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A AMADA
Zélia evita falar da saúde do marido e reclama da “fábula” da velhice

Ana Ottoni - 02.mai.2000

Zélia Gattai autografa seu
livro, "Cittá di Roma", em SP
CECILIA NEGRÃO
free-lance para a Folha Online
Publicado em agosto de 2000

Jorge Amado, 88, e a escritora Zélia Gattai, 83, se conheceram em 1945 em um comício em apoio à liberação de Luís Carlos Prestes na praça da República, em São Paulo. Estão juntos há 55 anos. Para muitos, hoje e sempre, Zélia é o seu grande amor. Os dois moram sozinhos em uma casa na Bahia, e Zélia o ajuda a se recuperar de sua depressão, decorrente da frágil saúde.

A escritora, em entrevista por telefone à Folha Online, conta como surgiu a idéia de escrever “Cittá Di Roma” (com 20 mil exemplares já vendidos) e comenta a velhice: “quem disser que a velhice é uma maravilha está mentindo. Não é maravilha nenhuma, precisamos ter mais restrições. É um outro ritmo, mas tem como vantagem a maturidade”, diz.

Ela evita falar sobre a doença do marido.

Folha Online - No dia em que Jorge Amado completa 88 anos, como vocês pretendem comemorar a data?
Zélia Gattai -
A Casa da Cultura Jorge Amado, em Ilhéus, irá homenagear o Jorge. Eu acabei de enviar uma mensagem para eles avisando que não será possível nossa presença. (...) E eu também não quero passar o aniversário de Jorge longe dele (risos).

Folha Online - O seu livro “Cittá Di Roma” está na lista dos mais vendidos...
Zélia -
Eu sei. Já está na terceira edição, com mais de 20 mil exemplares vendidos.

Folha Online - A senhora prepara outro livro?
Zélia -
Sairá agora o livro “Jonas e a Sereia”. É um livro infantil a ser lançado no próximo mês. Conta a história de como nasceu a sereia. É a história de amor entre o pescador e o peixe.

Folha Online - A senhora terminou de escrevê-lo agora?
Zélia -
Não, eu entreguei quase ao mesmo tempo que o “Cittá Di Roma”. O livro está lindo, tem ilustrações de Roger Melo. Aliás, esse menino é muito talentoso: já ganhou vários prêmios. Já ilustrou livros de Graciliano Ramos e vários ‘cobras’ por aí. Ele me mostrou algumas ilustrações e são lindíssimas. Eu o escrevi todo em redondilha (risos): muito romântico.

Folha Online - Como surgiu a idéia de escrever “Cittá Di Roma”?
Zélia -
A idéia de escrever “Cittá Di Roma”, assim como os outros (11) livros, aconteceu de repente. O livro “Anarquistas Garças a Deus”, o primeiro livro, que escrevi aos 63 anos (há 20 anos) está na 30ª edição. Quando a editora Record fez uma edição comemorativa, fui ler para ver se tinha alguma modificação a fazer na edição nova e vi que eu não tinha escrito muita coisa. Muita coisa que eu aprendi nesses 20 e poucos anos... Com as imagens da novela “Terra Nostra”, da Rede Globo, do navio, eu relembrei o navio dos meus avós que vieram num daqueles, como imigrantes da Itália. Daí surgiu a idéia de fazer ‘Cittá di Roma’.

Folha Online - A senhora escreve regularmente? Como é o seu dia a dia?
Zélia -
Assim que tenho uma idéia começo a escrever imediatamente. Faço um programa de trabalho, me fecho no gabinete e começo... Em geral, acordo muito cedo, enquanto a casa não está em movimento. É uma casa muito grande, muitos empregados. Agora que só mora eu e Jorge, eu conservo os empregados porque a casa não diminuiu; diminuíram as pessoas... Recebemos muita correspondência, imprensa do mundo inteiro e eu tenho de selecionar tudo sozinha. É uma vida muito trabalhosa. Agora mesmo eu tinha um bolo de cartas para responder e disse: não vou escrever, estou muito cansada!

Folha Online - A senhora está lendo algum livro?
Zélia -
Estou lendo o livro do Sarney, “Saraminda”. É lindo... maravilhoso. Estou encantada. Levanto mais cedo para ter tempo de ler em paz. Tudo meu precisa ser programado porque eu não gosto de ser interrompida - isso para mim é a morte. Eu gosto de ler e me soltar.

Folha Online - Há uma famosa entrevista com Jorge Amado em que ele diz que a velhice é uma grande chatice. O que a senhora pensa a respeito?
Zélia -
Quem disser que a velhice é uma maravilha está mentindo. Não é maravilha nenhuma, precisamos ter mais restrições. É um outro ritmo, mas tem sua vantagens como a maturidade. A gente fica conhecendo mais as pessoas, fica com mais conhecimento da vida. É tudo muito interno. Minha longa vida, minha larga experiência política me ensinaram o que é certo e o que é errado, me ensinaram a conhecer os homens.

Folha Online - Seria uma boa fase para escrever?
Zélia -
Eu acho que sim. Quem escreve memórias como eu tem muita coisa para contar. Se a gente não viveu, se não criou um certo conhecimento da vida, não tem condições de escrever um livro. Acaba escrevendo uma coisa sem expressão.

Folha Online - Como está o estado de saúde do Jorge Amado e como vocês pretendem comemorar o aniversário?
Zélia -
Ele não está escrevendo, mas eu não vou falar sobre isso. Ele está ao meu lado eu não vou fazer comentários. Vamos fazer um almoço em família.

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De cima para baixo: Jorge Amado na mesa de jantar de sua casa (Eder Chiodetto - 26.set.97); com a atriz Sônia Braga na gravação do filme "Tieta do Agreste" (Xando Pereira - 06.ago.95); e na sua casa, na Bahia (Eder Chiodetto - 26.set.97), e na biblioteca (Cláudia Guimarães - 01.dez.94)