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24/09/2002 - 02h34

Afinação é treino

da Folha de S.Paulo

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Tom Jobin
Caetano Veloso canta: "O Brasil tem ouvido musical". Tom Jobim não concordaria: aqui, dizia ele, até os canários desafinam. Quem tem razão? Antes da resposta, é preciso entender o que é "ouvido musical", aquele ouvido interno que permitia a um surdo como Ludwig van Beethoven "escutar" suas composições.

Há dois tipos de ouvido musical: o absoluto e o relativo. Um dos mitos da música é que os grandes compositores têm ouvido absoluto ou seja, têm capacidade de reconhecer ou produzir uma nota musical sem tomar outra como referência. Ao ouvir um som qualquer, ele sabe sua altura, ou seja, identifica a nota. Poucas pessoas, mesmo entre músicos profissionais, têm ouvido absoluto.

O que é mais comum é o ouvido relativo a capacidade de identificar uma nota a partir da audição de uma outra que serve de referência. Esse ouvido relativo pode ser treinado, desenvolvido com a prática e o estudo, embora nem todos cheguem à afinação perfeita.

Mas, afinal, quem tem razão? Ambos, porque há vários graus de desenvolvimento do ouvido musical relativo.

A maioria consegue assobiar ou cantarolar uma melodia, pelo menos a ponto de torná-la reconhecível. Isso acontece porque as pessoas têm ouvido musical. Mesmo intuitivamente sabem que existe um intervalo de altura entre as notas emitidas e tomam cuidado para não desafinar, ou seja, para não errar a altura.

Uma minoria consegue tocar instrumentos "de ouvido". Além de reproduzir a melodia, essas pessoas conseguem identificar, mesmo sem partitura, a harmonia da música, ou seja, os acordes, que são conjuntos de pelo menos três notas tocadas simultaneamente.

Não é tarefa para qualquer um. Entre os músicos amadores, muitos tocam mesmo "de olho", como diz o violonista Luiz Tatit. Para tocar "de olho" não é preciso conhecer música a fundo: basta olhar as cifras aplicadas sobre as letras das canções. Nos livros mais populares, as cifras (em que "C" significa dó maior, "Dm" é ré menor e assim por diante) são representadas visualmente, no braço do violão ou no teclado do órgão ou piano.

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