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A AMADA Zélia evita falar da saúde do marido e reclama da “fábula” da velhice
free-lance para a Folha Online Publicado em agosto de 2000 Jorge Amado, 88, e a escritora Zélia Gattai, 83, se conheceram em 1945 em um comício em apoio à liberação de Luís Carlos Prestes na praça da República, em São Paulo. Estão juntos há 55 anos. Para muitos, hoje e sempre, Zélia é o seu grande amor. Os dois moram sozinhos em uma casa na Bahia, e Zélia o ajuda a se recuperar de sua depressão, decorrente da frágil saúde. A escritora, em entrevista por telefone à Folha Online, conta como surgiu a idéia de escrever “Cittá Di Roma” (com 20 mil exemplares já vendidos) e comenta a velhice: “quem disser que a velhice é uma maravilha está mentindo. Não é maravilha nenhuma, precisamos ter mais restrições. É um outro ritmo, mas tem como vantagem a maturidade”, diz. Ela evita falar sobre a doença do marido. Folha Online - No dia em que Jorge Amado completa 88 anos, como vocês pretendem comemorar a data? Zélia Gattai - A Casa da Cultura Jorge Amado, em Ilhéus, irá homenagear o Jorge. Eu acabei de enviar uma mensagem para eles avisando que não será possível nossa presença. (...) E eu também não quero passar o aniversário de Jorge longe dele (risos). Folha Online - O seu livro “Cittá Di Roma” está na lista dos mais vendidos... Zélia - Eu sei. Já está na terceira edição, com mais de 20 mil exemplares vendidos. Folha Online - A senhora prepara outro livro? Zélia - Sairá agora o livro “Jonas e a Sereia”. É um livro infantil a ser lançado no próximo mês. Conta a história de como nasceu a sereia. É a história de amor entre o pescador e o peixe. Folha Online - A senhora terminou de escrevê-lo agora? Zélia - Não, eu entreguei quase ao mesmo tempo que o “Cittá Di Roma”. O livro está lindo, tem ilustrações de Roger Melo. Aliás, esse menino é muito talentoso: já ganhou vários prêmios. Já ilustrou livros de Graciliano Ramos e vários ‘cobras’ por aí. Ele me mostrou algumas ilustrações e são lindíssimas. Eu o escrevi todo em redondilha (risos): muito romântico. Folha Online - Como surgiu a idéia de escrever “Cittá Di Roma”? Zélia - A idéia de escrever “Cittá Di Roma”, assim como os outros (11) livros, aconteceu de repente. O livro “Anarquistas Garças a Deus”, o primeiro livro, que escrevi aos 63 anos (há 20 anos) está na 30ª edição. Quando a editora Record fez uma edição comemorativa, fui ler para ver se tinha alguma modificação a fazer na edição nova e vi que eu não tinha escrito muita coisa. Muita coisa que eu aprendi nesses 20 e poucos anos... Com as imagens da novela “Terra Nostra”, da Rede Globo, do navio, eu relembrei o navio dos meus avós que vieram num daqueles, como imigrantes da Itália. Daí surgiu a idéia de fazer ‘Cittá di Roma’. Folha Online - A senhora escreve regularmente? Como é o seu dia a dia? Zélia - Assim que tenho uma idéia começo a escrever imediatamente. Faço um programa de trabalho, me fecho no gabinete e começo... Em geral, acordo muito cedo, enquanto a casa não está em movimento. É uma casa muito grande, muitos empregados. Agora que só mora eu e Jorge, eu conservo os empregados porque a casa não diminuiu; diminuíram as pessoas... Recebemos muita correspondência, imprensa do mundo inteiro e eu tenho de selecionar tudo sozinha. É uma vida muito trabalhosa. Agora mesmo eu tinha um bolo de cartas para responder e disse: não vou escrever, estou muito cansada! Folha Online - A senhora está lendo algum livro? Zélia - Estou lendo o livro do Sarney, “Saraminda”. É lindo... maravilhoso. Estou encantada. Levanto mais cedo para ter tempo de ler em paz. Tudo meu precisa ser programado porque eu não gosto de ser interrompida - isso para mim é a morte. Eu gosto de ler e me soltar. Folha Online - Há uma famosa entrevista com Jorge Amado em que ele diz que a velhice é uma grande chatice. O que a senhora pensa a respeito? Zélia - Quem disser que a velhice é uma maravilha está mentindo. Não é maravilha nenhuma, precisamos ter mais restrições. É um outro ritmo, mas tem sua vantagens como a maturidade. A gente fica conhecendo mais as pessoas, fica com mais conhecimento da vida. É tudo muito interno. Minha longa vida, minha larga experiência política me ensinaram o que é certo e o que é errado, me ensinaram a conhecer os homens. Folha Online - Seria uma boa fase para escrever? Zélia - Eu acho que sim. Quem escreve memórias como eu tem muita coisa para contar. Se a gente não viveu, se não criou um certo conhecimento da vida, não tem condições de escrever um livro. Acaba escrevendo uma coisa sem expressão. Folha Online - Como está o estado de saúde do Jorge Amado e como vocês pretendem comemorar o aniversário? Zélia - Ele não está escrevendo, mas eu não vou falar sobre isso. Ele está ao meu lado eu não vou fazer comentários. Vamos fazer um almoço em família. Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online. |
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