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28/09/2004 - 03h06

Entrevista: Conselheiro educacional

Deborah Giannini
free-lance para a Folha de S.Paulo

Marcelo Soares/Folha Imagem
O consultor Tim Rogers
Ele é pago para dar conselhos que podem mudar o rumo de uma vida. O inglês Tim Rogers, 35, é consultor de educação internacional e diretor da QS World Grad School (www.topgraduate.com), feira de cursos de pós-graduação no exterior que passou por São Paulo em agosto. Apontar a universidade de maior prestígio, o curso mais adequado para a carreira e como se planejar para consegui-la são algumas das missões de Rogers.

Formado em estudos americanos pela Universidade de Hull, com mestrado em história da arte pela Universidade de Warwick, ambas no Reino Unido, Rogers estudou um ano (1989 a 1990) fora de seu país, na Universidade do Kansas (EUA), onde recebeu o prêmio Amsden Award de História da Arte.

Em 11 anos atuando na área de recrutamento de estudantes estrangeiros, Rogers passou por experiências curiosas. Por exemplo, esteve envolvido na admissão do filho de Muammar Gaddafi, ditador da Líbia desde 1969, no programa de Ph.D da London School.

Sinapse - Que curso você recomenda para quem tenta uma bolsa de estudos no exterior?
Tim Rogers -
Cada um deve escolher o programa mais adequado às suas ambições. Por exemplo, se você está procurando consolidação na área de negócios e administração, então o MBA é o curso certo. Se você não visa ao meio corporativo, o master é mais apropriado.

Sinapse - O que se deve levar em conta quando se escolhe um curso ou uma universidade?
Rogers -
É essencial avaliar a reputação da instituição, o país em que está e o custo. Também é interessante saber se você poderá trabalhar enquanto estuda. Se você objetiva estudar em umas das líderes em educação —para mim, Oxford, Cambridge, MIT, Harvard e Stanford—, um master vai custar de US$ 35 mil a US$ 55 mil por ano, mais despesas de moradia. Estudar na Austrália, no Canadá ou na Alemanha é mais barato, mas nenhuma das opções é gratuita.

Sinapse - O que diferencia modelos americanos e europeus?
Rogers -
Os sistemas europeus de educação têm diferentes abordagens. Universidades britânicas, por exemplo, favorecem aulas expositivas, sob a supervisão de um orientador, o que dá a oportunidade de aprendizado e desenvolvimento de opiniões sobre qualquer assunto. Nas americanas, prevalecem os módulos segmentados, o que é ideal para quem deseja consolidar o conhecimento sobre um tema específico. Atualmente, muitos masters na Europa têm apenas um ano de duração. Nos EUA, eles duram dois anos. No entanto, os cursos na Europa tendem a ir mais a fundo.

Sinapse - O prestígio de instituições australianas aumentou?
Rogers -
Muitas são de primeira classe. A Universidade de Sydney, por exemplo, tem bons centros de pesquisa em áreas como tecnologia da computação e Aids. A Austrália dispõe de taxas escolares acessíveis e de um excelente estilo de vida, além de uma pós-graduação reconhecida por empregadores no mundo inteiro. No ano passado, mais de 3.000 estudantes brasileiros passaram por universidades australianas.

Sinapse - Atualmente, pós-graduação não garante emprego nem promoção. Então qual é a função de um certificado desse tipo?
Rogers -
Na economia atual, nada é garantia de uma carreira de sucesso. Mas um MBA ou master pelo menos atribui a você uma vantagem sobre quem não dispõe dessas qualificações. Dá a você habilidades e experiências que muitos empregadores irão considerar atrativas. É raro encontrar um estudante que se candidate para um programa de pós-graduação apenas pelo prazer de estudar. Empregadores em todo o mundo estão procurando candidatos com habilidades adicionais e conhecimentos vindos de um curso de pós-graduação.

Sinapse - O que você recomenda a quem pretende concorrer a uma bolsa?
Rogers -
Ser organizado e obter o máximo de informação possível sobre todos os tipos de bolsa de estudos. Não basta economizar dinheiro. É preciso estar consciente dos prazos. Financiar estudos é um negócio complicado, requer pelo menos um ano de preparação. Às vezes, as inscrições para bolsa começam com um ano de antecedência e exigem que você já tenha começado o processo de inscrição para sua primeira opção de universidade. Você deve ver o que se espera de você e ser muito persistente. A não ser que você seja sortudo, será rejeitado em algumas bolsas, por isso é bom inscrever-se em vários programas.

Sinapse - O que pode desqualificar um candidato?
Rogers -
Se você for rejeitado, provavelmente não poderá candidatar-se novamente. Da mesma forma, se você fez uma graduação fora, poderá ser considerado por muitos programas de bolsa de estudos capaz de sustentar sozinho sua pós-graduação. Perder prazos também é uma razão muito comum de desqualificação.

Sinapse - É verdade que países que recebem estudantes estrangeiros não têm interesse em mantê-los ali após o fim de seus estudos?
Rogers -
Antigamente isso acontecia, mas não agora. Muitos países desejam reter o talento das universidades para contribuir em suas economias e melhorar sua habilidade de força de trabalho. Países como Reino Unido, Alemanha e Austrália têm tornado mais fácil para estudantes estrangeiros a permanência para trabalho após seus períodos de estudo. Antigamente, no Reino Unido, empresas tinham de demonstrar que um cidadão britânico não seria capaz de fazer um trabalho semelhante. Agora o estudante apenas tem de encontrar um emprego —a permissão de trabalho é garantida por dois anos.

     

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