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16/12/2003 - 03h00

Porto tecnológico

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

A poucos metros de uma favela e ocupando casarões antigos de uma região onde cortiços e bordéis proliferaram no passado, cresce na zona portuária de Recife o maior parque tecnológico do país, o Porto Digital.

Leo Caldas/Folha Imagem
Sala de aula de uma das escolas de informática

Instalado no bairro do Recife Antigo, que deu origem à capital pernambucana, o Porto Digital, como foi batizado, abriga atualmente 66 empresas de tecnologia da informação, comunicação e serviços. Criado com investimentos de R$ 33 milhões, do governo estadual, e de R$ 10 milhões, de empresas particulares, o projeto é um exemplo de sucesso da parceria entre universidade, setor público e privado.

Em novembro, como "prêmio" pelo reconhecimento do trabalho ali realizado, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que visitou o local em agosto, liberou um empréstimo de US$ 10 milhões para investimento no desenvolvimento de tecnologias em setores estratégicos, como o têxtil e a caprinocultura.

Filho direto dos avanços obtidos pelo CIn (Centro de Informática), da Universidade Federal de Pernambuco, considerado um dos melhores da América Latina no setor, o projeto do parque tecnológico começou em 2000 e, em três anos, avança rumo à maturidade. Com 44 doutores em seu corpo docente, o CIn forneceu o capital humano para o projeto —o mesmo suporte técnico, intelectual e empreendedor que, nos últimos sete anos, gerou 32 empresas de desenvolvimento de software, algumas delas hoje instaladas no próprio porto.

Para promover a transferência tecnológica da universidade ao pólo de ciência e para interagir entre os meios acadêmico e empresarial e a sociedade, professores da universidade criaram o Cesar (Centro de Estudos Avançados de Recife). Além de fomentar as empresas, a instituição, uma das âncoras do parque, fornece tecnologia e serviços.

Para a diretora do CIn, Ana Carolina Salgado, 45, a própria história do curso de ciência da computação da federal explica a eficiência de seus profissionais. Os cursos de graduação e mestrado completarão 30 anos em 2004. "Nesse período, houve um grande investimento na formação dos recursos humanos", diz Salgado. "Cerca de mil alunos foram graduados, 350 concluíram a pós-graduação, e 320, o mestrado", afirma. Criado em 1992, o curso de doutorado formou até agora 30 profissionais.

O objetivo da universidade, diz a diretora, sempre foi a formação de profissionais com ênfase na pesquisa. "A geração de riqueza, entretanto, faz parte dos planos de quem aplica o conhecimento, como é o caso daqueles que estão no Porto Digital", afirma. "O mercado dita alguns caminhos."

Com 1.127 empregados, o pólo, há dois anos, também se dedica à educação de seu entorno.

Em novembro de 2001, foi criado o Instituto Porto Digital, com o objetivo promover a melhoria da qualidade de vida de comunidades de baixa renda por meio da utilização das tecnologias de informação e comunicação. Há vários projetos em funcionamento e em implantação. Um deles, o News@work, está criando agências de notícias via rede nas comunidades do Pilar e de Peixinhos, onde quem faz as notícias são os próprios moradores, com base nas suas experiências de vida.

O instituto também abriu escolas de informática —uma na sua biblioteca e outra na favela do Pilar, na região do porto— para atender crianças, adolescentes e adultos das comunidades. As escolas têm computadores conectados à internet em alta velocidade. Além das aulas, em determinados horários, os espaços são utilizados como um infocentro para acesso público e gratuito.

Na biblioteca do instituto, que tem cerca de 6.000 livros, há, além dos serviços de consulta e empréstimo, oficinas de leitura coletiva e de interpretação de texto, frequentadas por cerca de 80 crianças e adolescentes da região.

O parque de Recife, que remete à lembrança de um dos principais pólos de tecnologia mundial, o Vale do Silício, na Califórnia, é hoje um símbolo de um setor cada vez mais representativo na economia do Estado, o de informática, que representa atualmente 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Segundo o diretor-executivo do núcleo de gestão do Porto Digital, Valério Veloso, 28, o objetivo é chegar a 10% do PIB pernambucano em dez anos. "Estamos voltados, hoje, não mais para o Nordeste, mas para os mercados nacional e internacional."

Saiba mais:
www.portodigital.org.br

     

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