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17/12/2002 - 03h01

Gilberto Dimenstein: A ponte de invenções de Paulo Blikstein

GILBERTO DIMENSTEIN
colunista da Folha de S.Paulo

Paulo Blikstein, 30, começou a estudar engenharia na USP decidido a fazer invenções. Essa vontade de inventar fez com que, em pouco tempo, também experimentasse um curso de cinema, uma área aparentemente distante da engenharia —graças a essa combinação de interesses, condenada por muitos colegas que o criticavam por estar "sem foco", ele conseguiu ser aceito no Media Lab, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, um dos pólos de vanguarda mundial de pesquisa em novas tecnologias.

Matangra

"Fui aceito porque eles valorizam pessoas com diferentes formações", conta. Estimulado, no Media Lab, a pesquisar sobre educação e novas tecnologias de comunicação, interessou-se em fazer do cotidiano do estudante a matéria-prima para o ensino de ciências, habitualmente ministradas nas escolas como a sequência aborrecida de fórmulas desconectadas da realidade. Seus inventos o fizeram montar uma ponte entre a periferia de São Paulo e a cidade de Cambridge (EUA), ilha de excelência planetária em que, além do MIT, está a Universidade Harvard.

Blikstein participa de uma parceria entre o Media Lab e a Prefeitura de São Paulo em que ele desenvolve experimentos científicos com alunos de escolas públicas. Buscam inspiração para os inventos na própria comunidade. Exemplo: há um emaranhado de fios nos postes que muitas vezes provoca incêndios. Juntos, imaginam equipamentos, sempre que possível com materiais reciclados, para evitar os curtos-circuitos. "É fundamental que a informação tenha significado para o aluno. É incrível como, num ambiente estimulante, você descobre o talento criativo, igual ou até maior do que numa escola privada, de elite."

Ele percebeu que o ensino é, de fato, eficaz quando o estudante participa do processo de conhecimento, sentindo-se autor, e não apenas depositário de fórmulas. "É o que já tinha aprendido em gestão empresarial", conta. A motivação, segundo ele, está na sensação autoral dos empregados. "Assim como numa escola na periferia, obtém-se mais produtividade nas empresas quando os funcionários se sentem estimulados a dar o melhor deles."

A ponte de Paulo Blikstein vai mais longe —as experiências na periferia de São Paulo estão sendo sistematizadas, visando sua replicação, não apenas no Brasil, mas mundialmente, em especial no chamado Terceiro Mundo, carente de boas soluções educativas de baixo custo.

Gilberto Dimenstein, 45, é jornalista, faz parte do board do programa de Direitos Humanos da Universidade de Columbia. Criou a ONG Cidade Escola Aprendiz. Está montando os projetos do Laboratório Educativo Hopi Hari.
E-mail - gdimen@uol.com.br

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