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José Geraldo Couto
Nervos à flor da quadra
JOSÉ GERALDO COUTO colunista da Folha Online e da Folha de S.Paulo
O voleibol é uma caixinha de surpresas. Constatei isso ontem, ao ver o Brasil perder por 3 sets a 1 para a Argentina nas quartas-de-final da Olimpíada.
Cansado de assistir a derrotas brasileiras, eu havia consultado o programa do dia e decidido "ir na certeza".
O vôlei masculino brasileiro havia vencido suas cinco partidas na primeira fase. Tinha perdido um único set. A Argentina, por sua vez, chegara às quartas-de-final caindo pelas tabelas: duas vitórias e três derrotas.
Animado pelas estatísticas e pela esperança, fui ao Entertainment Centre de Sydney com a convicção de que assistiria a uma vitória histórica. E assisti. Só que a vitória foi da Argentina.
Mais uma vez, o Brasil "flopou" na hora H. A necessidade de ganhar, ainda mais de um adversário arqui-rival, como a Argentina, mexeu com os nervos dos nossos rapazes e anulou sua suposta superioridade técnica.
Depois do jogo, Giovane, um dos mais experientes do time, resumia o óbvio da experiência: "O Brasil é melhor que a Argentina. Mas, para vencer, é preciso jogar".
Esse é o ponto: o que é que nos impede de jogar, nos momentos em que vencer é imprescindível?
Sou velho o suficiente para ter visto na quadra a pioneira "geração de prata" do vôlei brasileiro (Bernard, William, Renan). Desde aquela época, sempre me chamou a atenção a passionalidade de nossos talentosos atletas.
A performance brasileira muda da água para o vinho de acordo com o estato de espírito reinante dentro da quadra. Com a nova regra, que eliminou a "vantagem" de quem saca e tornou mais rápidas as viradas de placar, o mais ligeiro desequilíbrio pode ser fatal.
Ontem, mais uma vez, foi assim. No primeiro set, tudo correu como o esperado: o Brasil teve tranquilidade, variou jogadas de ataque, defendeu bem, impôs seu melhor jogo à Argentina. Resultado: 25 a 17 em 19 minutos.
De repente, tudo mudou. Os argentinos acertaram a defesa, anulando nosso saque, e passaram a dar um show de bloqueio. O Brasil foi se enervando e perdendo pontos.
Num dos nossos momentos de reação, no quarto set (estava 2 a 1 para a Argentina), ao comemorar um ponto, Giba trombou com um companheiro e cortou o supercílio.
Saiu da quadra nosso melhor sacador e um dos jogadores mais tranquilos. A partir daí, foi ladeira abaixo.
Pouco antes dessa dolorosa derrota, o basquete feminino brasileiro derrotou espetacularmente a Rússia, em outra quadra. Mas eu não estava lá. Estou começando a achar que o pé-frio sou eu.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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