Livraria da Folha

 
08/08/2010 - 12h24

Tropicália redescobriu Jackson do Pandeiro, que ficou um tempo esquecido

WILLIAM MAGALHÃES
Colaboração para a Livraria da Folha

Divulgação
Com 60 páginas, livro em capa dura traz tudo sobre Jackson do Pandeiro, além de CD
Com 60 páginas, livro em capa dura traz tudo sobre Jackson do Pandeiro, além de CD

Conhecido como um dos maiores ritmistas do país, José Gomes Filho teve alguns apelidos antes de adotar aquele que o tornou célebre. Nascido em Alagoa Grande, na Paraíba, em 1919, virou Zé Jack e depois Jack do Pandeiro.

Trabalhava na Rádio Jornal do Commercio quando o diretor do programa em que atuava sugeriu que trocasse Jack para Jackson. O motivo era simples. O novo nome seria mais sonoro para pronunciar ao microfone. Nascia assim, aos 29 anos, Jackson do Pandeiro.

A influência para a música recebeu da mãe, Flora Mourão, que era cantora e folclorista. Aos sete anos, começou tocando zabumba para acompanhá-la nos cocos - dança popular nordestina onde um cantador tira versos em quadras, sextilhas ou décimas, respondidas por um coro.

Com a morte do pai, aos 13 anos, a família viu-se obrigada a mudar para Campina Grande, também na Paraíba. Sonhava em comprar um pandeiro, com o qual seguiria sua carreira.

Com 17 anos passou a tocar bateria em um conjunto, tornando-se mais tarde percussionista. Em 1940, foi tentar a vida na capital e migrou pra João Pessoa, onde trabalhou em alguns cabarés como músico até ser contratado pela Rádio Tabajara.

Nessa época, a música já estava marcada em sua vida. Em 1948, foi para Recife. Lá estreou com sucesso na Rádio Jornal do Commercio, onde foi apontado "como o maior cantor de sambas ritmados do norte do país", em crítica feita pela imprensa.

Ao lado do compositor Rosil Cavalcanti, com quem formou dupla, criou diversas composições como "Os Cabelos de Maria", "O Trabalho que deu" e "Na Base da Chinela". Foi também neste período que conheceu aquela que se tornaria sua primeira mulher, Almira Castilhos de Albuquerque, ex-professora e funcionária da rádio que cantava mambos e dançava rumbas.

O ano de 1953 marcou a virada em sua carreira. Jackson, que já era querido do público e ocupava o horário nobre do rádio, apresentou no Carnaval de Recife um coco de Rosil, chamado "Sebastiana". A música esteve no seu primeiro disco, e dividiu o sucesso com o rojão "Forró em Limoeiro, de Edgar Ferreira.

Três anos depois, casou-se com Almira, de quem já era parceiro em uma dupla. Apresentaram-se no Rio de Janeiro e casaram-se na mesma cidade. Quando voltaram para Recife, não foram bem recebidos e se mudaram definitivamente para a Cidade Maravilhosa. Em 1956, gravaria mais um clássico, o batuque "O Canto da ema", de Alventino Cavalcanti, Aires Viana e João do Vale.

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A carreira de Jackson seguiu crescendo e o compositor começou a trabalhar na Rádio Nacional. Gravou composições de sucesso como "Chiclete com Canana", de Gordurinha e Almira Castilho, em 1959. "Como tem Zé na Paraíba" e "Frevo do Bi", em homenagem ao bicampeonato conquistado pela seleção brasileira em 1962, vieram em seguida.

No início da década de 60, contrário a influência norte-americana na cultura musical brasileira, Jackson grava "Twist, não", de João Grilo e Roberto Faissal. Em 1967, o cantor e Almira se separam e a dupla é desfeita. Depois disso, o cantor vai para a rádio Globo trabalhar em um programa de forró. Casou-se de novo com Neusa Flores dos Anjos, de quem se separou pouco antes de morrer.

Com o fim do programa na rádio Globo, Jackson caiu em uma espécie de esquecimento até que o movimento tropicalista ganhou força. Gal Costa, Gilberto Gil e os músicos do Novos Baianos eram fãs do cantor na adolescência e regravaram alguns de seus maiores sucessos.

A volta ao estrelato não lhe garantiu uma vida tranquila, mas lhe rendeu alguns convites interessantes. Alceu Valença, por exemplo, chamou Jackson para acompanhá-lo no Festival Internacional da Canção, onde interpretou a música "Papagaio do Futuro". Em 1977, viajou todo o Brasil acompanhando o músico no Projeto Pixinguinha.

No ano de 1981, Jackson gravou seu último disco. Durante uma de suas apresentações teve enfarte, mas continuou cantando. Não quis deixar o palco. Fez ainda mais dois shows nesse estado. Em Brasília, para um compromisso, passou mal desmaiando no aeroporto. Foi levado ao hospital, onde morreu dias depois de uma embolia cerebral.

Homenagem póstuma
Jackson do Pandeiro, aos 17 anos, trocou o emprego em uma padaria para ser baterista e percussionista de um conjunto musical.Trabalhando como músico, vivenciou a era de Ouro do Radio no País. Não a toa, começou a gravar seus primeiros sucessos como "Sebastiana", em 1953.

Suas músicas eram bem aceitas pela população em geral. Em 1954, ano da morte de Getúlio Vargas, Jackson gravou o rojão "Ele disse", em homenagem ao falecido presidente. "Ele disse com toda consciência/ Com o povo eu deixo a resistência/ O meu sangue é uma remissão/ A todos que fizeram reação/ Eu desejo um futuro cheio de glória/ Minha morte é bandeira da vitória/ Deixo a vida pra entrar na história/ E ao ódio eu respondo com o perdão", dizia a letra.

 
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