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25/02/2003
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03h30
A linha de montagem do conhecimento
SILVIA BITTENCOURT free-lance para a Folha de S.Paulo, em Heidelberg (Alemanha)
A empresa automobilística Volkswagen está lançando um novo modelo, só que desta vez não de carro, mas de "universidade". A sede da VW em Wolfsburg, no centro da Alemanha, acaba de anunciar a fundação da Universidade do Carro (apelidada, em alemão, de AutoUni), com o objetivo principal de formar a próxima geração de "managers" da empresa.
| | Maquete do campus da AutoUni |
| Em princípio, a AutoUni é mais uma das chamadas universidades corporativas, modelo de escolas superiores privadas que, agora, começa a se difundir na Alemanha. Apesar de se autodenominarem "universidades", elas não têm como objetivo básico difundir conhecimento, gerando ensino pela pesquisa. Criadas e sustentadas por grandes empresas, elas têm como função formar e aperfeiçoar seus profissionais.
A AutoUni tentará ser algo mais do que uma universidade corporativa, segundo seus idealizadores. A instituição pretende dar ao seu programa um tom acadêmico e científico e, no futuro, ser reconhecida internacionalmente, a ponto de poder conferir o título de MBA (Master of Business Administration).
Três escolas formarão a AutoUni: a de economia e administração de empresas, a de ciências e tecnologia (voltada para a área automobilística) e a de ciências humanas e sociais. Os seminários devem se voltar para temas de interesse fundamental para a Volkswagen. A idéia é fazer da Universidade do Carro um local não só de difusão mas também de produção de conhecimento, que será diretamente colocado à disposição da empresa. "No futuro, será por meio do conhecimento que uma empresa se destacará das concorrentes", disse Bernd Pischetsrieder, presidente da Volkswagen, ao anunciar a criação da Universidade do Carro, no final do ano passado.
Fotos Divulgação | | Walter Zimmerli: "O aplicador de pintura do futuro deve estar por dentro da nanotecnologia" |
| Um dos idealizadores da AutoUni é o suíço Walther Zimmerli, 57, professor de filosofia política e filosofia da ciência e tecnologia, que já assumiu as funções de presidente-fundador da instituição. "A AutoUni deve ela mesma gerar conhecimento relevante", afirmou em entrevista à Folha.
Segundo Zimmerli —ex-reitor da primeira universidade privada da Alemanha, a de Witten-Herdecke—, faltava no país um programa de pós-graduação empresarial com um componente acadêmico. A Universidade do Carro deverá servir para o desenvolvimento pessoal dos profissionais. "Técnicos e economistas devem se abrir para outros temas", diz.
Numa primeira fase, que será iniciada no próximo ano, a Universidade do Carro estará aberta apenas para profissionais da Volkswagen, incluindo os das fábricas no exterior. Apesar de ser de nível de pós-graduação, a AutoUni também receberá os melhores trabalhadores manuais e mecânicos da empresa. "O aplicador de pintura do futuro deve estar por dentro da nanotecnologia", afirma Zimmerli.
Numa segunda fase, a instituição atenderá funcionários de empresas parceiras. Num terceiro momento, ela deverá se abrir para interessados em geral.
Com a AutoUni, a empresa pretende não só aperfeiçoar sua elite de mão-de-obra especializada mas também amarrar novos profissionais à empresa. Ela espera que cerca de 3.000 profissionais frequentem anualmente a nova instituição.
Os professores serão recrutados em escolas superiores de economia e em "business schools" de dentro e de fora da Alemanha. A empresa também deverá engajar seus principais "managers" como docentes. Ministrados principalmente em alemão e inglês, os cursos serão realizados dentro de um campus próprio, a ser construído em Wolfsburg. Mas estão previstos pelo menos outros quatros campi no mundo.
A duração dos cursos deverá variar. A AutoUni também prevê programas virtuais, que colocarão os alunos em contato com as regiões do mundo onde a VW está presente. De acordo com João Rached, vice-presidente de recursos humanos da VW do Brasil, há o interesse de enviar profissionais do país para a Universidade do Carro, mas ainda não estão definidos quais setores serão os primeiros a participar. Rached antecipa, entretanto, que "os programas de ensino e capacitação empregados pela filial brasileira poderão ser adaptados de acordo com os da nova universidade".
Só para a construção do campus em Wolfsburg, a VW gastará cerca de ) 50 milhões (cerca de R$ 200 milhões). A empresa deverá destinar mais ) 40 milhões (mais de R$ 150 milhões) para o funcionamento da universidade nos primeiros cinco anos. Walther Zimmerli vê a criação da AutoUni também como um investimento estratégico. "Só daqui a anos veremos os resultados desse projeto", diz.
Patrícia Galhano, professora da Faculdade Trevisan —não corporativa, mas resultado de uma experiência empresarial—, afirma que, se for considerada a redução de custos na capacitação dos profissionais, pode-se dizer que as universidades corporativas vieram para ficar. "Mas é preciso uma ressalva", diz. "A implantação de uma universidade corporativa requer investimentos cujo retorno se dará indiretamente, como o aumento da satisfação dos colaboradores e a melhora no clima organizacional, na produtividade e, em última instância, na lucratividade da empresa."
Colaborou Marcelo Vaz, free-lance para a Folha de S.Paulo
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