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03/05/2004 - 02h38

Paisagem endurecida da Patagônia convida ao torpor

VINCENZO SCARPELLINI
do enviado especial da Folha de S.Paulo à Patagônia

Em alguns locais é possível perceber que, se a Terra é circular, sem início nem fim, ao menos o mundo, como construção dos homens, delimita suas margens. São lugares em que a natureza se endurece até a hostilidade: mais que um objeto de contemplação, torna-se um poder universal oposto à independência humana e, por isso mesmo, um severo desafio.

Vincenzo Scarpellini/Folha Imagem

Sobreposição de mar, geleiras e céu cria uma gama de tonalidades patagônicas únicas


James Cook, o mais famoso navegador inglês do século 18, escreveu em seus diários que, se não fosse pelo prazer que naturalmente o homem prova ao ser o primeiro descobridor de algum lugar, mesmo para se deparar com nada mais que areia e aridez, esse tipo de missão seria insuportável.

Na época em que Cook passou pelo triângulo austral, ainda havia muito para explorar, e a região já tinha sido cenário de prodigiosas aventuras e território cobiçado pelas cortes européias.

Hoje, a bordo de um navio moderno imerso em sua auréola tecnológica, cruzar o estreito de Magalhães --uma "passagem secreta" ligando os oceanos Atlântico e Pacífico-- parece uma façanha agradavelmente óbvia. O difícil é não pensar nos riscos e obstáculos que os antigos navegantes precisaram vencer durante o percurso.

Fernão de Magalhães foi o primeiro e o maior navegante de todos que chegaram até aqui. Na primavera do 1520, descobriu a passagem e a batizou "estreito de Todos os Santos". Para a terra a norte do estreito inventou o nome "Patagônia", para aquela ao sul, "Terra do Fogo". Com o tempo, o estreito recebeu seu nome e toda a região foi dita "magalânica".

A expedição durou três anos, partiu de Sevilha, seguiu pelo Atlântico, saiu no Pacífico (outro nome dado por Magalhães), passou pelas Índias e voltou para a Espanha: foi a primeira vez que o homem circunavegava o mundo.

A maior das cinco embarcações de Magalhães pesava 160 toneladas, isto é, 16 vezes menos que o Mare Australis, navio com bandeira chilena que hoje leva seus passageiros por essas latitudes até o cabo Horn, a ponta de terra mais próxima à Antártida.

Ele faz cruzeiros de Punta Arenas a Ushuaia e vice-versa, avançando pelo estreito de Magalhães, a partir de setembro e rotas que iniciam e acabam em Ushuaia, passando pelo cabo Horn, estas ainda com saídas neste fim de temporada.

Na luz transparente e sutil, desfilam colinas arredondadas, picos pontiagudos e glaciais azuis. Trata-se de uma paisagem essencial, que não tolera os caprichos, os equívocos ou as inquietudes dos trópicos. Transmite uma paz que dá até um pouco de medo. Medo de deslizar, languidamente, num torpor definitivo. Mas isso acontece apenas dentro do navio: para mudar de idéia, basta ir para a área aberta e experimentar o frio e o vento que, a 90 km/h, ainda é chamado, aqui, de brisa marinha.

Levando em conta a profundidade da água, que varia de 1.000 m a 4.000 m, e observando a infinidade de enseadas, baías, fiordes, bancos de areias e falsas passagens, surpreende que Magalhães tenha conseguido atravessar o estreito em apenas 33 dias.

Nos séculos seguintes, muitos navios naufragaram tentando passar ali. O próprio Magalhães perdeu uma embarcação de sua expedição, a Santo Antonio. Mas a perda foi por deserção: o capitão encarregado de explorar o braço de um canal fugiu para a Espanha.


Vincenzo Scarpellini viajou a convite da Nascimento Turismo, da LAN (LanChile), do hotel Park Plaza e da Cruceros Australis.


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