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Com medo de ser feliz

JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha Online e da Folha de S.Paulo

Este é um assunto para Contardo Calligaris: por que, nesta Olimpíada, o Brasil está broxando na hora H?

No futebol, contra Camarões, no vôlei de praia feminino, contra a Austrália, e no masculino, contra os EUA, o Brasil era favorito e perdeu quando tinha o jogo nas mãos.

A cortada de Ricardo na rede, quando a dupla brasileira podia fechar o primeiro set no vôlei de praia, foi análoga ao ""gol feito" que Fabiano perdeu diante do goleiro camaronês. Nos dois casos, os brasileiros parecem ter tido ""medo de ser felizes", como diz a sugestiva frase feita.

Alguma conexão há de haver entre esse bloqueio e o sentimento de desencanto geral dos brasileiros com relação a seu país.

Na coluna "São Paulo" de anteontem, na página 2 desta Folha, Vinícius Torres Freire lembrou com propriedade que a colocação média do Brasil nas últimas Olimpíadas (por volta do 30º lugar) até que é boa, comparada com a 70ª posição no ranking do desenvolvimento humano.

País miserável, violento, injusto, corrupto. Como torcer por ele? Mais que isso: como lutar por ele? Na hora em que nos confrontamos com nossos fantasmas, não há Hino Nacional, não há "Aquarela do Brasil" que seja capaz de nos motivar.

A questão é que não temos outro. Ou o consertamos ou fazemos como os canalhas: fugimos para Miami.

Mas esperar que os esportes, numa Olimpíada, compensem nossas frustrações e nos elevem, simbolicamente, ao Primeiro Mundo, é um pouco demais.

Quando um atleta brasileiro fracassar, atire a primeira pedra quem estiver dando o máximo para construir um país decente.
Senão, estaremos sendo todos hipócritas como esses políticos que vivem falando em pátria e vendem até a mãe se tiverem uma boa oferta.

Uma a uma, vão caindo as maiores esperanças de ouro para o país: futebol, tênis, vôlei de praia. Sobraram o vôlei de quadra (masculino e feminino), o hipismo e o iatismo.

Os dois últimos, apesar do nível de excelência mundial, não chegam a empolgar muita gente.

O vôlei, ao contrário, costuma levar pequenas multidões ao delírio. É um dos esportes mais bonitos e completos que existem, exibindo uma combinação de vigor físico, inteligência, sentido coletivo e plasticidade.

Uma jogada bem tramada e executada pelas meninas brasileiras é algo próximo da perfeição. Que as levantadoras de peso da Bulgária me desculpem, mas beleza é fundamental.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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