Folha Online sinapse  
28/01/2003 - 02h42

Diplomas misto-quente

MARIANA SGARIONI
free-lance para a Folha de S.Paulo

A oportunidade de estudar no exterior, ainda na graduação, é pouco conhecida pelos alunos, apesar de bastante difundida nas universidades brasileiras. O sistema, conhecido como programa "sanduíche" ou de intercâmbio, permite que o aluno frequente parte do curso em uma universidade no exterior e tenha os créditos aproveitados na sua faculdade. Alguns cursos podem até oferecer duplo diploma, como o de relações internacionais na PUC-SP.

"Tive contato com matérias que não constam na grade brasileira", conta Daniel de Mattos Hoffling, 29, que fez economia, parte na Unicamp, parte na Universidade Bocconi, em Milão. "Tenho certeza de que minha formação ficou mais abrangente." Para chegar lá, ele agiu por conta própria. Escolheu a Itália e pesquisou, com a ajuda de professores, a melhor faculdade de economia do país. A Bocconi foi selecionada por causa do prestígio, por permitir ao aluno estrangeiro cursar quantas disciplinas quiser e pelo preço: US$ 800 por um ano de curso (sem incluir despesas com acomodação ou alimentação). Na volta, parte dos créditos foram aceitos pela Unicamp.

Assim como Hoffling, os estudantes que estiverem interessados nesses programas devem se preparar desde o início da faculdade. Boas notas, fluência no idioma do país escolhido e ter cursado pelo menos 20% dos créditos são algumas das exigências.

Uma dica do departamento de assuntos internacionais da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) é procurar conselhos acadêmicos de professores e pesquisar a universidade que pretende frequentar. Assuntos internacionais, cooperação internacional ou relações internacionais são os diversos nomes dos departamentos que cuidam desse tipo de programas de intercâmbio. Quem quiser participar deve procurar materiais de consulta e editais do departamento na própria faculdade.

A demanda dos alunos por programas de abrangência internacional não pára de crescer no mundo inteiro. Nos EUA, a cada ano, cerca de 155 mil estudantes viajam para outros países em busca de um complemento curricular em seu curso de graduação. No Brasil, não há um órgão que centralize esse número, uma vez que os acordos partem diretamente de cada universidade. O Faubai (Forum das Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais) conta hoje com 120 universidades filiadas —todas com programas de intercâmbio e aproveitamento de créditos.

De acordo com Thymothy Dennis Ireland, presidente do Faubai, a maioria dos brasileiros opta por faculdades na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá. Os cursos mais procurados são relações internacionais, direito e comércio internacional, idiomas, engenharia, computação, política e ciências do ambiente. Áreas ligadas às artes, como moda e design, também estão em crescimento.

Além de estudar, muitos países, como os do Reino Unido, permitem que os alunos de programas "sanduíche" também façam estágios. "O estudante não perde nem um minuto. Enriquece seu currículo acadêmico, pessoal e profissional", afirma Isobel Oliveira, gerente de marketing do Conselho Britânico.

A estudante de direito da USP Simone Galvão de Oliveira, 23, ganhou uma bolsa de estudos e fez quatro matérias na Universidade de Westminster, em Londres. O valor da bolsa foi de US$ 10 mil e incluiu, além da mensalidade, a acomodação por quatro meses e meio. Oliveira acabou não pedindo a equivalência de créditos. Por isso, precisou recuperar o tempo na volta e frequentar mais um semestre de aulas, adiando sua formatura. "A experiência pessoal que adquiri foi tão valiosa quanto a acadêmica."

A professora e diretora de relações internacionais da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Sandra Regina Goulart de Almeida, concorda. "O aluno não perde nunca", afirma. "Em um mundo com distâncias cada vez mais curtas, aquele que vivenciou essa experiência se sente mais seguro, maduro e aberto a novas informações. Sem dúvida, ele será diferente dos outros."

Arte/Folha Online

     

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).