabalhador. "O Carandiru
é um câncer urbano", diz o presidente do IAB, Gilberto Belleza,
lamentando o arquivamento da idéia.
Os 7.000 presos seriam espalhados
pela cidade em cadeias menores, mais facilmente controláveis. O plano foi
abortado pelo aumento da eficiência policial: nunca se prendeu tanta gente.
Superlotaram-se ainda mais os distritos, as novas construções que
ajudariam a tornar inativo o Carandiru logo foram ocupadas. "A conta não
fecha", afirma o secretário de Segurança Pública, Marco
Vinício Petrelluzzi.
A conta não fecha
pois anualmente a população carcerária aumenta em cerca de
10 mil pessoas; ao final do ano, o Estado deverá ter 100 mil presos. Para
dar vazão ao crescimento, teria de ser levantada uma nova cadeia de porte
médio por mês, acarretando gasto de R$ 20 milhões, só
para tudo continuar como está -uma situação que, como mostram
as rebeliões, não serve para abrigar com mínimo de respeito
os presos, muitos menos para devolvê-los melhores ao convívio social.
Até ontem, o máximo
que as autoridades penitenciárias se dispunham a anunciar era a divisão
em quatro da Casa de Detenção, ocupando, porém, o mesmo espaço.
É algo semelhante à escola superlotada em que, para enfrentar muitos
alunos indisciplinados, chamam-se mais diretores.
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