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30/03/2004 - 03h05

Escrever roteiros não garante final feliz

BRUNO LIMA
free-lance para a Folha de S. Paulo

Cena um: o candidato a roteirista recebe a notícia de que o mercado procura ansiosamente por novos talentos. Corte para cena dois, em que o candidato deposita envelope com textos seus em uma caixa de correio. Cena final: o envelope surge em close —na lata do lixo.

Na platéia de uma palestra do novelista Sílvio de Abreu, 61, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, Adib Moysés Salomão Filho, 43, revela que conhece muito bem o script que termina com seu trabalho no lixo. Enquanto sonha com a televisão, o publicitário ganha a vida escrevendo textos para embalagens de brinquedos e para manuais de instruções de jogos de tabuleiro.

Com alguns roteiros escritos —nenhum deles produzido—, Salomão Filho aproveitou a palestra para se apresentar ao autor das novelas globais "Guerra dos Sexos" (1983), "Rainha da Sucata" (1990) e "A Próxima Vítima" (1995).

De acordo com Sílvio de Abreu, a Globo abrirá seleção para sua oficina de roteiristas ainda no segundo semestre deste ano —a informação "oficial" é a de que isso deve ocorrer apenas em 2005. O curso prepara profissionais para atuar no núcleo de dramaturgia da emissora. Segundo a Globo, durante a seleção (e somente nessa época), todos os textos recebidos são lidos.

Nas outras emissoras, as oportunidades são ainda mais escassas. Mas, como ressalta Marcílio Moraes, presidente da ARTV (Associação dos Roteiristas de Televisão, Cinema e Outras Mídias), o futuro pode trazer novidades: "Já há produtoras independentes. O mercado está se abrindo".

No cinema, as dificuldades não são menores. "Escrever longas-metragens ainda é um luxo para qualquer roteirista. Em geral, sobrevivemos escrevendo programas de TV e vídeos empresariais", declara Bráulio Mantovani, 40, indicado ao Oscar deste ano pelo roteiro adaptado do livro "Cidade de Deus", de Paulo Lins.

Mas não dá para desistir sem tentar. Os profissionais recomendam leitura de roteiros, estudo de teatro e persistência.

"Ver muitos filmes, ler livros sobre o assunto —tomando cuidado para não entender os manuais como fórmulas mágicas e infalíveis— e escrever e reescrever muitos roteiros", ensina Mantovani, que diz ter aprendido bastante elaborando roteiros educativos para programas de TV como "Telecurso 2000" e "X-Tudo".

Se a opção for fazer um curso, é fundamental tomar cuidado com os professores "oportunistas". "Há muitos cursos dados de forma irresponsável", lembra Marcílio Moraes, da ARTV.

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