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02/01/2002
-
14h16
da Folha de S.Paulo
Ele é menos famoso do que o de Copacabana, na zona sul. Atraiu menos gente e ainda lhe falta repercussão nacional. Todos esses ingredientes, no entanto, não tiraram o brilho do primeiro Réveillon do piscinão de Ramos (zona norte do Rio), o novo "point" do subúrbio carioca.
A presença ficou abaixo do esperado -esperava-se um público de 80 mil, mas, de acordo com a Polícia Militar, cerca de 25 mil pessoas curtiram a passagem do ano no piscinão. A queima de fogos, que durou 13 minutos, emocionou os presentes e surpreendeu pela sofisticação. O céu de Ramos foi iluminado por luzes de várias cores.
Ao contrário do que aconteceu em Copacabana, o público só foi elogios ao primeiro Réveillon do piscinão.
"Eu nunca vi fogos assim, me senti emocionada e até chorei. Nunca mais vou esquecer o que vi. Foi lindo. Sou de Santa Cruz da Serra [Baixada Fluminense] e vou vir todos os anos aqui em Ramos", disse a estudante Aguéssia Nascimento, 16.
A segurança também foi um ponto positivo na festa. Cerca de mil PMs cercaram todo o piscinão e não foi registrado nenhum incidente grave. Já o Corpo de Bombeiros teve mais trabalho. Atendeu 20 pessoas sendo que um homem, não identificado, se afogou nas águas do piscinão e foi levado de helicóptero para o hospital Miguel Couto (zona sul).
A maioria das pessoas estava acompanhada de suas famílias. Cadeiras de praia e cangas eram colocadas em meio à multidão. Pessoas, na maioria crianças, mergulhavam de roupa no piscinão. Apesar de não estarem proibidas, as tradicionais oferendas a Iemanjá não foram vistas no local.
Os shows foram o ponto alto do Réveillon de Ramos. Após curtir a Velha Guarda da Portela, Jamelão e o sempre irreverente Dicró, o público cantou e dançou com Elba Ramalho, que transformou o piscinão em uma grande pista de forró. A cantora paraibana entrou no palco logo após a queima de fogos e encerrou o show por volta das 2h. Além de cantar seus maiores sucessos, Elba também pediu paz em 2002 e homenageou Cássia Eller, morta no sábado, ao cantar "Malandragem".
"O povo sofrido e esquecido da zona norte do Rio de Janeiro merece essa festa. Ele também é filho de Deus. Me sinto honrada em estrear esse evento. Ele já é um sucesso", afirmou Elba.
O Réveillon de Ramos fez dois roqueiros caírem no samba. O estudante Max Sobral, 20 e o estoquista Odinei Aragão, 25, reclamaram da falta de shows de rock no novo point, mas sambaram o tempo todo no show do sambista Dicró.
"Infelizmente não rola rock. Tinha que ter espaço para todas as tribos. Samba também é bom. Só não pode ter funk", disse Aragão.
A dona-de-casa Elenita da Silva Almeida, 62, dançou o tempo todo com as músicas de Elba Ramalho. Ela, que teve dois filhos assassinados na praia de Ramos por causa da guerra do tráfico, disse que o Réveillon funcionou como uma espécie de desabafo. "A festa foi linda, maravilhosa mas a gente sente um grande aperto no coração", disse ela, moradora da favela Roquete Pinto, ao lado do piscinão, que é controlada pelo Terceiro Comando.
O motorista Paulo Tavares, 53, saiu de Vila Kennedy (zona oeste) para curtir o Réveillon na praia de Ramos, onde foi criado. Ele trouxe toda a família e disse que se sentiu emocionado com os fogos. "Nunca vi coisa igual. Foi exuberante. Aqui é minha raiz. O melhor de tudo é tranquilidade. O piscinão é maravilhoso", afirmou.
"Esse Réveillon é um milagre de Deus e ficará para sempre. Eu todo os anos passo a virada na praia de Ramos", afirmou o cantor Dicró, uma das atrações da festa.
As barraquinhas estavam cheias. Biquinis, bijouterias, pulseiras luminosas, churrasquinho, salsichão, manteiga de garrafa, carne com aipim, davam lucro para quem decidiu passar o Réveillon trabalhando. "Estou aqui todos os dias e faturo, em média, R$ 90. Até 1h30, já consegui R$ 200 e espero conseguir mais", disse o comerciante Dalmo dos Santos, 47.
O fotógrafo Inácio Godinho, 60, percorreu todos os cantos do novo "point" com uma bandeira pedindo paz. Para ele, a classe humilde da população carioca merecia uma festa como essa. "O povo do subúrbio não tem condições de ir para Copacabana. Para quem foi pisado o ano inteiro, trabalhou por um salário tão pequeno, uma alegria sim, mesmo que seja em apenas em um dia do ano, já é muito importante", afirmou.
O Réveillon de Ramos fez com que muita gente trocasse Copacabana pelo subúrbio. É o caso cabeleireiro Andressa Antones, 33, morador de Duque de Caxias (Baixada Fluminense). "Ramos é o melhor lugar do Rio e do Brasil. Aqui está o futuro", disse.
Anfitrião da festa, o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB) chegou ao local por volta das 23h. Ele foi acompanhado da mulher, Rosângela Matheus, e de sete de seus nove filhos. Pré-candidato à Presidência, ele não perdeu a oportunidade de usar a festa para alfinetar seus concorrentes.
"Esse Réveillon mostra o compromisso com o povo. Enquanto o Lula está em Búzios, o José Serra em Paris e o Fernando Henrique com fazendeiros, eu estou aqui ao lado do povo", disse.
O ministro da Cultura, Francisco Weffort fez questão de prestigiar o primeiro Réveillon do piscinão de Ramos. Ele disse que a festa ajudará a democratizar a cultura do Rio. "A grande conquista será fazer com que o povo da zona norte do Rio venha para cá. Atividades culturais são uma forma de proteger as pessoas da violência. Foi um ato em favor da paz", afirmou.
Para realizar o primeiro Réveillon do piscinão, o Governo do Rio precisou de R$ 500 mil. Metade da verba foi repassada pelo Ministério da Cultura.
O piscinão de Ramos foi inaugurado em 16 de setembro e serviu como alternativa à despoluição da baía de Guanabara. A obra, orçada em R$ 18,4 milhões, está sendo investigada pelo Ministério Público que apura se o governo estadual utilizou recursos do Fecam (Fundo Estadual de Controle Ambiental), o que é proibido por lei.
Um novo piscinão deverá ser inaugurado em março, no bairro do Cocotá, na Ilha do Governador (zona norte).
Leia mais notícias sobre Réveillon
Público elogia Réveillon do piscinão de Ramos, no Rio
MARIO HUGO MONKENda Folha de S.Paulo
Ele é menos famoso do que o de Copacabana, na zona sul. Atraiu menos gente e ainda lhe falta repercussão nacional. Todos esses ingredientes, no entanto, não tiraram o brilho do primeiro Réveillon do piscinão de Ramos (zona norte do Rio), o novo "point" do subúrbio carioca.
A presença ficou abaixo do esperado -esperava-se um público de 80 mil, mas, de acordo com a Polícia Militar, cerca de 25 mil pessoas curtiram a passagem do ano no piscinão. A queima de fogos, que durou 13 minutos, emocionou os presentes e surpreendeu pela sofisticação. O céu de Ramos foi iluminado por luzes de várias cores.
Ao contrário do que aconteceu em Copacabana, o público só foi elogios ao primeiro Réveillon do piscinão.
"Eu nunca vi fogos assim, me senti emocionada e até chorei. Nunca mais vou esquecer o que vi. Foi lindo. Sou de Santa Cruz da Serra [Baixada Fluminense] e vou vir todos os anos aqui em Ramos", disse a estudante Aguéssia Nascimento, 16.
A segurança também foi um ponto positivo na festa. Cerca de mil PMs cercaram todo o piscinão e não foi registrado nenhum incidente grave. Já o Corpo de Bombeiros teve mais trabalho. Atendeu 20 pessoas sendo que um homem, não identificado, se afogou nas águas do piscinão e foi levado de helicóptero para o hospital Miguel Couto (zona sul).
A maioria das pessoas estava acompanhada de suas famílias. Cadeiras de praia e cangas eram colocadas em meio à multidão. Pessoas, na maioria crianças, mergulhavam de roupa no piscinão. Apesar de não estarem proibidas, as tradicionais oferendas a Iemanjá não foram vistas no local.
Os shows foram o ponto alto do Réveillon de Ramos. Após curtir a Velha Guarda da Portela, Jamelão e o sempre irreverente Dicró, o público cantou e dançou com Elba Ramalho, que transformou o piscinão em uma grande pista de forró. A cantora paraibana entrou no palco logo após a queima de fogos e encerrou o show por volta das 2h. Além de cantar seus maiores sucessos, Elba também pediu paz em 2002 e homenageou Cássia Eller, morta no sábado, ao cantar "Malandragem".
"O povo sofrido e esquecido da zona norte do Rio de Janeiro merece essa festa. Ele também é filho de Deus. Me sinto honrada em estrear esse evento. Ele já é um sucesso", afirmou Elba.
O Réveillon de Ramos fez dois roqueiros caírem no samba. O estudante Max Sobral, 20 e o estoquista Odinei Aragão, 25, reclamaram da falta de shows de rock no novo point, mas sambaram o tempo todo no show do sambista Dicró.
"Infelizmente não rola rock. Tinha que ter espaço para todas as tribos. Samba também é bom. Só não pode ter funk", disse Aragão.
A dona-de-casa Elenita da Silva Almeida, 62, dançou o tempo todo com as músicas de Elba Ramalho. Ela, que teve dois filhos assassinados na praia de Ramos por causa da guerra do tráfico, disse que o Réveillon funcionou como uma espécie de desabafo. "A festa foi linda, maravilhosa mas a gente sente um grande aperto no coração", disse ela, moradora da favela Roquete Pinto, ao lado do piscinão, que é controlada pelo Terceiro Comando.
O motorista Paulo Tavares, 53, saiu de Vila Kennedy (zona oeste) para curtir o Réveillon na praia de Ramos, onde foi criado. Ele trouxe toda a família e disse que se sentiu emocionado com os fogos. "Nunca vi coisa igual. Foi exuberante. Aqui é minha raiz. O melhor de tudo é tranquilidade. O piscinão é maravilhoso", afirmou.
"Esse Réveillon é um milagre de Deus e ficará para sempre. Eu todo os anos passo a virada na praia de Ramos", afirmou o cantor Dicró, uma das atrações da festa.
As barraquinhas estavam cheias. Biquinis, bijouterias, pulseiras luminosas, churrasquinho, salsichão, manteiga de garrafa, carne com aipim, davam lucro para quem decidiu passar o Réveillon trabalhando. "Estou aqui todos os dias e faturo, em média, R$ 90. Até 1h30, já consegui R$ 200 e espero conseguir mais", disse o comerciante Dalmo dos Santos, 47.
O fotógrafo Inácio Godinho, 60, percorreu todos os cantos do novo "point" com uma bandeira pedindo paz. Para ele, a classe humilde da população carioca merecia uma festa como essa. "O povo do subúrbio não tem condições de ir para Copacabana. Para quem foi pisado o ano inteiro, trabalhou por um salário tão pequeno, uma alegria sim, mesmo que seja em apenas em um dia do ano, já é muito importante", afirmou.
O Réveillon de Ramos fez com que muita gente trocasse Copacabana pelo subúrbio. É o caso cabeleireiro Andressa Antones, 33, morador de Duque de Caxias (Baixada Fluminense). "Ramos é o melhor lugar do Rio e do Brasil. Aqui está o futuro", disse.
Anfitrião da festa, o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB) chegou ao local por volta das 23h. Ele foi acompanhado da mulher, Rosângela Matheus, e de sete de seus nove filhos. Pré-candidato à Presidência, ele não perdeu a oportunidade de usar a festa para alfinetar seus concorrentes.
"Esse Réveillon mostra o compromisso com o povo. Enquanto o Lula está em Búzios, o José Serra em Paris e o Fernando Henrique com fazendeiros, eu estou aqui ao lado do povo", disse.
O ministro da Cultura, Francisco Weffort fez questão de prestigiar o primeiro Réveillon do piscinão de Ramos. Ele disse que a festa ajudará a democratizar a cultura do Rio. "A grande conquista será fazer com que o povo da zona norte do Rio venha para cá. Atividades culturais são uma forma de proteger as pessoas da violência. Foi um ato em favor da paz", afirmou.
Para realizar o primeiro Réveillon do piscinão, o Governo do Rio precisou de R$ 500 mil. Metade da verba foi repassada pelo Ministério da Cultura.
O piscinão de Ramos foi inaugurado em 16 de setembro e serviu como alternativa à despoluição da baía de Guanabara. A obra, orçada em R$ 18,4 milhões, está sendo investigada pelo Ministério Público que apura se o governo estadual utilizou recursos do Fecam (Fundo Estadual de Controle Ambiental), o que é proibido por lei.
Um novo piscinão deverá ser inaugurado em março, no bairro do Cocotá, na Ilha do Governador (zona norte).
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