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A derrota pode ser bela

JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha Online e da Folha de S.Paulo

O Brasil perdeu para Cuba, mais uma vez, a chance de disputar o ouro, mas foi um belíssimo jogo de vôlei.

Seria fácil falar do "fantasma de Atlanta" _onde perdemos a semifinal de 96 para as mesmas cubanas_ ou sair distribuindo culpas entre jogadoras e treinador, mas talvez eu seja sentimental demais para isso.

Prefiro louvar, no melhor estilo "locutor de província", o esforço e a dignidade da equipe brasileira.

Sobre o resultado em si, ninguém o explicou melhor que o técnico Bernardinho.

Taticamente, segundo ele, o erro foi não ter evitado a mais efetiva armadilha cubana, o saque em Virna, mantida "de castigo" pelas rivais no fundo da quadra.

Somaram-se a isso repetidos erros técnicos das jogadoras, e as cubanas cresceram no jogo.

Pouco importa. O esporte não vive só de resultados e de medalhas. As meninas brasileiras, rotuladas alternadamente de "musas" e "operárias", trabalharam com afinco e deram o máximo de si dentro da quadra.

Encontraram pela frente uma equipe mais forte, experiente e homogênea. Perderam. Não é o fim do mundo.

Como brasileiro e amante do esporte, achei bonita a campanha delas e sua reação à derrota.

As mais abaladas pareciam ser justamente as três veteranas que haviam conquistado o bronze em 96: Virna, Leila e Fofão. Virna, chorando abraçada ao filho na saída da quadra, será para mim uma das imagens inesquecíveis desta Olimpíada.

Mas a atacante brasileira _a jogadora mais efetiva do time durante a campanha_ não apelou à compaixão alheia como forma de fugir à responsabilidade.

Depois de chorar, voltou aos jornalistas e explicou como via a derrota. "As cubanas cresceram quando começaram a forçar o saque em cima de mim. Fizeram sete ou oito pontos assim."

Outra coisa a ser lembrada por muito tempo é a postura de Bernardinho diante das críticas que recebeu por não ter entregado o jogo contra os Estados Unidos como forma de evitar as perigosas cubanas na semifinal.
"Seria um desrespeito com o esporte", respondeu ele. "Temos que dar nosso melhor a cada jogo, contra quem for."

Haverá quem considere isso burrice ou ingenuidade. Eu não. E devolvo a palavra a Bernardinho: "Estamos construindo uma porcaria de país, fundado na cultura do "se dar bem", da mesquinharia".

Ontem, em Sydney, mulheres belas, fortes e decididas de dois países entraram na quadra para disputar uma semifinal. Um time foi melhor e venceu.

O esporte é isso.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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