Folha Online sinapse  
28/10/2003 - 03h24

Até o Japão, sem sair de casa

ANTONIO ARRUDA
free-lance para a Folha de S.Paulo

Perto da avenida Paulista, em São Paulo, há pedaços do Japão, da Espanha e da Itália: nas redondezas, localizam-se os institutos culturais que representam oficialmente esses países no Brasil.

A Fundação Japão, o Instituto Cervantes e o Istituto Italiano di Cultura são três das instituições estrangeiras que, ligadas diretamente ao Ministério das Relações Exteriores (ou a outra entidade governamental com atuação semelhante) dos respectivos países, realizam atividades educacionais e culturais e oferecem vários serviços à população.

Além desses, outros também estão espalhados pelo país. E o melhor é que alguns se encontram em plena fase de expansão. O Instituto Cervantes inaugura neste ano seu espaço cultural em São Paulo. A partir do ano que vem até 2005, deve abrir mais sete centros: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Brasília. O Instituto Camões deve inaugurar, em 2004, o Centro Cultural Português, em São Paulo. E o Istituto Italiano di Cultura vai abrir unidade em Salvador no ano que vem.

A maioria dos institutos vai muito além de oferecer cursos da língua nativa. Muitos têm biblioteca, filmoteca, espaço para exposições de artes e até teatro. Muitos dos serviços oferecidos são gratuitos ou têm preços simbólicos.

Mas a atuação desses institutos também transpõe o muro de suas sedes. A Casa de Cultura Peruana, que funciona em São Paulo há três anos, acabou de apresentar um projeto à Secretaria Municipal de Educação: estruturar um curso sobre os incas para ser ministrado em 800 escolas da rede pública nas áreas de história e geografia. A idéia, segundo Julio Vera del Capo, diretor do instituto, é produzir dois livros: "O Pequeno Inca", para alunos do ensino fundamental, sobre a história e a cultura incas, e "O Arqueólogo", para alunos do ensino médio, sobre técnicas e descobrimentos arqueológicos dessa civilização.

Outro trabalho que merece destaque é a parceria entre o Celem (Centro de Estudos de Línguas Estrangeiras Modernas), no Paraná, ou o CEL (Centro de Estudos de Línguas), em São Paulo, e institutos estrangeiros que ministram cursos de reciclagem para professores e muitas vezes fornecem material didático para as escolas. "Esse apoio é muito estimulante para o professor, e a qualidade do ensino realmente cresce bastante", diz Arlete Carvalheiro Paula Lima, responsável pelo CEL.

Professores e estudantes universitários também podem aprimorar seus conhecimentos fora do país, já que alguns institutos oferecem bolsas de estudos. O instituto Goethe, atualmente, apóia os estudos da língua alemã de 12 professores brasileiros. Já o Cervantes possui uma parceria com a Universidad Internacional Menendéz Pelayos, em Santander. Em três anos, 110 professores conseguiram uma bolsa para fazer especialização na Espanha. O Instituto Camões é o recordista: possui nove programas de bolsas. Um deles, parceria entre o instituto e a Fundação Eça de Queiroz, apóia estudantes nas áreas de língua e cultura portuguesas, principalmente em estudos sobre o escritor.

As atividades culturais que esses institutos promovem também são variadas. Um programa do British Council, o projeto Royal Court Theatre, promove intercâmbio entre jovens dramaturgos brasileiros e profissionais desse teatro. O resultado da primeira jornada, realizada em 2001, foi a produção do espetáculo "Quase Nada", do cearense Marcos Barbosa, integrante de uma das oficinas do programa. "O melhor disso tudo é que estimulamos a produção teatral brasileira ao mesmo tempo que aprendemos com os artistas daqui", afirma Stephen Rimmer, diretor cultural do British Council.

Mas, por mais que esses institutos procurem mostrar a cultura contemporânea, não há como deixar a tradição e o folclore de lado. O Instituto Brasileiro- Escandinavo de Intercâmbio Cultural, em Porto Alegre (RS), realiza festas vikings, com direito a duelo entre guerreiros e comida típica. Na Fundação Japão, se forem deixados de lado eventos sobre as artes tradicionais japonesas, como o butô, o público reclama. "Não podemos esquecer que nosso povo preza muito a tradição", explica Yumi Garcia dos Santos, assessora cultural do instituto.

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  • Conheça um pouco mais alguns institutos

         

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