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09/09/2002 - 20h02

Para especialista, aviões mudarão pouco

da Folha de S.Paulo

"Apesar do controle de passageiros ter avançado nos aeroportos, cada companhia aérea está tomando medidas diferentes" é o que diz Ernesto Klotzel. Para ele, apesar dos atentados de 11 de setembro, "o jato comercial do futuro já está no ar e a aviação não vai mudar significativamente".

Engenheiro elétrico, Klotzel, 75, trabalhou nos EUA na Hiller Helicopters, em Palo Alto, Califórnia, e, depois, na extinta Real Aerovias Brasil -onde chefiou os engenheiros de vôo dos Super Constelation e dos jatos Convair-990. Hoje atuando como jornalista especializado em aviação, ele concedeu a seguinte entrevista à Folha:

DIFERENÇAS - "A bordo, as companhias aéreas estão tomando providências diferentes com relação a medidas antiterror. Mas, principalmente nos EUA, há uma melhora significativa no controle dentro dos aeroportos, que é, este sim, padronizado. A implantação dessas modificações, originalmente prevista para ocorrer até 31 de dezembro, deve, contudo, sofrer um adiamento, pois são bastante complexas nos principais aeroportos norte-americanos, que estão se reequipando. Até pouco tempo, a segurança nos aeroportos dos EUA era terceirizada. Mas, testada depois dos atentados, ela se mostrou vulnerável: houve caso de pessoas entrarem com armas nos aviões e, então, se decidiu substituir o pessoal terceirizado por funcionários públicos -e essa contratação de pessoal gerou gastos enormes."

RADARES - "Uma mudança padrão que deve ocorrer dentro dos aviões é com relação à não possibilidade de desligamento do sistema que, no radar dos aeroportos, mostra a posição do avião ('transponder'). Agora, o avião não vai deixar de ser visível nas telas dos radares de solo."

CARGA - "Outro problema a ser equacionado tem relação com a vigilância da carga que vai no porão dos aviões. Ainda não é possível examinar a carga quanto à presença de alguns explosivos, que poderiam ser detonados por controle remoto, por exemplo. Tem alguns equipamentos caríssimos, que se baseiam em análise computadorizada, feitas pela firma InVision, mas essas máquinas são enormes, custam algo como US$ 1 milhão cada uma (e dá para contar nos dedos de uma mão os aeroportos que têm esse equipamento). O problema é, em resumo, mais dinheiro, pois a tecnologia existe, mas custa caro, não será implantada em pouco tempo."

PALIATIVO - "Todo o resto, portas blindadas entre a cabine dos pilotos e os passageiros, armas elétricas, são medidas paliativas. Nada substitui a filtragem bem-feita do passageiro que embarca. Mas esse check in não pode apenas irritar o passageiro."

AVIÃO DO FUTURO - "O que se discute são melhorias. Não creio que os jatos comerciais do futuro sejam diferentes -os aviões de amanhã já estão no ar. Nas linhas de montagem, a novidade prestes a decolar é o gigante A-380 do consórcio europeu Airbus, para 550 pessoas, com três andares, maior que o Boeing-747, o Jumbo. Esse novo Airbus será um monstro, com dois andares e um porão habitável, com lojinhas. O Boeing-747, que é enorme, leva cerca de 400 pessoas em três classes. Outro avião do futuro é o Boeing-777, que leva 300 passageiros. O Sonic Cruiser, supersônico, é, por enquanto, apenas um exercício de pensar a tecnologia."

"BIOMETRICS" - "Também devemos evoluir para a situação do passageiro frequente que se matricula junto à empresa aérea, tendo a impressão digital ou a sua íris checada, como identificação pessoal para embarcar mais rápido."

DETETORES - "Os portais evidentemente serão mais sofisticados, com detetores que vão além do raio-X e do magnético. Haverá um aspirador especial, como um aspirador de pó, que vai pegar quantidades minúsculas que serão analisadas imediatamente, vendo se a pessoa teve contato com pólvora ou com alguma substância proibida."

PERGUNTAS - "Aquele questionário padrão deverá ser substituído por perguntas mais inteligentes -como a empresa aérea israelense El-Al faz. Obviamente isso pode incorrer em atitudes vistas como discriminatórias."

SEPARAÇÃO - "Acho inviável, fantasioso, a separação total do piloto, que não pode ficar enclausurado. Implica modificar o avião, fazer porta para o casulo do piloto. É quase impossível mudar estruturalmente os aviões e há ainda o problema do banheiro. A proposta não é prática."

COMANDO - "Há outra discussão em torno de um dispositivo que, acionado, daria o controle do avião para alguém em terra, como ocorre com aviões não-tripulados sofisticados. O piloto não poderia retomar os comandos."

PORTA - "A famosa porta reforçada entre o piloto e a cabine de passageiros, de "kevlar" (fibra sintética) resistente a tiros, já está em vigor em algumas companhias, mas ela suporta apenas tiros de pequeno calibre. Se o sujeito tiver uma bazuca escondida no carrinho de comida, a porta não adianta. Ela pode ser completamente fechada, hermética, porque, se houver problema de despressurização, estourar um vidro, haverá pressão dentro do cockpit dos pilotos -e uma força de 1 tonelada/m² iria arrancar a porta completamente. A tal porta precisa ter pontos fracos para quebrar numa emergência."

ARMAS - "Policiais à paisana dentro dos aviões, os "sky marshals" (oficiais do espaço), são usados na El-Al. Há companhias que estão treinando pessoas assim, que usariam armas com balas de menor velocidade, que não atravessariam o sujeito e, assim, não acertariam outro passageiro e não seriam tão violentas com relação à fuselagem do avião."

TIRO - "Não há problema sério se a fuselagem for perfurada por uma bala -a própria Boeing diz isso. Mas a despressurização, que não vai fazer o avião se desfazer, implicará desconforto para o passageiro. Quando isso ocorre, a cabine fica fria, há condensação de ar, fumaça densa, não se enxerga nada. Tudo o que está dentro do avião voa, caem as máscaras. Alguém que esteja perto de um vidro quebrado pode ser jogado contra a moldura do avião, o que é perigoso, a pessoa pode bater a cabeça."

ALPA - "O Stephen Luckey, chefe de segurança da Air Lines Pilots Association (Alpa), que reúne pilotos comerciais norte-americanos, analisa as medidas e o uso de armas. Sob consideração também está o "teaser", a pistola elétrica já usada por algumas forças policiais. Mas trata-se de uma arma grandinha e de difícil manejo, que descarrega 30 ou 40 mil volts, eletrocuta sem matar. Atingido, o sujeito tem um espasmo e cai."

PILOTOS ARMADOS - "Até julho de 2001, não havia lei que proibisse um piloto de portar a sua arma. Muitos o fizeram e, mesmo nos primórdios da aviação, isso era comum. Veio a proibição, mas agora houve uma volta atrás, com o Senado dos EUA aprovando, na última quinta-feira, que os pilotos usem arma. Não foi um recuo puro e simples: o piloto será examinado para ver se tem condições psíquicas, se está apto fisicamente e se tem condições de manejar a arma bem. Será avaliado até se ele tem problema econômico, se não é "corruptível". Os pilotos serão treinados e só os que têm talento para atirar andarão armados."

CÂMERAS - "O monitoramento por câmeras não é problema. Já tem empresas fazendo isso, observando o interior do avião. Esse expediente também ajuda no caso de passageiro com comportamento agressivo, o chamado "air rage" (fúria aérea), pois a câmera ajuda a mostrar o que ocorreu."

DANO - "Outro aspecto a ser pensado, com relação à utilização de aviões de carreira como mísseis por terroristas, é que um avião leve, usado para linhas "regionais", não é o "ideal" para um atentado. O dano causado por seu impacto é pequeno, ele leva pouco combustível. Já houve caso de avião preso no prédio que matou só o piloto, logo depois da Segunda Guerra (1939-45), num choque contra o Empire State Building, em Nova York. O avião ficou com a cauda pendurada."

TORRES GÊMEAS - "As torres gêmeas do World Trade Center poderiam possivelmente, pelas suas especificações, aguentar até um impacto de um Boeing-737, que leva em torno de 120 pessoas. Mas, ao que parece, os terroristas calcularam inclusive isso e usaram Boeings-767 (para cerca de 200 passageiros), que estavam com bastante combustível. Acredito que se concentraram nesses aviões em função do impacto e do tanque cheio. Só que não acredito muito na perícia dos pilotos-terroristas, que pegaram os jatos já decolados e nivelados, dizendo aos pilotos que iriam voltar, que se tratava de um sequestro."

SURPRESA - "Duvido que terroristas conseguissem refazer atentados como os de 11 de setembro. Eles usaram como armas coisas que passavam na bagagem de mão, foram rápidos e cruéis, agiram na base do pavor, as pessoas não estavam preparadas. É o caso de pensar: que defesa temos contra alguém disposto a matar e a morrer?" (SILVIO CIOFFI)

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