25/05/2004
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03h10
MIT para todos
Liane Facciofree-lance para a
Folha de S.PauloOs alunos das universidades brasileiras têm neste ano uma fonte a mais de conhecimento disponível na internet. Desde setembro passado, qualquer interessado pode acompanhar o que se discute nas salas de aula do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, o prestigiado MIT. Desenhado para oferecer gratuitamente os conteúdos de cada uma de suas disciplinas, o MIT OCW (OpenCourseWare) é um programa que inclui desde a bibliografia indicada até trabalhos desenvolvidos pelos alunos.
De lá para cá, materiais didáticos de 700 disciplinas de cinco áreas de ensino do MIT (arquitetura e planejamento; engenharia; humanidades, artes e ciências sociais; ciências; e negócios) já foram publicados, e a meta é jogar na rede o total de cursos, cerca de 2.000, até 2007. Não apenas textos estão disponíveis no site, mas animações, vídeos e áudios usados na formação dos alunos, incluindo conferências de pesquisadores do instituto.
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MIT OCW http://ocw.mit.edu O programa torna acessível, via internet, o conteúdo da maioria dos cursos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts Contém os programas das disciplinas, incluindo orientações, bibliografias, conferências, vídeos, testes e até trabalhos feitos pelos estudantes. Já foram publicados materiais de 700 disciplinas É gratuito, mas não há interação com professores. Há, porém, um projeto piloto com sete cursos de interação entre usuários Pessoas em todo o mundo acessam o programa. Segundo pesquisa feita pelo próprio site, 13,1% são professores, 30,9% são estudantes e 51,6% se dizem "autodidatas"
MIT OCW (Universia Brasil) www.universiabrasil.net/mit O Universia é uma rede de portais que oferece conteúdo relacionado à educação em espanhol e em português, entre os quais a tradução dos materiais publicados no MIT OCW O portal já traduziu 54 disciplinas do MIT OCW O acesso é gratuito. É possível dar sugestões ao serviço de atendimento ao usuário O conteúdo interessa principalmente a professores e alunos de países latino-americanos e da península Ibérica com universidades que mantêm relação com o site
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Para quem não domina o inglês, uma parceria entre a instituição e o Universia —uma rede de portais educativos mantida pelo banco Santander— possibilita a mudança de idioma. Parte do material começa a ser traduzida para o português e para o espanhol —tudo o que não for vídeo e áudio nem for um site em outra língua indicado por um professor do MIT.
Segundo a diretora-geral do Universia Brasil, Maria Voivodic, a intenção, ao traduzir os conteúdos, é colaborar com "a democratização da informação e da educação". O Universia arca com os custos da tradução, em troca da exclusividade de oferecer os conteúdos em português e em espanhol. Até meados deste mês, 54 disciplinas já tinham sido traduzidas. O objetivo é prosseguir num ritmo de cinco por mês.
Em entrevista ao
Sinapse, Jon Paul Potts, diretor de comunicação do MIT OCW, afirma que o instituto não tem planos de trabalhar com ensino a distância e sugere que a intenção, com o lançamento do OpenCourseWare, é funcionar como um farol no universo da aprendizagem e do conhecimento. "Nós queremos que as pessoas utilizem o material em suas próprias salas de aula", afirma Potts. "Queremos colaborar com educadores de todas as partes do mundo para que aprimorem a forma como ensinam e ajudar no aprendizado dos alunos."
Internamente, Potts lida com os questionamentos da comunidade acadêmica a respeito da propriedade intelectual dos trabalhos publicados e oferecidos na rede. "Estamos tentando demonstrar que protegemos a propriedade intelectual da melhor maneira possível", diz Potts. "Só pedimos a quem utiliza o material publicado que, ao adaptar um trabalho, compartilhe o conteúdo refeito, dê crédito ao autor do texto original e não o utilize comercialmente."
No Brasil, o sofisticado acervo de conhecimento do MIT é recebido com aplausos. "Esse é um ato de generosidade de quem está por cima e não teme a concorrência", diz o economista Claudio de Moura Castro, presidente do conselho consultivo da Faculdade Pitágoras e ex-chefe da divisão de programas sociais do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Para Castro, o conteúdo oferecido pelo MIT OCW pode ser um grande instrumento de atualização para o professor. Segundo constatação do próprio MIT, 44% dos professores que usam o programa o fazem para preparar aulas, e 25%, para aprimorar os próprios conhecimentos.
Como membro do grupo de pesquisa em educação e comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o físico e doutorando em educação Jerônimo Freire, 42, avalia que o impacto na prática de ensino desses professores-usuários é inegável, mas considera seu alcance ainda uma incógnita.
Freire diz que a simples disponibilização das animações do MIT pode ampliar, por exemplo, o número de pessoas capazes de entender disciplinas como física, química e genética. Mas a melhora efetiva da forma de aprender não depende apenas do estímulo externo. Numa avaliação crítica, Freire identifica uma pitada de marketing na iniciativa: "Nos EUA, onde o ensino superior é extremamente competitivo, o MIT sai na frente e presta um serviço, garantindo-se na posição de instituição badalada, já que a internet é uma grande vitrine".
Na opinião de Freire, alunos e pesquisadores têm muito proveito a tirar do programa. "O que o MIT coloca na rede é fantástico, mas a educação ainda é uma atividade individual. O que se pode fazer é criar estágios de motivação, e o que o MIT está fazendo é isso."