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28/10/2003 - 03h12

Gilberto Dimenstein: O prazer de Luciano Huck

GILBERTO DIMENSTEIN
colunista da Folha de S.Paulo

Matangra
A filantropia é encarada como sacerdócio, uma missão nobre a favor dos mais frágeis, exigindo esforço, paciência e disposição para enfrentar dramas. Não é o que pensa nem sente o apresentador Luciano Huck, um jovem rico, famoso e profissionalmente bem-sucedido, para quem filantropia não é missão, mas prazer.

Neste ano, Luciano transformou-se numa das estrelas do chamado terceiro setor, ao realizar a mais badalada festa de arrecadação de recursos a um projeto social. Num leilão, levantou R$ 1,5 milhão para tocar o Instituto Criar, idealizado por ele —um centro de formação de jovens em televisão, abrindo espaço para o mercado de trabalho. "Faço isso porque gosto da sensação de estar compartilhando o que sei para ver jovens ganharem uma profissão", diz.

Ele explicitou o que a imensa maioria das pessoas sente e, muitas vezes, não fala: ajudar os outros é uma forma de prazer, de sentir-se útil fazendo algo relevante. Para Luciano, o prazer é um instrumento de trabalho —e uma das razões, em sua visão, que o levaram tão longe.

Além de programa de televisão, Luciano Huck tem uma pousada em Fernando de Noronha, restaurantes, rádios e um selo musical. "Meu negócio é entretenimento. E devo ser o primeiro a me entreter com a vida." Dinheiro significa, diz ele, a possibilidade de, numa quinta-feira, ter a vontade de passar um final de semana em Paris ou Nova York e conseguir realizar sua vontade. "A minha alegria é o que me faz alegrar os outros."

Luciano Huck é a própria cartilha dos especialistas em recursos humanos: gostar do que faz é o primeiro passo para fazer bem qualquer coisa. Submeter-se a experiências pelo encanto da diversidade é o que alimenta a curiosidade, o que, por sua vez, motiva as pessoas a quererem sempre inovar. "A pior coisa que pode acontecer a um profissional é viver trancado em seu mundo, transformado num ser monotemático. Vivenciar diferentes olhares é obrigatório para quem tem no comportamento matéria-prima para seu trabalho."

Criar um instituto de educação deixa-o distante de ambientes refinados, charmosos e cheios de holofotes, onde muitas vezes se produz mais calor do que luz. "Estou vendo e aprendendo outras luzes, o que me dá prazer e me faz sentir bem e ainda mais alegre".

Gilberto Dimenstein, 46, é jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha e faz parte do board do programa de Direitos Humanos da Universidade de Columbia (EUA). Criou a ONG Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo.
E-mail: gdimen@uol.com.br

     

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