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29/04/2003 - 03h20

Gilberto Dimenstein: O adeus de Nizan Guanaes

GILBERTO DIMENSTEIN
colunista da Folha de S.Paulo

Nizan Guanaes ganhou alguns dos mais cobiçados prêmios de publicidade, mas a notoriedade veio mesmo com a política, graças à sua participação no marketing da eleição e da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. O marketing político, porém, garante ele, está fora de seus planos profissionais. "Chegou para mim", promete.

Matangra
A suspeita óbvia é de que a desistência teria a ver com a derrota de José Serra, a quem serviu como marquetólogo. "Já tinha aceitado entrar na campanha do Serra a contragosto, não sabia como dizer não ao Fernando Henrique", explica.

Trabalhador compulsivo —monta de agências de publicidade, hospitais e portais na internet a barbearias—, Nizan afirma estar convencido de que a política é uma fonte incontrolável de dispersão. "Muitos de nossos clientes não gostam, reclamam, sentem-se mal atendidos."

A experiência das campanhas trouxe-lhe um aprendizado sobre o perigo da política: a perda do "pulso" da sociedade. "A maioria dos políticos tem muita informação, sabe de muita coisa, mas está distante da sociedade, não conhece sua agenda real." O publicitário, segundo ele, deve ser o primeiro a ter as mãos nesse "pulso".

Se tivesse de dar um único conselho aos jovens publicitários, diria: "Evitem andar apenas com publicitários". Esse ambiente viciado, exatamente como viu na política, destrói, mais cedo ou mais tarde, carreiras. Aliás, essa dica, segundo Nizan, caberia perfeitamente aos jornalistas, muitas vezes tão distantes quanto os políticos da agenda real da sociedade, presos às temática oficiais.

O marketing político está, pelo menos por enquanto, fora de sua agenda, mas não a política. Entre seus sonhos está ocupar algum cargo público. Dizem que seu sonho íntimo, lá no fundo, é ser prefeito de Salvador, sua paixão. "Não tenho pretensão a cargo eletivo", nega. Mas, se alguém o chamasse para experimentar o desafio de chefiar o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para tentar transformar o Brasil num celeiro de atletas campeões, ele teria dificuldade em recusar.

Gilberto Dimenstein, 45, é jornalista e faz parte do board do programa de Direitos Humanos da Universidade de Columbia. Criou a ONG Cidade Escola Aprendiz. Está lançando o livro "Fomos Maus Alunos" (Papirus), que escreveu com Rubem Alves.
E-mail: gdimen@uol.com.br

     

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