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O ouro é falso

JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha Online e da Folha de S.Paulo

Os Jogos de Sydney estão acabando, e o Brasil conseguiu muito menos medalhas do que o esperado. Não vamos chorar por causa disso.

No momento em que escrevo (sexta à noite em Sydney), estamos em 44º lugar no quadro geral, atrás de países como Moçambique, Irã, Colômbia, Azerbaijão, Etiópia e Cazaquistão.

Quando você estiver lendo esta coluna, talvez o Brasil tenha conquistado seu primeiro ouro, no iatismo. Se isso houver ocorrido, teremos saltado para a 30ª colocação, mais ou menos.

Essa é a primeira questão a ser discutida. Ao contrário do que dizia Coubertin, hoje em dia o importante não é competir. O importante é o ouro.

Um país que tenha um nível de excelência em 30 esportes, ganhando 15 medalhas de prata e 15 de bronze, ficará atrás, na classificação geral, de um país que tenha um único atleta excepcional em uma única modalidade.

Posso estar enganado, mas considero esse critério classificatório uma distorção do sentido geral de uma Olimpíada. Tem muito mais a ver com o salve-se quem puder do mundo contemporâneo do que com um espírito de consagração do esporte.

Seria muito mais interessante premiar, no terreno simbólico da classificação, os países que se destacassem em variados esportes. Pelo menos em tese, levaria vantagem quem tivesse uma sociedade mais equilibrada e plural.

Outro ponto a discutir é a geopolítica do esporte. As modalidades olímpicas não são algo atemporal, estabelecido desde épocas imemoriais. Ao contrário: são definidas historicamente, de acordo com um jogo internacional de forças.

Dois exemplos recentes: o vôlei de praia e o pólo aquático feminino. O primeiro virou esporte olímpico em 96 graças a um lobby norte-americano, apoiado pelo Brasil. O segundo foi introduzido na Olimpíada de Sydney por pressão dos anfitriões australianos.

Deve ser esse tipo de barganha internacional que explica a presença de modalidades como badminton e nado sincronizado numa Olimpíada. Só ele explica também por que o taekwondo (imposto por pressão coreana) é um esporte olímpico, e o caratê e o jiu-jitsu não o são.

Se o Brasil tivesse força internacional, poderíamos introduzir nos Jogos um sem-número de esportes em que somos (pelo menos por enquanto) imbatíveis: o futevôlei, o futsal, o frescobol, a capoeira, o futebol de praia.

Darcy Ribeiro baixou em mim. Já vejo os estádios, terreiros e praias fervilhando, numa contínua festa olímpica brasileira. O sonho não é a matéria de que somos feitos?

E-mail jgcouto@uol.com.br

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