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29/07/2003 - 03h18

Física aplicada

DANTE GRECCO
free-lance para a Folha de S.Paulo

Eles são jovens, têm entre 15 e 19 anos, cursam, na sua maioria, o segundo ano do ensino médio e não ligam em perder uma semana de férias para se dedicar ao estudo de uma das disciplinas que mais aterrorizam seus colegas de escola: física. Eles formaram um grupo de 61 estudantes, de várias cidades do país, que se reuniram, na semana passada, em São Carlos (localizada 231 km a noroeste de São Paulo), para um programa intensivo de estudo chamado Escola Avançada de Física. Durante oito dias (de 13 a 20 de julho), eles se dedicaram à disciplina das 8h às 20h.

Fotos Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Ricardo Alves (à dir.), durante aula em laboratório na Escola Avançada de Física,...

A Escola Avançada de Física é um programa conjunto entre a Aprofi (Associação Paulista dos Professores de Física) e o Instituto de Física da USP de São Carlos. A idéia é reunir alunos com paixão pela busca do conhecimento. "Gente competente aprende rápido qualquer coisa", afirma Luiz Antônio de Oliveira Nunes, coordenador da Escola Avançada e pesquisador do Laboratório de Lasers e Aplicações do IFSC-USP (Instituto de Física de São Carlos), um dos principais centros de pesquisa do país.

Durante o programa, o IFSC colocou à disposição dos jovens alunos oito pesquisadores e dez técnicos, além de salas de aula, laboratórios, biblioteca e computadores.

Na mesma semana, a cerca de 300 quilômetros dali, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos (SP), outra "escola avançada" acontecia, com as mesmas características, e reuniu mais 66 estudantes, vindos do último ano do ensino médio e até de cursinhos.

Eventos dessa natureza são comuns nos Estados Unidos e só agora começam a surgir no Brasil. As atividades durante a semana de estudo foram divididas em palestras, aulas teóricas e práticas, oficinas, seminários e horários reservados para estudos. As palestras incluíram temas como biotecnologia, lasers e suas aplicações, astronomia, energia nuclear, mercado de trabalho para físicos, dispositivos eletrônicos e optoeletrônicos e ressonância magnética nuclear. As aulas teóricas e experimentais foram da termodinâmica às teorias da física moderna.

Alguns temas fazem parte do currículo do ensino médio. Outros, como teoria da relatividade restrita e mecânica quântica, ainda são novidade para a maioria dos alunos. "Nos laboratórios, podemos colocar em prática tudo o que vimos em sala. Até montamos um pequeno transmissor. Aprender assim é muito melhor", afirma Raul Celistrino Teixeira, 17, que cursa o terceiro ano do ensino médio na cidade de Adamantina (SP).

...durante a qual os alunos discutem com os professores até no intervalo, nos corredores
Engana-se quem pensa que um programa como esse é só para "geniozinhos" ou "nerds". Esses jovens são extrovertidos, gostam de ler, vão ao cinema e curtem baladas. A diferença é que têm habilidades especiais para os estudos e topam desafios. Além de gostar de física, também se dão muito bem em matemática, química e biologia. Raul Celistrino, por exemplo, obteve o primeiro lugar entre os "treineiros" no vestibular da Fuvest em 2002, e Renato Lira, 16, foi outro destaque de sua escola, em Recife (PE).

Reunir tantos jovens de alto nível intelectual tem vários objetivos. "Um deles é concentrar os alunos que gostam muito de física e querem aprender mais do que é oferecido em seus colégios", afirma Terezinha Saes Lima, coordenadora da Escola Avançada de São José dos Campos. Outro é fazer do programa uma usina de talentos, atraindo o interesse desses jovens pelas carreiras científicas e tecnológicas.

Participar de uma semana como essas é uma excelente oportunidade para que esses alunos conheçam um centro de pesquisa. "Agora, tenho uma idéia mais profunda sobre o que é uma universidade", afirma a garota Maria Stella Lazarini, 16, que mora em Tremembé (SP).

Maria Stella, aliás, é um dos exemplos de como a vocação para a área tem crescido também entre as meninas. Em um ano, o interesse feminino pela Escola Avançada de São Carlos triplicou. Em 2002, foram apenas quatro alunas. Neste ano, são 11. "Hoje, há um incentivo maior para as meninas participarem", diz a paulistana Cinthia Nacamura, 16.

Se, ao entrar numa Escola Avançada, os estudantes já eram ótimos alunos, depois de uma semana de estudo intenso, com contato direto com excelentes professores e pesquisadores, esses adolescentes passam a ter muito mais chance nos vestibulares, principalmente nos mais concorridos.

Para participar da edição da Escola Avançada de São Carlos deste ano, cada aluno pagou R$ 630, valor que inclui os custos de alojamento, refeição, material escolar e seguro-saúde. Alguns ganharam bolsas de seus colégios. Entre os 61 alunos, o goiano Ricardo Alves, 17, era o único vindo de escola pública e contou com a ajuda de seus professores para viajar. "Foi puxado. Nem tudo eu sabia", conta. "Mas valeu a pena."

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